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Star Wars 40 anos II

Lições da franquia que expandiu o mundo nerd

25.05.17

A estreia nos cinemas americanos de Star Wars – Uma Nova Esperança, que completa 40 anos nesta quinta-feira, 25 (leia mais aqui), foi escolhida como um dos motes para celebrar o Dia do Orgulho Nerd, que surgiu na Espanha em 2006, e rapidamente tomou o mundo. Além do lançamento da saga criada por George Lucas, a data presta homenagens a Douglas Adams, autor da série “O Guia do Mochileiro das Galáxias”, e, por isso, também é conhecida como Dia da Toalha, item imprescindível para um mochileiro que viaja entre galáxias, segundo o escritor.

Se no passado ser chamado de nerd poderia ser considerado desagradável, hoje isso está longe de ser visto assim. Vide o sucesso dos eventos ao estilo Comic Con, que acontecem em diferentes países – inclusive no Brasil, caso da CCXP (conheça mais sobre a convenção aqui). O fato é que “nerdice” tem rendido um bom dinheiro. Prato cheio para a cultura geek, a franquia Star Wars ajudou a Disney a bater um recorde histórico. O lançamento de Rogue One, em dezembro passado, ajudou o estúdio, dono da Lucasfilm desde 2012, a superar a cifra de US$ 7 bilhões em um ano de bilheteria. A Disney já surfava um bom momento com o sucesso de seus filmes baseados no universo Marvel – em novembro havia entrado em cartaz Dr. Estranho – e da animação Moana (leia reportagem que o Clubeonline publicou a respeito e mais sobre Rogue One).

Com produtos licenciados, Star Wars também vai bem. Relatório divulgado neste mês pela associação International Licensing Industry Merchandisers aponta que o montante gerado pelo licenciamento chegou a US$ 262,9 bilhões no mundo no ano passado, um aumento de 4,4% em relação ao exercício anterior. A entidade indica que a saga teve um papel importante nesse resultado. Outro dado revela que renda obtida por brinquedos, roupas e outros itens relacionados a personagens da indústria do entretenimento atingiu US$ 118,3 bilhões no varejo. Ou seja, 45% do total.

Para marcar os 40 anos de Star Wars, o Clubeonline procurou profissionais de agências, veículos, produtoras e anunciantes para discutir que impacto a franquia pode ter sobre esta indústria e se a marca inspira reflexões para o mundo da comunicação. Foram feitas três perguntas para todos. As entrevistas foram divididas em blocos.

Participaram da primeira rodada de entrevistas Jean Boechat (Talent Marcel), Thiago Ferraz (Lew’Lara\TBWA), Ana Paula Cavagnoli (Grupo Newcomm) e Mariano Alvarez (Punch Audio). Leia aqui as respostas.

Agora é a vez da segunda turma, com os seguintes profissionais: Fernando Cury (W+K SP), Cris Dias (Facebook), Paulo Sanna (Wunderman) e Tom Soraire (Aktuellmix). Há ainda mais um bloco a ser publicado nesta quinta-feira.

Confira as perguntas:

1. Star Wars completa 40 anos de seu lançamento. Como você se conectou a esse universo? Foi ao cinema na época? Ou a ligação veio depois? Por que se tornou um fã?

2. O que torna a franquia tão poderosa? Que elementos considera os mais importantes para ter transformado a história em algo tão cultuado?

3. Que lições a marca transmite ao mercado (caso seja possível falar em lições)? Cite que comercial, meme, paródia, referência, produto, desenho, momento ficou na memória como algo digno de Star Wars.
Lena Castellón

 

 

FERNANDO CURY, digital strategist da Wieden+Kennedy SP

Como virou fã

“Sou de 79. Ou seja, não participei do grande boom que foi o início da franquia. Assisti a todos os filmes da trilogia clássica na TV mesmo, fora de ordem e entendendo pouco. Mas gostava, e gostava pela ação. Quando a trilogia prelúdio começou em 1999, prestei mais atenção no universo. Aos poucos, fui entendendo a questão dos dois lados da Força, o que me pegou por definitivo. Sou fã de estudos de equilíbrio e curto muito isso dentro da cultura geek, heróis versus vilões, essa coisas. Mas ainda assim não fui ao cinema. Pouco depois, comecei a ter amigos que era grandes fãs da saga e ouvia os caras falando. Resolvi parar de só saber e mergulhar. Dessa forma, fiz várias maratonas. Assisti na ordem cronológica e na ordem de lançamento. Várias e várias vezes… Hoje dá pra dizer que sou um fã papo sério. Vou às estreias, tenho tatuagens sobre SW, coleções de bonecos, decoração da minha casa com produtos da saga, enfim, subiu o sarrafo.”

