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O espaço é seu

Nossos Personagens Sem Vergonha (Karen Fuoco)

22.03.17

Nossos Personagens Sem Vergonha

Na busca pela integridade e por ser eu mesma, me questiono: onde estamos nas narrativas de nossas vidas? Eu desafio você a pensar comigo

Há momentos, bem raros, em que o ego desaparece porque você está em uma total embriaguez. É delicado, pode ser intenso, suave, fugaz, demorado, sensível, ou pode nem aparecer. O fato é que, no orgasmo sexual, você não tem história, não tem passado, não tem mente, não tem autobiografia. Você está completamente no aqui e agora, sem qualquer identidade.

Neste momento de prazer, o ego não está funcionando, daí o deleite da sua qualidade restauradora e de rejuvenescimento. Ele nos deixa tão silenciosos, tão quietos, tão relaxados e tão preenchidos porque é no ápice do prazer que todo o nosso ser está concentrado - corpo e mente - na mesma experiência. O raciocínio pára completamente porque você está tão entregue que não consegue pensar. O ser está ali sem nenhum raciocínio, sendo cem por cento você. Sem máscara, sem roupa, sem personagem.

Em quais outros momentos da sua vida você simplesmente existe em sua totalidade?

Cada um de nós só aparece por inteiro ao entrelaçar o seu melhor e o seu pior na mesma cama. Não é difícil perceber que os calos do hábito acostumam o nosso olhar. Facetas que antes eram difíceis de encarar são aceitas e velhos medos tornam-se amigos nus. Nesta viagem de amadurecimento, a aridez da realidade toma outros tons. A indignação se cansa e um observador menos apaixonado toma forma. Na busca por ser eu mesma, me pergunto: não temos voz na narrativa de nossas vidas? A mesma pergunta vale para a comunidade: com que propósito nos posicionamos? Qual é a nossa unidade comum?

Eu poderia dizer que há assuntos sobre os quais nenhum de nós fala, mas acredito que você já saiba disso. À medida que os anos passam, erguemos vários personagens e nos adequamos ao socialmente aceito. Absortos pela sobrevivência, passamos a vida a gerir consequências, muitas vezes sem escolher caminhos e sem clareza de propósito. Nos alternamos entre os papéis de vítima e algoz, como tontas marionetes.

É mesmo um tremendo desafio identificar intuitos em um cenário tão árido, onde o ambiente pendula entre a ganância e o conformismo. Sem voz em nossas narrativas, a intenção é soterrada e a fala possuída por um encosto tecnológico. Treinados pela mídia, repetimos discursos prontos sem qualquer capacidade de pensar ou julgar de maneira independente e crítica. Olhar essa 'transa' com atenção e consciência pode ser um ótimo caminho para começar a fazer a diferença.

Podemos escolher objetivos, estabelecer missões, assumir a narrativa de nossas vidas, bem como das comunidades a que pertencemos. Antes, porém, conhece a ti mesmo. Em sua totalidade. Confortáveis em nossos sapatos, estamos mais aptos a colaborar, a tecer juntos nossas ideias e não a que nos é imposta pela sociedade. A busca por trilhos e atalhos nos ajuda a descobrir os prazeres e os estímulos de excitação que funcionam para o gozo de cada um de nós.

Não fique por baixo ou caia de quatro. Turbine sua intensidade e viva esta experiência. Esta 'suruba' de emoções certamente será tão transformadora para você quanto está sendo para mim.

 Karen Fuoco, executiva de marketing e consultora da Miami Ad School

 

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