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O Espaço é Seu

D&AD: criatividade, ousadia e diversidade (Monica Tommasi)

26.04.18

A vivência do D&AD começa no próprio caminho para o festival. Pelos arredores da Brick Lane, nos deparamos com murais, tipografias e instalações de artistas do mundo inteiro, como Ben Eine, Bansky, Jimmy C, Dreph, Zabou, Reka One, Thierry Noir, Clet Abraham, Conor Harrington, Mr Cenz, Roa, com estilos e técnicas distintas que vão desde congelar latas de spray para reduzir a pressão e ter linhas contínuas, com luz e sombra perfeitas, até miniaturas esculpidas em chicletes grudados por aí.

Shoreditch é uma galeria de arte a céu aberto, com paredes disputadas por artistas do mundo inteiro, que se arriscam nas madrugadas frias de Londres para expor seu trabalho por aqui. Sim, se arriscam, porque em Londres o grafite é crime e pode custar anos de prisão. O mesmo caráter subversivo e disruptivo da arte urbana de Londres percebo nas peças que vejo expostas ao entrar no Old Truman Brewery, onde acontece o festival. É o caso de Fearless Girl, The Color of Corruption, Open Your Eyes, The Flip, para McDonald's, Petit Pli, vencedora do D&AD Impact, e tantos outros trabalhos incríveis que vemos por aqui. Talentos que também percorreram becos escuros das soluções convencionais para perseguir a melhor ideia. Que trabalharam, às vezes tarde da noite também, se arriscando para quebrar regras, driblar a lei do conservadorismo e trazer um conteúdo novo, criativo, que rompe com o que nossos olhos esperam ver.

O design, como a arte urbana, traz em si esse frescor, esse dinamismo, fulgaz, efêmero, que se transforma a cada dia. Para criar novos paradigmas é preciso coragem e audácia. É preciso correr riscos. E lidar também com o fato de que, no dia seguinte, tudo pode não estar mais lá. Ou porque o espaço foi ocupado por outro ou porque a dinâmica da cidade mudou. A lei das ruas é a mesma lei do mercado. Se uma marca não estiver sempre ali, por perto, presente no dia a dia das pessoas e cuidando da sua mensagem, vem outros e picham por cima, ocupam o seu território, distorcem a sua mensagem. As vezes é preciso destruir paredes para construir algo novo e mais interessante. Seja com uma britadeira ou tirando lasca por lasca, como faz o artista urbano Vhils. É nessa fronteira com o vandalismo que podemos encontrar as melhores ideias publicitárias. Palavras de Jeff Goodby, da Silvertein & Patners em sua palestra: “How vandalism can save advertising” e reforçadas também por Dave Trott em “How to do what you are not allowed to do”. Cada um de nós tem um muro e uma lata de spray nas mãos. A criatividade tem o poder de influenciar acontecimentos políticos, sociais, tem o poder de transformar vidas e, por que não, o mundo? É essa relação única entre a cultura e a criatividade que foi o tema central do D&AD deste ano.

Palestrantes das mais diversas disciplinas discursaram sobre 3 grandes temas. 1: Como a nossa indústria está lidando com a diversidade de classe, gênero,raça, etc para não apenas vender, vender e vender mas ter um propósito que promova uma mudança positiva e construa um mundo mais inclusivo. 2: Sangue, suor e lágrimas. Grandes talentos revelam os bastidores dos processos criativos com seus erros e acertos e diferentes formas de trabalhar, valorizando cada vez mais um trabalho coletivo e colaborativo. 3: O futuro e todas as possibilidades transformadoras que a tecnologia nos oferece, permitindo novas formas de interação das pessoas com as marcas.

Relevância cultural e diversidade foram assuntos recorrentes em diversos discursos. E, nesse aspecto, ponto para o festival, que buscou um equilíbrio de gênero na escolha dos jurados, com mulheres presidindo 15 das 28 categorias e trouxe mais de 150 palestrantes, de todas as cores, gêneros, origens e as mais diversas disciplinas.

Para o terror dos librianos, como eu, as palestras aconteciam de forma simultânea, em três salas, reunindo grandes nomes como Trevor Eld (The Fader Magazine), Leila Fataar (Platform13), Paul Inglis ( Blade Runner), o diretor Adam Smith e muita gente bacana das agências mais desejadas do mundo e marcas como Impossible Food, Instagram, Aesop e Karma Cola (uma versão orgânica da coca).

Atrações e ativações de marca igualmente imperdíveis disputavam a nossa atenção. Logo na entrada, em um ringue de box da Sky, Anthony Joshua nos desafiava para uma luta em VR. E ainda mais radical era a experiência da Happy Finish, de deslizar em alta velocidade do alto da torre “The Shard” de Londres, arrancando gritos histéricos dos participantes.

Masterclasses podiam ser agendadas com LA Ronayne (Stink), Nick Eagelton (The Partners) e Will Awdry (Big Fish) e gurus do The Guardian davam dicas de podcasts, infographics e data storytelling.

Em um workshop da super 8 também era possível produzir um filme e uma trilha sonora durante duas manhãs do festival. E para respirar um pouco diante de todo esse frenezi, você podia construir um jardim zen, desenhar em 3D no Microsoft Surface, vivenciar uma experiência moderna de meditação com a ajuda da tecnologia, ou fazer uma pausa em um dos lounges dos três andares do evento. Porque o ócio também é criativo. Principalmente quando se está rodeado pelo que há de melhor no mundo em design, advertising, branded content e inovação.

Monica Tommasi, redatora da TV Globo

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