Razões para o sucesso da franquia

“Acredito que a franquia tenha vários pontos que atraem muita gente. Cada um se conecta de maneiras diferentes. No Brasil, ainda há uma impressão da massa de que SW é coisa de nerd hardcore. Para algumas pessoas, SW não é uma presença constante da cultura pop dividindo espaço com as séries hype. Fora daqui, é bem mais poderoso a ponto de SW ser considerado cool. Mas elementos como a luta do bem contra o mal, o equilíbrio e as histórias de superação que a saga nos traz tocam as pessoas, criando conexões reais de referência pessoal. Porém, acredito que a grande porta de entrada sejam os personagens icônicos e a identificação das pessoas com eles. É como um atalho pro coraçãozinho das pessoas. :)”

Lições da marca Star Wars para o mercado

“Posso usar uma frase célebre do grande Mestre Yoda: “Precisa a Força sentir a sua volta, aqui, entre nós, na árvore, na pedra em tudo, sim.” Ou seja, a comunicação, assim como a Força, está em todos os lugares. Uma marca precisa saber como usar isso para estar onipresente na vida das pessoas, influenciando culturalmente e acrescentando de fato no mundo. Presença constante não só em out of home, posts nas mídias sociais ou filmes na televisão. Formatos não importam quando se está presente no coração e mente das pessoas. O comercial que mais lembro e respeito que teve a presença de SW é o da Volkswagen [The Force, criação da Deutsch – veja mais abaixo]. Paródias são muito legais. Gosto das redublagens como esta aqui [Uma Nova Treta]. Tem também as paródias do Adult Swim que são bem legais.  Sobre memes e linguagens de redes sociais, sigo várias páginas e grupos de Facebook que têm isso. Aqui vão algumas:  Star Wars Deprê, Star Wars Brasil Oficial e Frases de Star Wars. E, por fim, sobre produtos, coleciono bonecos Funko Pop. Tenho mais de 70 bonecos só de SW, entre outros. Os desenhos de SW, Clone Wars e Rebels também são bem legais.”

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CRIS DIAS, líder do Creative Shop Studio Latam do Facebook

Como virou fã

“Meu primeiro contato com Star Wars foi da pior maneira possível. Devia ter uns cinco ou seis anos e meu tio voltou dos EUA com um rolo de Super 8 do ‘filme’ Guerra nas Estrelas, que eu tanto ouvia falar (mas não entendia totalmente, pela idade). Ele saiu a mostrar para toda a família. O problema é que esse filme na verdade era o infame ‘Star Wars Christmas Special’, feito para a TV americana [Nota da Redação: programa de duas horas de duração que foi exibida em 17 de novembro de 1978, no qual Han Solo leva Chewbacca para casa para que este encontre sua mulher, seu filho e seu pai para uma celebração. Leia mais detalhes aqui e, aos curiosos, ele está disponível aqui ], uma coisa tão ruim, mas tão ruim que o George Lucas dedicou parte da sua vida a coletar todas as cópias existentes no mundo, bem ao estilo Ordem 66 do Emperador Palpatine [para quem não conhece bem o personagem, mais detalhes aqui].”

Razões para o sucesso da franquia

“O que me fez ficar conectado ao universo SW foi o que eu e meus amigos costumamos chamar de ‘o mundinho’. SW é um universo ficcional não só rico em detalhes, mas ele também abre sua imaginação para preencher as pontas abertas, principalmente na época em que só tínhamos três filmes para nos apresentar esse universo. Acima de tudo, SW é um universo que um garoto ou garota dos anos 80 olhava e falava ‘Eu quero viver lá’. A geração anterior à minha só tinha mundos assim nos livros ou quadrinhos, enquanto que as gerações mais novas, dos millennials às crianças de hoje, fazem isso mais com Harry Potter do que com SW. Eu inclusive costumo brincar que SW é muito mais legal na minha cabeça do que na tela. Quando paro para ver a trilogia original eu encontro vários problemas, de produção ao roteiro. Nas prequels, então, nem se fala [Nota da Redação: as prequels são os Episódios I, II e III – saiba mais aqui ]. Aquilo foi um erro.”

Lições da marca Star Wars para o mercado

“SW tem algumas coisas boas a ensinar ao mercado de comunicação e marketing. Logo de cara, penso no cuidado que a Lucasfilm tem com a marca — principalmente agora na Era Disney. Se você tentar, por exemplo, usar o Darth Vader em uma ação da sua marca, eles vão perguntar primeiro ‘OK, mas por que o Darth Vader veio ao Brasil?’. Não é para dizer que ele não pode participar da ação. É para fazer você pensar como aquilo vai se conectar com essa grande ficção. Outro aprendizado legal é entender que cada pessoa vai interagir mais ou menos com a franquia. A maioria das pessoas vai se limitar a só ver os filmes no cinema. Outras vão fazer isso e ver as animações na Netflix. Outros vão ler os livros. Outros vão andar por aí fantasiados… Todas essas pessoas têm que se divertir o máximo possível no nível de engajamento que escolherem. Não dá para dizer ‘Você não gostou do filme porque precisava ter lido aquela história em quadrinhos que veio na embalagem de Sucrilhos de 1980’. Por outro lado, o grande desafio deles hoje é fazer com que o universo seja interessante para pessoas além dos já fãs como eu.”

