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Festival do Clube 2018

Idas e voltas: desafios de quem se aventurou lá fora

23.09.18

O êxodo de criativos brasileiros rumo a outros países é algo observado com atenção pelo Festival do Clube de Criação. Fenômeno que se manifesta de forma mais intensa em épocas em que os cenários político e econômico no Brasil estão menos favoráveis, a busca por oportunidades fora daqui é algo recorrente. Mas outro movimento também detectado é o retorno de alguns desses profissionais ao país, trazendo na mala uma experiência imersiva de vida, que abre novos olhares e percepções, que podem ajudar a enriquecer a indústria publicitária brasileira.

Esse foi o tema da mesa "Por que fui, por que voltei e como estão as coisas por aqui", conduzido por Laís Prado, curadora do Festival do Clube de Criação e editora do Clubeonline, que abriu o debate dizendo que era fácil mediar o painel, não só pelo time de craques presente, mas também porque a mesa “já vem com as perguntas embutidas no título”. “Até inteligência artificial poderia fazer essa mediação”, brincou.

A proposta da discussão era oferecer um panorama sobre a receptividade dos criativos brasileiros em outros países, sobre a mudança de perfil do que se espera desses profissionais e sobre os motivos que fizeram com que eles fossem e voltassem.

Entre os “desbravadores” - aqueles que saíram do Brasil mais cedo - estão Laura Esteves, diretora de criação da Young & Rubicam, e Fabio Seidl, executive creative director da Velocity/NY, que deixaram o país em 2003 e 2004, respectivamente.

Quando fui para Nova York foi um tempo pré-Facebook, pré-Linkedin, não tinha uma rede de apoio entre nós - isso deve facilitar para quem quer sair hoje", comentou Laura. "Fiquei um mês durante as férias, sentindo como era minha interação com o ambiente, com a cidade. Acho muito bom quem puder fazer um teste antes, ver como se relaciona no ambiente e com a cidade. Recomendo muito”, aconselhou.

Seidl lembrou que, no dia em que decidiu ir para Portugal, em 2004, explodiram um ônibus bem na porta de sua casa, no Rio de Janeiro. “Decidi que tinha que ir embora de lá. Cheguei à agência em que eu trabalhava e disse para o meu dupla: ‘vamos para Portugal’. Ele brincou: ‘mas tem agência de propaganda lá?’”, contou. “Acabei indo trabalhar lá, na McCann. Em 2007, voltei ao Brasil – quando o país estava vivendo um bom momento. Nizan estava voltando para a criação da Africa e eu queria ter a oportunidade de trabalhar com esse grande nome”, justificou.

Ao falar sobre esse movimento, Seidl apresentou uma dica: trabalhar com gente muito boa no Brasil antes de sair daqui, crescendo profissionalmente em tudo que pode ser desenvolvido no país, para realmente fazer a diferença lá fora. “Nessa minha volta, trabalhei com o Nizan, em seguida, com o Washington e depois com o Anselmo Ramos, na Ogilvy. Isso me credenciou para voltar a sair do país, rumo à Leo Burnett em Chicago”, acrescentou o criativo, único dos debatedores que continua vivendo fora.

A decisão de Fabio Simões, executive creative director da FCB Brasil, exigiu mais tempo dele para ser concretizada. O criativo não saiu correndo do Brasil logo no início de carreira, deixando o país em 2010, bem depois que muito talento nativo da área digital, como PJ Pereira e Paulo Sanna, já tinham partido para novas fronteiras. "Eu gostava muito de trabalhar na F/Nazca. Demorei para achar lugar que me desse tanta oportunidade quanto tinha aqui. Quando encontrei, e decidi ir para Saatchi em Los Angeles, foi assim: casei numa noite e peguei o avião com minha esposa no dia seguinte", relatou.

Além das dificuldades já esperadas em começar a atuar numa cultura diferente e com o novo status de "casado", Simões enfrentou a saída do ECD e de três diretores de criação que estavam na agência, apenas um mês depois da sua chegada. “Ou seja, passei por outra barreira. Vim de digital e já assumi o cargo de DC integrado, um desafio bem maior do que eu esperava”.

