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Coluna do W.O.

Abre as asas sobre nós

25.10.21

Escrever no Globo é fácil porque te dão toda a liberdade. Mas também é difícil porque te dão toda a liberdade. Particularmente para um cara como eu, que se adestrou a vida inteira para respeitar os briefings, prazos e julgamentos do universo da publicidade. De todo jeito, como sou publicitário, mas não sou bobo, sempre aproveito a liberdade que O Globo me empresta.

Comecei meses atrás, comentando que existe gente no mundo que imagina que eu entenda de publicidade quando, na verdade, entendo mesmo é de sorvetes, a ponto de achar que, se o Brasil tivesse entre seus dirigentes um “sorvetólogo”, como eu, a situação estaria melhor.

Já escrevi sobre as mulheres da geração Angela Merkel, que foram as grandes líderes políticas do auge da pandemia.

Já apresentei a designer japonesa Rei Kawakubo, curadora das melhores lojas de roupas do planeta, onde 100% dos políticos brasileiros não se vestem. Já expliquei que fazer o teste da Covid-19 antes de um jantar com amigos em Londres virou símbolo de boa educação. Já propus a criação de uma campanha altamente popular incentivando as pessoas a usar máscaras e já comentei que, com essa polarização maluca entre esquerda e direita, qualquer dia desses, canhotos geniais como Michelangelo, Da Vinci, Picasso, Van Gogh e Anita Malfatti serão acusados de ser comunistas.

Já escrevi sobre a série “The Crown”, vencedora do Grammy e fotografada pelo premiado diretor brasileiro Adriano Goldman. E, para explicar meu amor por boas frases, contei que cheguei a essa conclusão no dia em que percebi que o cartão era mais importante que as flores.

Escrevi também sobre a falta de livros brasileiros nas listas dos melhores de cada país, publicadas pela editora Condé Nast, e especulei se isso não teria alguma coisa a ver com a taxação que alguém cogitou colocar sobre livros no Brasil, sob o argumento de que no país só os ricos leem.

Já pedi socorro imaginando a onda de passadismo que a campanha pela volta do voto impresso poderia causar e já falei da jovem Luana Araújo, que teve seus merecidos 15 minutos de fama na CPI da Covid.

Já escrevi sobre a campanha inglesa que incentiva e homenageia o sexo na terceira idade e sobre o idioma que o presidente fala, o bolsonarês claro, sempre recheado de sacanagens e sacanagem.

elogiei o Rio de Janeiro comentando uma série de filmes sobre Nova York, já contei do marido mala sem alça que sou durante a Olimpíada, já menti sobre meu corpinho de 45 anos, às vésperas de fazer 70, já flagrei o lado bom e o lado ruim dos nudes no WhatsApp.

Já comentei algumas zebras que aconteceram recentemente no 7 de Setembro, na política, na música, no futebol, e aproveitei pra comentar algo que não dá zebra jamais: a capacidade do Caetano Veloso de, pela sua arte, sempre se perguntar “por que não?”.

Relembrando tudo isso, depois de 20 textos diferentes publicados nestes quase nove meses de página 3, cheguei à conclusão de que está na hora de pedir um favor para você que me lê.

Fiquei com vontade de pedir aos leitores que mandem sugestões de temas para os próximos textos. Não vou garantir escolher nenhum deles, muito menos prometer que possa fazer algo realmente interessante. Mas não custa tentar.

Esse negócio de “liberdade” — que em português é o nome do bairro que colocou a comida japonesa na moda em São Paulo; na geração Woodstock, foi o nome do grande hit de Richie Havens, “Freedom”; e hoje virou hino na voz da Beyoncépode render alguma coisa diferenciada.

Existe um livro do filósofo político britânico Isaiah Berlin, chamado “Dois conceitos de liberdade”, onde ele fala da liberdade negativa e da liberdade positiva. A primeira supõe a ausência de impedimentos à ação dos indivíduos; a segunda supõe a presença de condições para que os indivíduos ajam de modo a atingir seus objetivos.

Gosto da mistura das duas; uma espécie de versão literária do Grupo Fundo de Quintal cantando: “E a gente vai ser feliz / Olha nós outra vez no ar / O show tem que continuar”.

Washington Olivetto
Publicitário

washington@washingtonolivetto.com.br

Texto publicado no jornal O Globo

Leia texto anterior da Coluna do W.O., aqui.

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