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PAULO SANNA, CCO da Wunderman

Como virou fã

“Vi os três primeiros filmes no cinema, quando lançaram. Tenho uma lembrança de ter assistido Star Wars em uma sala do Shopping Ibirapuera. Por alguma razão, me lembro das poltronas serem azuis, com detalhes em amarelo. Achava aquele cinema o máximo. Depois de adulto, estava numa agência que tinha a conta da Abril Video, e fizemos o lançamento da trilogia remasterizada. Nessa ocasião, devo ter assistido a todos os filmes umas dez vezes. Acho que ali eu passei a ser um fã de verdade.”

Razões para o sucesso da franquia

“Acho que o fato de a história ser uma releitura do mito do messias que vem para salvar a todos torna a história poderosa. A história em si é muito universal. O bem contra o mal. Desde sempre a humanidade se conectou com narrativas assim.”

Lições da marca Star Wars para o mercado

“Star Wars possivelmente é a marca que representa o nascimento da cultura geek. Os nerds que fizeram sucesso. Me parece que, ao longo dos anos, a marca acompanhou a evolução do mundo. Spaceballs, do Mel Brooks, é uma paródia digna de Star Wars.”

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TOM SORAIRE, gerente de criação da Aktuellmix

Como virou fã

“Sou de 82. Então desde pequeno já estava inserido na atmosfera criada pelos filmes. Comecei a ver pela ordem errada. Meu pai gravou O Retorno de Jedi em uma VHS direto da Tela Quente da Globo. Mal sabia eu que a ordem já estava toda errada mesmo :). Fiquei imediatamente fascinado com a ambiguidade: ao mesmo tempo em que havia batalhas de naves espaciais, grande duelos corpo-a-corpo eram travados com sabres de laser. Isso para um moleque nos anos 80 era algo inimaginável! Acho que vi essa fita umas 500 vezes (tá, umas 90 com certeza ), a ponto de decorar as principais falas do filme e levar algumas delas como lição de vida, até usar no meu dia a dia.”

Razões para o sucesso da franquia

“Um dos fatores mais importantes é o jeito que George Lucas constrói a história toda. É totalmente baseada na jornada do herói. O mocinho era só um camponês de uma fazenda no fim do universo e sai de lá para salvar a princesa e a galáxia. Ele dá esperança para as pessoas daquele mundo. E também para a gente, né? Porque tem uma forte identificação com o público. Todo mundo quer ser um grande herói, fazer a diferença. Também tem a atenção aos detalhes de todo o filme. Sound design, por exemplo, chegou a outro nível com Star Wars. Deixou de ser só um sonoplasta. George Lucas procurou alguém para modificar os sons para atingir a atmosfera que ele queria. A respiração do Darth Vader foi modificada com aquele tubo de equipamento de mergulho. Dá para sentir a tensão no ar sempre que o Vader aparece em cena. Sem contar o grunhido do Chewbacca, que é uma mistura do som de vários animais. Por fim, tem o caráter grandioso, de epopeia mesmo. É uma ópera espacial. E tudo converge para isso: a música de John Williams, a jornada do herói, a mistura de referências e, claro, as explosões. Imagine que uma geração inteira cresceu vendo isso várias vezes, até por falta de opção. Não tinha um filme bem feito desse tipo. É claro que isso ia influenciar na cultura pop. Mas, quer saber, o fator mais importante é mesmo o sabre de luz. =)”

Lições da marca Star Wars para o mercado

“George Lucas soube realmente fazer uma campanha de marketing. Ele transformou o próprio filme em uma série de produtos, bonecos, copos especiais, camisetas e coisas que os estúdios nem tinham pensado… até audiodramas para rádio. Ele realmente soube se aproveitar do momento, ‘surfou a onda’. Buzz na íntegra: identificou o público que poderia disseminar a ideia do filme e fez o lançamento onde tinha uma grande concentração de geeks e nerds: a Comic Con – que, na época, era só uma pequena feira para entusiastas. Ele levou as pranchas de ilustração e vendeu o filme no papo. O quadrinho da Marvel, lançado antes do filme, parou no momento que a Milennium Falcon entra na Estrela da Morte. Se tornou viral instantaneamente. Outra coisa interessante é a criação de um universo ‘Star Wars’, o que é conhecido como ‘Universo Expandido’, com livros desenhos e games, que contam outras histórias. Fazendo um paralelo com o universo das marcas, isso nos dá um boa lição: conte uma história, mas dê espaço para outras pessoas participarem também.”

Star Wars 40 anos II

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