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O Espaço é Seu

Aldo The Band, Radiohead e o universo da propaganda (André Faria)

14.06.18

Não importa se o show é de meia-hora, 45 minutos ou duas horas. Quando se trata de estádio, a estrutura por trás das bandas é muito parecida. Stage manager, técnico de PA, roadie, produtor geral, merchandising, técnico de monitor, assessoria de imprensa, fotógrafo, técnico de luz e booker. Só para começar… Ou seja: sem equipe, você está frito.

Descobrimos isso na raça. Até porque não estávamos esperando um convite desse tipo. Quando nos mandaram um e-mail dizendo que a equipe do Radiohead havia escolhido o Aldo The Band como banda brasileira de abertura (o Soundhearts Festival tem curadoria do próprio Radiohead, que ouve as bandas de cada país e escolhem quem mais curtiram para abrir o festival), a primeira reação depois de comemorar foi: "ferrou... e agora?"

O Aldo sempre foi independente, poucas pessoas envolvidas, mas todas muito unidas. E sempre demos conta assim, mesmo com cinco turnês internacionais nas costas. Mas, conforme assinamos com publishers e gravadoras, a equipe se perdeu. Tudo ficou comercial demais. Os executivos tratavam nossa equipe como fornecedor, não como "banda", não como "parceiros". A equipe perdeu o senso de união, indo cada um para um canto. Em outras palavras, estávamos sem ninguém e tínhamos três meses para reunir 15 pessoas e ensaiar desgraçadamente.

Aos poucos, fomos falando com diferentes pessoas, um a um, olho no olho, vendendo nossa ideia. E com o mesmo critério de anos atrás. Formar um time de pessoas que escolhemos (e fomos reciprocamente escolhidos por elas) por afinidade, parceria, desafios, música e profissionalismo. Um trabalho danado, até porque você tropeça em gente séria e talentosa por aí.

Faltando apenas um mês para o show, finalmente, voltamos a ser mais do que quatro. Porque uma banda nunca é auto-suficiente. São quatro no palco e 15 trabalhando em volta dele. Imagine então uma banda do tamanho do Radiohead. Eram mais de 30 ingleses andando por ali, sem nenhum stress e com um senso de união, profissionalismo e organização impressionantes. Nosso camarim era na sala dos juízes, o deles no vestiário oficial, logo ao lado. E tão legal quanto trocar ideia com o Johny Greenwood ou o Ed O’Brien era falar e observar a produtora geral, a babá dos filhos deles (eles estavam viajando com a família), o afinador de piano (trouxeram um velhote da Inglaterra), os roadies. Todos “da banda”. Uma galera funcionando como um, todos com o objetivo claro.

Se você parar para pensar, uma agência ou produtora nada mais é do que uma banda. Sem uma equipe sincera, leve e parceira, estamos fritos. Solta o cabo da guitarra, o PA não funciona ou você simplesmente esquece a letra de tão cansado que subiu ao palco. Ou ainda o mais chato: no fim da noite, quando todo o stress já passou, com quem você vai comemorar? Existe fornecedor para isso?

André Faria, sócio-fundador Evil Twin Music

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