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Los Angeles e a indústria

Por Marco Carvalho*

17.05.10

Planejei a minha vinda para Los Angeles por mais de um ano. Depois que a minha namorada topou a aventura, tudo ficou mais fácil. Porém, a questão da grana ainda me tirava o sono. Meu objetivo era cursar pós-graduação em direção cinematográfica - um dos cursos mais caros da universidade - e por este motivo eu estava me preparando para encarar tudo que viesse pela frente para pagar os estudos.

Tive muita sorte de encontrar uma oportunidade, logo no início. Era uma agência especializada em mídia externa - e, mesmo com meu inglês capenga das duas pernas - consegui o emprego sem grandes dificuldades. A empresa ficava em Hollywood e, por isso, não foi como turista que eu conheci a calçada da fama. Passar diariamente por estrelas como Ray Charles, Charlie Chaplin e Kubrick faz qualquer mãe ficar orgulhosa. E não era diferente com a minha.

Lá dentro, a história era um pouco diferente. Tenho que ser sincero aqui: não entendia quase nada do que eles me falavam e/ou pediam. A desorganização era muito grande e os primeiros meses foram infernais. Eu recebia uma grande quantidade de briefings por telefone ou em bilhetes post-it - o que me fazia até ter saudade daquela assistente de atendimento recém-saída da faculdade, cheia de empolgação, que todas as agências têm.

Depois de mais de um ano lá dentro, já chefe do departamento e com o idioma muito mais dominado, tive que sair para me focar nos estudos. A parte prática do curso já tinha começado e meu tempo (e minha cabeça) estava muito mais voltado para meu principal objetivo aqui: dirigir filmes. O pé-de-meia estava feito e o sonho de infância de comprar um Porsche já tinha sido realizado. Então, era hora de sair.

Completamente focado no cinema, comprovei algumas verdades sobre a cidade: Los Angeles não é chamada de meca do cinema por acaso, a lenda de que toda garçonete de Hollywood tem um script no bolso não é mentira e você VAI SIM encontrar o Kevin Bacon, mais cedo ou mais tarde.

A cidade respira o cinema. Aqui, tem muita gente envolvida com produção cultural e de entretenimento - trabalhando não só para o cinema, mas como também para o rádio, TV e propaganda. Para rodar um comercial, por exemplo, é fácil montar uma equipe da noite para o dia, assim como alugar os melhores equipamentos e achar grandes talentos - seja qual for o seu orçamento. Me lembro que no início do meu curso, um dos exercícios era reproduzir uma cena do filme "Bruce Almighty". Precisando de atores, postei um anúncio na internet - estava com um pouco de vergonha por não oferecer nenhum centavo como pagamento. Mas, para minha surpresa, ao voltar do almoço vejo 85 respostas no meu email, devidamente acompanhadas dos Head Shots dos atores - todos prontos, com vontade de participar, fazer contatos, mostrar trabalho e seguir com o sonho. Dispostos a trabalhar só pelo já conhecido copy/credit/meal.

Na medida em que vai se desenvolvendo dentro da "indústria", você acaba conhecendo mais pessoas e trabalhando com gente mais interessante. Não só as celebridades, mas as pessoas poderosas de Hollywood estão realmente muito próximas, não só fisicamente. Os estúdios onde os filmes são produzidos são ambientes mágicos, por mais clichê que isso seja. Toda vez que eu entro na Warner Bros. - mesmo já tendo trabalhado lá dentro -, sinto uma emoção muito grande. Poxa, o lugar tem muita história - lá conheci o sound stage onde foi rodado "The Goonies", assisti o taping to "Two and Half Men", me passei por um dos friends quando me sentei no sofá laranja do Central Perk, virei amigo da criadora do "Cold Case", estacionei sem querer na vaga do Steve Carell, vi o Batmóvel de perto e já dei "oi" pra Ellen DeGeneres duas vezes - pode me chamar de deslumbrado, mas é bem difcil fechar a boca.

Depois de três anos morando longe de casa, já formado e com muitas saudades da família, vejo Los Angeles como um ideal de vida. Hoje em dia, trabalho dirigindo comerciais aqui na Califórnia. Utilizando as minhas experiências daqui, tento trazer um pouco de Hollywood para o mercado brasileiro.

Conhecendo todos os cantos, entendo melhor a cultura do angelino, a mistura de raças e o comportamento da sociedade - posso dizer que sou apaixonado por isso aqui e vejo a cidade como ideal para a minha profissão.

Marco Carvalho foi diretor de arte por mais de oito anos. Hoje é diretor de cena da Capsula Filmes.
marco@capsula.com.br
twitter: @marco_carvalho

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