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O Espaço é Seu

As ideias são organismos vivos (Karina Israel)

12.12.17

Quem já descobriu suas ideias sendo executadas ali do outro lado da rua ou mesmo em algum lugar distante do planeta? Não dá para acreditar que aquele insight incrível, que parecia único, foi executado antes mesmo de você poder apresentá-lo ao cliente ou colocá-lo em prática na startup dos seus sonhos. O mesmo vem ocorrendo ao longo da história com inúmeras descobertas científicas que surgiram praticamente em simultâneo em diferentes lugares do mundo, sem que os inventores ou cientistas tivessem qualquer chance de contato. Lembra da polêmica de quem criou o avião: Irmãos Wright ou Santos Dumont? Bem, isso se chama sincronicidade.

Você já deve ter ouvido falar desta tal sincronicidade, um conceito desenvolvido pelo psiquiatra suíço Carl Gustav Jung para definir a experiência de ocorrerem múltiplos eventos que coincidem de uma maneira expressiva para uma ou mais pessoas que vivenciaram essa “coincidência significativa”. Basicamente, coincidências não existem, temos na verdade um inconsciente coletivo. E este fenômeno está totalmente intensificado nos tempos atuais.

Abstraindo de qualquer questão mística que possa ser associada ao tema, percebemos que nosso inconsciente coletivo está ficando mais forte e mais rápido, porque estamos todos bebendo das mesmas fontes, estamos vivendo num momento de comunicação reticular (de redes), onde a forma de interação é absolutamente exponencial. Substituímos o formato linear de envio de informações (aula da Faculdade de comunicação: emissor, receptor, canal, ruído, mensagem... lembrou?) por uma forma de rede que é essencialmente interativa e colaborativa, atingimos um novo patamar. Agora o creator, para usar o termo do momento, aquele ser criativo que difunde conceitos, conta histórias, apresenta novas visões, tem o poder de impactar todos aqueles que estão expostos à sua mensagem.

Numa palestra para o TED, Daniel Dennett, autor e filósofo americano, nos surpreendeu com o conceito de que a comunicação humana e os pensamentos devem ser vistos como organismos vivos. Falou de “ideias replicantes”, ideias que replicam passando de cérebro para cérebro. Para ilustrar, descreve a história do biólogo e escritor britânico Richard Dawkins, que cunhou o termo "meme” em seu livro “O gene egoísta” de 1976. Este termo já não pertence mais ao autor, Richard só deu a partida, agora pertence a todos nós. Aparentemente o conceito sofreu uma mutação nas nossas mãos. Como disse Dawkins, quase 20 anos depois, “memes são como vírus”.

Mas afinal de que é feito um “meme”? De que é feita uma palavra? De ideias positivas, construtivas ou tóxicas, de atitudes com o potencial de se propagarem pelo mundo quase que em tempo real, imprimindo sensações, emoções e permitindo a geração de novas ideias, novos conceitos, inspirados na sua essência e na sua possível degeneração.

Entendendo este contexto, onde não vivemos mais numa bolha com inputs limitados à nossa localização e capacidade de deslocamento, vivemos numa enorme aldeia global numa troca interativa entre circuitos, pessoas e interfaces. A cada contato, nos alimentamos, constituímos e transformamos - todos ao mesmo tempo e agora - de imagens e palavras jorradas ininterruptamente. Vamos aproveitar para nos tornarmos conscientes e responsáveis pelo que emitimos? Ainda mais num tempo de total transparência, onde não existe mais separação entre imagem e ação, agora tudo é público e rastreável.

É hora de praticar o desapego das ideias, seguir descobrindo, interpretando e cocriando, cada vez mais coletivamente. Se as ideias são organismos vivos, elas estão crescendo ou estão morrendo. Então desapega, corre lá e executa, ou muito possivelmente um chinês vai fazer no seu lugar.

Karina Israel, co-fundadora e CGO da YDreams Global

Leia texto anterior da executiva, aqui.

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