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Desinformação: ameaça global número 1
É preciso comprometimento de todos os elos da cadeia de comunicação (publicitários, jornalistas, relações públicas, profissionais de comunicação corporativa) para estabelecer padrões de transparência e gerar um ecossistema digital confiável, saudável e ético, destacaram os participantes do painel “Desordem informacional: fake news, deep fake e os desafios para pessoas e marcas”, que abordou um dos mais importantes temas da atualidade durante a edição de 2025 do Festival do Clube.
O mediador, Rosenildo Ferreira, editor-chefe do 1 Papo Reto, esteve ao lado de Camila Tsuzuki, coordenadora de pesquisa do Internetlab; Marcio Borges, vice-presidente executivo e diretor geral da WMcCann Rio; Natália Leal, CEO e diretora executiva da Agência Lupa; Sérgio Lüdtke, editor-chefe do Projeto Comprova; e Taís Santos, diretora de estratégia da VML.
Na abertura, Ferreira trouxe dados realmente impactantes sobre os prejuízos financeiros gerados pela desinformação. “Em 2024, o Brasil registrou por exemplo mais de R$ 25 bilhões em prejuízos gerados por golpes cibernéticos e fraudes envolvendo pix. Isto é muito grave considerando-se que a maior fatia do bolo publicitário nacional migrou nos últimos anos para a internet”, observou o mediador.
Segundo Rosenildo, esta é uma realidade que deve se agravar com a intensificação do uso de IA em um mundo online, no qual com apenas um clique a realidade é editada por qualquer pessoa. Mas o fato é que será preciso aprender a transformar a tecnologia em aliada para gerar maior produtividade e possibilitar melhor qualidade de vida. De imediato, Taís Santos, especialista em cultura material e consumo, pediu a palavra e reforçou a relevância e urgência do tema ao acrescentar que, recentemente, o Fórum Econômico Mundial apontou a desinformação como a ameaça global número 1.
Para complementar, Camila Tsuzuki comentou sobre uma pesquisa do Internetlab que verificou a existência de uma crise generalizada de confiança das pessoas, na América Latina, em relação a todos os produtores de conteúdo (mídias tradicionais, plataformas digitais e redes sociais), gerada por excesso de informação e por desconfiança sobre o tratamento dos dados.
De acordo com o mesmo levantamento, as pessoas têm criado suas próprias estratégias para consumir informação, focadas principalmente em redes sociais e aplicativos de mensagens. Outra curiosidade foi que os brasileiros disseram confiar mais em informações geradas ou transmitidas por familiares, amigos ou por si próprios. “Os resultados do nosso levantamento deixam clara a necessidade de termos um compromisso real com a produção de informação qualificada, olhando para todos os elos da cadeia de comunicação para combater a desinformação”, enfatizou a coordenadora de pesquisa do Internetlab.
Marcio Borges destacou que a desinformação é uma indústria altamente rentável e opaca, cujo objetivo é gerar dúvida e destruir a confiança, que é um ativo de valor das empresas e marcas. “As empresas e marcas tentam entregar confiança, mas podem perdê-la diante dos consumidores, muito rapidamente, pois os agentes da desinformação usam marcas, companhias e mídias consolidadas para promover e ampliar a desconfiança”, explicou. Outro ponto é que como o mercado digital é muito segmentado, os criminosos digitais acabam por transmitir para a vítima a responsabilidade de identificarem se estão diante de informações falsas ou verdadeiras. “Ou seja, quanto maior for a transparência de empresas e marcas, melhor e mais fácil será combater a desinformação”, completou.
Especialista no combate à desinformação há vários anos, Natália Leal, cuja plataforma integra 160 organizações de jornalismo, ressaltou que apesar de todos os esforços existentes, ninguém está preparado para lidar com o problema em sua ampla extensão. “Em 2015, nosso foco era saber se determinado político estava mentindo e as consequências disto para a população. Hoje, esta preocupação se tornou menor diante de um cenário no qual as pessoas se julgam capazes de saber o que é verdade ou não, sem de fato serem. Além de existir a incompreensão e a má fé em relação ao real conceito de 'liberdade de expressão' e a grande dissonância sobre o que as marcas entendem e o que de fato é desinformação”, explicou a executiva.
Natália informou também que, este ano, a Agência Lupa identificou 90 golpes, sendo que em 40 deles foi utilizada IA. Outro dado relevante é que 78% dos golpes realizados se utilizam da credibilidade de marcas ou personalidades públicas para enganar as pessoas. “Ou seja, as empresas, marcas e personalidades precisam ter estratégias para combater rápida e efetivamente fake news e deep fake , se antecipando a eventuais problemas, com o intuito de evitarem danos à reputação, às vendas e aos resultados financeiros”, ressaltou a CEO e diretora executiva da Agência Lupa.
Além disso, é preciso que as pessoas desconfiem um pouco mais de si mesmas e de suas certezas, tomando o cuidado de checarem cada vez mais as informações que recebem, antes de retransmitirem.
Como jornalista experiente, Sérgio Lüdtke, que publica o renomado Observatório da Imprensa, fez uma retrospectiva do quão antigo e difícil é o problema. “Parece estarmos falando de um mundo novo, mas técnicas usadas por atores maliciosos para gerar desinformação e prejuízos reputacionais existem há séculos, assim como o uso de tecnologia para gerar conteúdos falsos ou duvidosos. A novidade é o volume, a agilidade na transmissão e a sofisticação dos agentes da desinformação, que tendem a se intensificar e piorar ainda mais com o WhatsApp e a inserção de IA”, detalhou.
“Outro agravante é que as pessoas se sentem imunes ao propagar desinformação e há certa dificuldade em distinguir o que é fato e o que é opinião, algo extremamente necessário. Em outras palavras, falta autocrítica, proveniente de pessoas físicas e jurídicas, pois nossa atuação envolve reputação, visibilidade, credibilidade e dinheiro e precisamos conquistar a confiança das pessoas. Falta um chamado para a responsabilização”, complementa Taís.
De acordo com Taís, esta é a “Era da Desconfiança” e o fio de confiança e expectativas positivas aponta para as marcas, pois governos e instituições estão sendo questionados. “Todos temos de nos inteirar do que está acontecendo no mundo e, como gestores de marcas, precisamos debater e educar a sociedade em relação à importância de combater a desinformação. É preciso pensar sobre isto do ponto de vista das marcas, o que nos motivará a selecionar melhor com quem nos relacionamos, ou seja, para quais produtores de conteúdo e influenciadores destinamos nossos investimentos”, alerta.
Para Sérgio, a área de jornalismo vem tentando combater a avalanche de forma isolada, sendo que é fundamental envolver outras forças sociais. “A solução passa pela união publicitários, jornalistas etc, para gerar e zelar por um ambiente informacional de confiança, em benefício da sociedade. Afinal, todos dependemos de um ambiente digital saudável e ético”, enfatizou.
A proposta de colaboração foi bem-recebida por todos e Márcio Borges acrescentou que é preciso também estabelecer padrões claros de transparência, que permitam análises comparativas entre empresas e marcas.
A discussão, realizada no Festival do Clube de Criação, vem ao encontro de decisão recente do Superior Tribunal Federal em relação às plataformas digitais no Brasil, que agora podem ser responsabilizadas civilmente por conteúdos ilícitos, mesmo sem ordem judicial, desde que notificadas e omissas. Portanto, todos os elos da cadeia de comunicação precisam e devem ser realmente mais comprometidos com a qualidade e veracidade dos conteúdos divulgados.
Clezia Martins Gomes
Festival do Clube de Criação
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Sem estas empresas, NÃO haveria Festival.
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