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O Espaço é Seu

O que abrir mão de Cannes me ensinou sobre Publicidade

09.02.18

No último verão europeu, tive o privilégio de estudar em diversas cidades do Velho Mundo. Algo impraticável para a minha realidade, não fosse uma premiação interna da agência em que trabalho.

Premiação cuja proposta inicial era comparecer ao Cannes Lions 2017 com tudo pago.

Pedi para trocar.

E contei com a flexibilidade dos meus superiores :)

Ainda assim, muita gente me perguntou porque eu abri mão do maior festival de criatividade do mundo, uma vez que sou apaixonado pelo tema. Talvez até você, aí atrás da tela, esteja se perguntando por que eu fiz isso.

Então vem comigo, no caminho eu te explico (enquanto conto sobre a viagem que fiz ao invés de ir ao festival).

A criatividade está em todo lugar


Em Londres, fiz um curso de Processo Criativo e Auto-Expressão, mas fora da sala de aula encontrei uma cidade efervescente cheia de histórias e formatos diferentes de manifestações criativas.


Na Tate Modern, conheci a história por trás da obra do artista Henri Matisse que, quando mais velho e enfermo, não conseguia mais pintar. Acham que ele desistiu? Jamais, deu um jeito de “pintar com a tesoura”. Com a ajuda de um assistente, ele recortou pedaços de papel e reorganizou de um jeito bom o suficiente pros ingleses deixarem o quadro pendurado lá até hoje.


Mas o que mais me chamou a atenção foram artistas que envolvem a colaboração com o público, como Marina Abramovic, Suzanne Lacy e Santiago Sierra. Cada um com sua causa e propósito, e sempre capazes de engajar pessoas e despertar emoções (boas e ruins).


Falando em Suzanne Lacy, a guia do museu contou que certa vez perguntaram se ela era uma artista ou uma ativista. Sua resposta foi:


"Me defino como artista, pois tomo decisões que um ativista não tomaria. Para mim, ser politicamente responsável é uma obrigação. Mas estou fazendo arte."

Para mim ficou a lição: ter um compromisso com marcas e rentabilidade não nos isenta da nossa responsabilidade social e “não ser um ativista” não é desculpa para banalizar questões sérias.



Rótulos podem limitar nosso potencial criativo


Em Amsterdam, visitei uma exposição do Moco Museum que combinava trabalhos de Banksy e Dalí. Tinha graffiti, tinha relógio surrealista, tudo aquilo que vem à mente quando lembramos desses dois ícones da arte mundial.


Sabe o que tinha também?


Texto.


Frases e quotes célebres mostrando que a capacidade criativa deles não se limita às artes visuais. Posso ser otimista demais, mas acredito que isso é verdade para todos nós. Diretor de Arte e Redator são job descriptions muito bem definidos (e necessários), mas porque não brincar com essas fronteiras de vez em quando? E porque a criatividade só é esperada (e cobrada) do departamento Criação?



Não falta informação nem opinião. Falta reflexão


No ano passado, fui apresentado ao texto “Notas sobre a experiência e o saber de experiência” de Jorge Larrosa Bondía, um professor doutor de Filosofia, na Espanha.


“A cada dia se passam muitas coisas, porém, quase nada nos acontece.”

Ele apresenta o excesso de informação, de opinião, e a falta de tempo, como fatores que impedem a experiência, ou seja, que algo nos aconteça.


Minha passagem por Berlim foi o momento para que tudo que eu estava absorvendo até então pudesse “me acontecer”.

Trazendo para minha vida profissional, muitas vezes confundi falta de aprofundamento com falta de informação e corri atrás de conteúdo em livros, referências e cursos. Às vezes é preciso parar um instante para então avançar. Esse foi o lado bom de viajar sozinho: tempo de sobra pra organizar meus pensamentos.



Perpétuo x Efêmero


Dos clássicos monumentos até uma simples padaria, cada canto de Roma respira história. Um choque de realidade para quem vive num contexto profissional tão efêmero quanto 15s de stories do Instagram.


E tudo isso me fez pensar sobre premiações. Antes, eu enxergava prêmios como credenciais, constatações perpétuas da qualidade de algo ou alguém. Hoje, vejo que a premiação que ganhei foi algo efêmero, um mero reflexo do passado. Não define quão bom eu sou.


Apesar disso, as consequências desse prêmio continuam causando impactos positivos na minha vida. Cada vez que compartilho essa experiência adquiro novos aprendizados e conexões.


 Então, se este texto te despertou algum pensamento, não hesite e vamos falar sobre isso. Você acha que fiz uma boa escolha ou desperdicei uma chance única?


Henrique Fudissako, supervisor de estratégia da Sapient AG2

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