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Coluna do W.O.

Paulistano que virou carioca: parte 1

08.11.21

Na coluna da página 3 do Globo do dia 25 de outubro, pedi aos leitores que me ajudassem sugerindo temas sobre os quais eu pudesse escrever aqui.

Não comentei que tipo de tema elegeria, apenas estava sinceramente curioso sobre a reação dos leitores. Recebi centenas de sugestões, mas recebi principalmente comentários e insinuações de gente questionando “como um paulista bem-sucedido como eu conseguia gostar tanto do Rio de Janeiro?” e “que tipo de interesse existe por trás dessa minha paixão pelo Rio?”.

Como o tema é longo, resolvi comentá-lo, a partir de hoje, em três diferentes textos que, somados, virarão um só.
Nasci na cidade de São Paulo, no bairro da Lapa, que não é o ponto maior do mapa como a Lapa do Herivelto Martins, mas também tem seus méritos.

Fui criado entre os bairros do Tatuapé e da Aclimação, estudei com as freiras do Educandário Espírito Santo e com os padres do Colégio Agostiniano São José. Fingi que estudei com os professores do Colégio Paes Leme, na esquina da Avenida Paulista com a Rua Augusta, a rua que inventou os Jardins e os primeiros playboys de São Paulo, imortalizados na canção de Ronnie Cord, "Entrei na Rua Augusta a 120 por hora / Botei a turma toda do passeio pra fora / Fiz curva em duas rodas sem usar a buzina / Parei a quatro dedos da vitrina."

Na adolescência, por adorar sair com meu pai, um vendedor de pincéis que rodava a cidade inteira visitando os depósitos de materiais de construção, acabei conhecendo São Paulo de cabo a rabo. De Itaquera ao Morumbi.

No início da juventude, aos 18 anos, passei em três vestibulares e me matriculei em duas faculdades: Comunicação na FAAP e Psicologia na USP. Matava aulas das duas; preferia passar meu tempo lendo e ouvindo música, mas de vez em quando assistia a umas palestras na Faculdade de Sociologia e Política, onde acabei arrumando uma namorada seis anos mais velha, o que me motivou a trabalhar, porque passei a achar uma vergonha “um homem de 18 anos de idade, como eu, namorando uma senhora de 24 anos de idade, como ela” viver de uma mesada típica de um garoto de classe média, bem média, daqueles cujo pai faz os maiores sacrifícios para que o menino estude em bons colégios e dê certo na vida.

Fui estagiar para ser criador de publicidade — era o que eu queria fazer desde sempre —, porque misturava escrever (coisa de que desde a infância eu já gostava muito) com vender (coisa que meu pai fazia e eu admirava).
Deu certo e foi rápido, tanto que acabei contratado depois de um mês de estágio e comecei a ganhar prêmios internacionais já a partir dos 19 anos.

Logo depois, coisas ainda melhores começaram a acontecer na minha vida: virei nome de prato no Rodeio, o mais badalado restaurante da cidade de São Paulo, e fui um dos criadores da Democracia Corintiana, movimento que acabou eternizado na história do futebol mundial.

Confesso que, naquela época, diante de tantas coisas especiais que me aconteciam, passei algum tempo me sentindo um privilegiado, um predestinado.

No mínimo, o mais sortudo dos paulistanos e o mais abençoado dos corintianos.

Mas não imaginava que, sendo tão paulistano e tão corintiano, anos depois eu pudesse virar também cidadão carioca, sem ser Flamengo nem ter uma nega chamada Tereza. Oficialmente, virei cidadão carioca em 2010.

O fato aconteceu graças ao Zuenir Ventura, que sugeriu meu nome para a vereadora Andrea Gouvêa Vieira.
Assim, no dia 26 de agosto daquele ano, no Auditório Teotônio Vilela, da Câmara Municipal, recebi o Título de Cidadão Honorário do Município do Rio de Janeiro.

Confesso que gostei de ser homenageado naquele auditório que leva o nome de um dos maiores responsáveis pela anistia ampla, geral e irrestrita no Brasil.

Washington Olivetto
Publicitário

washington@washingtonolivetto.com.br

Texto publicado no jornal O Globo

Leia texto anterior da Coluna do W.O., aqui.

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