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Polêmicas na imprensa americana

Como fica o Post em meio à crise vivida por Jeff Bezos?

12.02.19

O jornal The New York Times, uma das maiores referências da imprensa americana e mundial, colocou na parede outra importante estrela do setor: The Washington Post, publicação adquirida por Jeff Bezos, fundador e CEO da Amazon, em 2013 por US$ 250 milhões. No cerne da questão está a crise vivida pelo homem mais rico do mundo, que remete a seu divórcio de Mackenzie Bezos, anunciado em janeiro, e a postura do decano diário na cobertura da história.

O imbróglio

Dias depois do comunicado da separação, o tablóide The National Enquirer, que pertence ao grupo American Media Inc, publicou mensagens que revelariam um suposto relacionamento extraconjugal de Bezos com a apresentadora e jornalista Lauren Sanchez.

O CEO da Amazon decidiu abrir um processo investigativo para saber como o National Enquirer teve acesso a conteúdo privado. Depois publicou um texto no Medium em que acusa o grupo, liderado por David Pecker, de chantagem e extorsão caso ele não parasse com a investigação. O post de Bezos, com reproduções de mensagens que diz terem sido enviadas por pessoas ligadas ao grupo, não se limitou à exposição dos e-mails. Confira o post.

No Medium, o empresário aponta motivações políticas por parte do National Enquirer e benefícios que Pecker teria por sua proximidade com o presidente Donald Trump (para reforçar sua opinião, Bezos recorre até mesmo a uma reportagem do NY Times).

Como parte do processo investigativo, o CEO da Amazon recebeu um relatório que indica que ser dono do Washington Post é um complicador para ele. “É inevitável que certas pessoas poderosas que experimentaram ser manchete do Washington Post irão erroneamente concluir que eu sou inimigo delas”. O próprio Trump é citado como um desses poderosos.

Bezos afirma no Medium que pessoas da American Media o avisaram que eles teriam mais mensagens e fotos que seriam publicadas, se a investigação não fosse interrompida. O argumento do grupo a respeito da publicação do material que detém é que este se trata de conteúdo jornalístico por “revelar aos acionistas da Amazon” como o julgamento de negócios do CEO da empresa é terrível, conforme declara o dono do Post (leia aqui o que publicamos sobre o texto no Medium e sobre a reação da American Media às acusações de Bezos).

Jornalismo

Embora o NY Times – assim como outros veículos – tenha publicado reportagens a respeito do caso, o diário de Nova York questiona como se posiciona o jornal da capital americana diante do imbróglio envolvendo seu proprietário. Ele lembra que as acusações de Bezos sobre as “motivações políticas” do National Enquirer já tinham entrado em uma edição do Washington Post. No dia seguinte à publicação do texo no Medium, foi publicado um editorial elogiando Bezos por expor “um modelo insidioso de intimidação e corrupção mascarado de jornalismo” (leia o editorial aqui).

O NY Times procurou Kyle Pope, editor e publisher do The Columbia Journalism Review, para avaliar o caso. Pope diz que Bezos vinha se posicionando corretamente, pelo que se via, mas que agora terá de demonstrar que aprendeu, de fato, as regras do jornalismo, algo que não fazia parte de seu ofício até adquirir o Washington Post. Seria, portanto, um teste para Bezos e para o editor executivo Martin Barton.

Desde que o Post foi comprado, o jornal vive uma retomada. Foram contratados mais 200 jornalistas na era Bezos. A equipe de profissionais do diário chega a 900. São mais de 1,5 milhão de assinantes digitais e a publicação apresenta resultados positivos nos negócios, além de colecionar prêmios e reconhecimento por suas reportagens, como as focadas na administração Trump.

Questionado pelo NY Times sobre eventuais interferências de Bezos no editorial, Barton não aceitou ser entrevistado, mas divulgou um comunicado: “Jeff nunca se envolveu em nossas apurações e reportagens”. Ele declarou que pessoas costumam supor que deve ser difícil para o jornal cobrir assuntos sobre Bezos e Amazon. “Mas já são cinco anos e meio e ele nunca fez uma intervenção”.

Para Pope, no entanto, a cobertura sobre a Amazon antes era “anêmica”. Recentemente, o jornal publicou uma reportagem sobre um processo do diretor Woody Allen contra a Amazon porque o braço de streaming da companhia teria recuado de um projeto de quatro filmes fechado com o cineasta. “Acredito que eles finalmente acordaram para o fato que o dono do jornal rende grandes histórias”, afirmou ao NY Times.

Frederick J. Ryan Jr, publisher do The Washington Post, também respondeu ao diário de Nova York via comunicado. Ele informou que Bezos não participou da elaboração do editorial que elogia o post do dono do jornal. “Jeff sempre deixou claro que espera que o The Washington Post atue com completa independência, tanto em nosso noticiário quanto nos nossos editoriais, e que o trate assim como suas companhias como teríamos feito com qualquer outro”, escreveu.

Mas outro professor de jornalismo da Columbia University, Bill Grueskin, observa que o jornal deveria ter deixado mais claro que Bezos não esteve envolvido com o editorial.

 

Leia a reportagem do NY Times aqui.

 

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