Diego Machado, fundador e diretor de criação da AKQA São Paulo, também saiu do país em 2010, rumo à Crispin Boulder. “Foi um período curto, temporário, mas minha primeira impressão foi muito boa”, resumiu. Lá, ele recebeu um e-mail de Rafael Donato e Anselmo Ramos para voltar para São Paulo e trabalhar na Ogilvy. Retornou. Antes de abrir a AKQA, Machado passou um período conhecendo os escritórios internacionais da agência. “Aprendi muita coisa legal, mas também o que tem de ruim lá fora. Muita gente tem a ilusão de que, se pagar em dólar, tudo funciona, mas existe muita coisa ruim também. Tem os prós e os contras”, disse.

Wilson Mateos, vice-presidente de criação da Leo Burnett Tailor Made, partiu do Brasil mais recentemente, em 2015. E fez uma revelação: “esta sala dá sorte. Há três anos, eu estava ouvindo a Luciana Ceccato falar exatamente aqui sobre o êxodo criativo e assinei minha ida para fora do Brasil aqui, no Jardim (das Goiabeiras, na Cinemateca), durante o Festival”, relatou.

Mateos, que imaginava que nunca sairia do Brasil por ter dois filhos adolescentes de seu primeiro relacionamento, foi para 180 Los Angeles e depois para a David & Goliath. “Em 2015, eu não estava feliz no trabalho, o país estava em crise, o que significava não ter muita chance de mudar de empresa. Então fui para Los Angeles. Mas isso destruiu minha saúde, tomei ansiolítico por um período”, confessou. “Depois, me encontrei na David & Goliath. Estava super feliz lá, mas veio o convite da Leo Burnett para voltar ao Brasil e somada à crise existencial dos filhos adolescentes, decidi retornar”.

A maioria dos participantes da mesa citou o preconceito que brasileiros sofrem ao trabalhar em outros países. “Você pode dar sorte de criar para um cliente que goste de ter um talento internacional pensando para comunicação dele. Mas muita gente diz: 'o que é que que esse cara está fazendo na minha conta? Quero um americano, que entenda as piadas americanas'”, citou Seidl. “No exterior, você vive um recomeço, é visto só como outra pessoa que fala inglês mal”, completou Mateos.

Para ilustrar o tipo de intolerância que o brasileiro tem de lidar no exterior, Seidl contou uma historinha que resume bem o ponto. O criativo disse que, em Portugal, sofria muito porque todos diziam que ele não falava o português de lá. Ele garantiu que lia de tudo, assistia e ouvia muita programação local e mergulhava no consumo de mídias para ter uma maior imersão cultural, mas sempre que entregava algum trabalho, a resposta que ouvia era: “isso está muito brasileiro”.

"Então, fiz o seguinte: entreguei uma ideia e pedi para um redator português, o mais antigo da agência, escrever um roteiro para mim. E ele fez. Aí entreguei para meu chefe ler. E ele respondeu: ‘está muito brasileiro ainda’”, narrou. Por fim, Seidl revelou que havia sido o criativo português quem tinha escrito, que confirmou a informação. E a resposta do chefe: “Para de andar com brasileiro, você está pensando muito como brasileiro”, arrematou o ECD da Velocity NY.

Valéria Campos

SERVIÇO:

Festival do Clube de Criação

Quando: Setembro, 22, 23 e 24 - 2018 - sábado, domingo e segunda-feira

Local: Cinemateca Brasileira - São Paulo – Brasil

Largo Senador Raul Cardoso, 207, Vila Clementino

Hosted by: Clube de Criação

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Transporte oficial: Cabify

Temos serviço de Shuttle para quem quiser estacionar no Hotel Pullman Ibirapuera
Horário: das 8h30 às 22h30
Trajeto: Pullman / Cinemateca / Pullman
Tarifa especial para o Festival: R$ 35 o período

Abertura dos portões e do Credenciamento: sábado às 8h30. Domingo e segunda: às 9h

Festival do Clube 2018

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