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O espaço é seu

Sidney Magal, você de novo? (por André Faria)

10.02.14


Apesar de ter nascido em uma família de advogados, eu sempre quis ser duas coisas: produtor musical e publicitário. E apesar de ter me formado em direito (criminalista, que era mais emocionante), eu sempre procurei estágios em agências de propaganda.



Foi então que, aos 19 anos, depois ter passado 5 desgracentos meses no atendimento da Ogilvy & Mather e mais 3 me divertindo na criação da Grey, eu recebi duas propostas que mudaram minha vida.



A primeira era realmente interessante: sair em turnê com o Sidney Magal pelo Brasil, substituindo seu guitarrista que estava com problemas de saúde. Uma chance única. A segunda era ser o primeiro estagiário de criação na recém-inaugurada Age., trabalhando ao lado de dois dos meus maiores heróis da propaganda brasileira – Carlos Domingos e Tomás Lorente.



Depois de matutar, matutar, matutar, a decisão foi tomada: Age. E, sem dúvida, foi a melhor coisa que fiz em toda a minha vida. Foi lá que aprendi que nada vem fácil. Se você quer alguma coisa, tem que sentar a bunda e ralar. Se você quer fazer um bom título, faça duzentos (a menos que você seja o {Cássio} Zanatta). Se você quer fazer um bom filme, faça duzentos (a menos que você seja o Fábio Fernandes). De lá, com a paciência e ajuda do Domingos, eu tive a sorte de ir para a AlmapBBDO trabalhar com o Eugênio e o Marcello, depois para a F/Nazca, trabalhar com o Fábio e Edú, depois virar diretor de criação na Loducca, ao lado do Celso e do Guga e, até um mês atrás, dirigir a criação da DM9DDB ao lado do Versolato – essa semana, aqui no site do CCSP, ví que finalmente saiu meu último trabalho por lá, um filme para Guaraná Antarctica que fiquei bem orgulhoso da equipe (aqui).



Mas parafraseando o Marcello na sua última palestra no Festival do CCSP, alguns sonhos simplesmente não desistem de você.



E foi assim que o Sidney Magal voltou. Dessa vez com roupas diferentes, mais baixinho e mau-humorado, na figura do meu irmão Murilo Faria, me convidando para um projeto de som irrecusável. Uma banda em homenagem ao nosso tio Aldo, um tio doidão da década de 80 que nos levava para cima e para baixo, apostando rachas de carro com seu Santana Esporte vermelho e mexendo com as modelos e manequins da Rua Augusta, na época em que lá era barra pesada de verdade. Na época, eu com doze e meu irmão por volta dos nove anos.



Após lançar o disco, no ano passado, inacreditavelmente algumas pessoas se deram ao trabalho de escutar. E a águia pousou no ninho. A repercussão foi muito boa, abrindo portas para tocar em festivais espalhados pelo Brasil, gravar um segundo disco, resgatar o Faria & Mori (projeto de som que lancei ainda na F/Nazca), compor algumas trilhas. Fisicamente algo complicado de conciliar com um cargo de diretor de criação de uma agência gigante como a DM9. E foi assim que, mais uma vez, tive que decidir.



Não é sempre que a gente tem a chance de realizar dois sonhos na mesma vida. E uma coisa é fato: nada prepara você para a vida melhor do que uma agência de propaganda. Disciplina, perseverança, porrada, pizza, política, pressão, critério e um senso de realidade que nenhuma outra profissão pode te dar.



Por isso pare de reclamar e aproveite. Aproveite cada pessoa ao seu lado, cada job osso que aparece, cada criativo sênior sentado aí pertinho, cheio de histórias e coisas legais para dividir. Tenha a humildade de abrir o Anuário do Mutley, da Pizza, do Espelho e ver tudo o que os caras aprontaram. Pare de falar mal de propaganda. Simplesmente pare de reclamar, sente a bunda e faça um bom filme.



Nesses últimos dias escutei bastante “E aí? O mundo aí fora é bem melhor, não é?”. E eu digo: - É. Mas as lições estão aí dentro. E se você vier aqui para fora sem ter aproveitado, curtido, colhido e aprendido, você já era, cara.



O Tio Aldo não pode comparecer aos shows porque ele virou evangélico e a Igreja o proíbe. Mas você está convidado. A menos, claro, que apareça algum job urgente. E se isso acontecer, não tem problema. A gente entende. 



Com a direção de Brenno Castro, da Paranoid, que há pouco tempo também fez o clipe da banda Madrid, ALDO lançou seu primeiro clipe neste mês (aqui). 



André Faria

 


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