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A obsolescência da excelência (Guilherme Nesti)
Era 2009.
Quem escrevia, escrevia esgotado.
Quem desenhava, desenhava desumano.
E a impressora, antes de ser obsoleta, obedecia.
Até que Astério Segundo, redator na agência onde eu trabalhava, vomitou palavras:
"Já pensou como seria bom se existisse uma ferramenta em que a gente apertasse um botão e saissem 10 roteiros? Apertasse outro e aparecessem 50 títulos?"
Sem soberba e sem saber, Astério - austero - profetizou a profissão.
Hoje, isso existe. Mas não é uma ferramenta. Ferramentas constroem.
E a verdade é que a facilidade em produzir está destruindo nossa capacidade.
Se hoje a máquina gera tudo, a pergunta que fica é: ainda conseguimos produzir como antes?
Veja: não estou questionando a infinidade de possibilidades execucionais criativas que a tecnologia nos proporciona. Nem a importância de dominar as ferramentas de AI. Mas sim, o que ainda somos capazes de fazer sem ela.
Somos os mesmos criativos sem o exercício de vocabulário de escrever um roteiro do zero?
Temos as mesmas referências sem o ofício de ir procurar a imagem perfeita?
É uma reflexão egoísta.
Porque a busca por soluções rápidas nos torna profissionais piores. Estamos atrofiando músculos que fazem diferença, ainda que não notemos de cara.
Na decada passada, Bruno Oppido e João Linneu recorreram a serigrafia, datilografia e outros recursos tecnicamente ultrapassados.
O motivo? O mesmo que os fez se destacarem tanto no que fazem.
Em 2009, Astério se desgastava no processo criativo vigente.
Mas foi escrever, reescrever, tentar, errar e acertar o que fortaleceu o seu craft.
Quem produzia eramos nós. E quem imprimia era a máquina.
Meu medo? Que esses papéis se invertam.
A ponto de nos tornarmos tão obsoletos quanto uma impressora.
Guilherme Nesti, diretor de criação da GUT São Paulo
Leia texto anterior da seção "O Espaço é Seu", aqui.
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