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O Espaço é Seu

A democracia ferida (por Marcelo Arbex)

28.10.14


Domingo, 26 de outubro, foi dia de eleição. Dia em que, infelizmente, a democracia brasileira foi gravemente ferida. E o ataque que a feriu foi feito justamente através da comunicação. Ou, mais precisamente, do uso nefasto do poder que a comunicação oferece, para se alcançar um objetivo. Não falo aqui dos resultados da eleição. Mas da forma em que ela se deu.



Paralelamente aos meus mais de 30 anos de trabalho em criação, em diversas agências, também trabalho, desde 1983, em campanhas politicas. Neste ano, criei e escrevi textos, comerciais e programas eleitorais de televisão para Aécio Neves, em sua campanha à presidência da república. Foram meses de trabalho intenso e profissional, respeitando, acima de tudo, e em todos os momentos, os eleitores e os adversários.



Numa eleição, ganhar ou perder é parte do jogo. É próprio da democracia. No entanto, a democracia também pressupõe a prática permanente da verdade, do respeito ao outro, da manutenção de limites a serem preservados pelas partes envolvidas na disputa.



Pois foram exatamente esses principios que a comunicação da campanha do PT e de Dilma abandonaram desde cedo, nesta eleição. E acabaram por produzir a campanha mais rasteira, mentirosa e agressiva já vista, desde a redemocratização do Brasil. Diferente do que a presidente reeleita quer agora fazer parecer, ao adotar um tom conciliador, as agressões, os ataques, ao longo de toda a eleição, partiram invariavelmente da campanha do partido que ocupa o governo federal, o PT. Agora presidente, o estrago já foi feito. É tarde para consertar o dano causado.



Se a campanha de Aécio foi cívica, azul, verde e amarela, focada em apontar sim erros do atual governo e propor as mudanças necessárias, sem nunca atacar pessoalmente a quem quer que fosse, a campanha que Dilma e o PT empurraram goela abaixo dos brasileiros foi partidária, vermelha, raivosa e desonesta. Como Dilma mesmo afirmou, “durante a campanha a gente faz o diabo”. E fizeram.



Atacaram Aécio pessoalmente de todas as formas e com todas as acusações possíveis e imagináveis. Se esforçaram para desacreditar seus dois governos em Minas, e, como se não fosse suficiente, deflagraram uma maçiça campanha de terror por todo o país, ameaçando pessoas e familias carentes, beneficiárias de programas como o Bolsa Familia ou o Minha Casa Minha Vida, para que não votassem em Aécio, caso contrário perderiam os benefícios que recebem.



Dilma, o PT e João Santana, seu marqueteiro mor, lançaram mão da comunicação para destruir Aécio, sua honra, sua história, seu trabalho, e ainda, de quebra, aterrorizar milhões de brasileiros carentes que ainda dependem do auxílio do estado para sobreviver.



Mentiram sem o menor constrangimento, acusaram sem provas e praticaram a mais baixa chantagem eleitoral jamais vista em nosso país. Perto do que o PT praticou, os antigos e tão deploráveis votos de cabresto, pareceriam coisa de amador. Houvesse um CONAR eleitoral, a campanha do PT estaria, desde o seu inicio, suspensa.



Mas vivemos numa democracia. A mesma democracia que permite a Lula bradar e incitar em seus comicios, a divisão dos brasileiros entre ricos e pobres, entre nordeste e sudeste, ou chamar impunemente seu adversário de “filhinho de papai”.



Se o que Lula, o PT e a campanha de Dilma queriam era dividir os brasileiros, tudo indica que conseguiram. E nesse caso, seguramente, ninguém sairá ganhando.



Não bastassem os escândalos e a corrupção que tomou conta do governo federal, amplamente divulgados por toda a mídia, o partido no poder agora se acha no direito de, usando todos os instrumentos e meios disponíveis à comunicação, corromper também, com mentiras, calunias e falsidade, a consciência dos brasileiros.



É o vale tudo pelo poder, não importa a que custo.



Lamentavelmente, a meu ver, o grande derrotado nesta eleição não foi Aécio Neves. A grande derrotada foi mesmo a democracia. E com ela, valores caros e profundos para todos nós, como verdade, ética e decência, foram mais uma vez deixados de lado.



Há ainda um agravante. Os brasileiros que foram às ruas de todo o país em 2013 para se manifestar e pedir mudanças, não vão poder, por um bom tempo, sair às ruas novamente para protestar. Porque nesse caso, milhões de outros brasileiros é que estarão gritando: Tá reclamando do que? Foi você que aceitou o jogo do PT para se manter no poder! Agora aguenta.





Por Marcelo Arbex, diretor de criação da Easy Writers. Não é ligado nem filiado a nenhum partido político.


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