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Coluna do W.O.

Paulistano que virou carioca: parte 3

06.12.21

Hoje em dia, tenho saudades de algumas coisas boas que o Rio tinha, mas não tem mais, e me encanto com muitas das coisas novas que foram surgindo.

Eu, que ouvia o piano do Luizinho Eça, acompanhando a voz da Leny Andrade, no Chico’s Bar, a interpretação tresloucada de “Perfume de gardênia”, criada pelo Edy Star, no Teatro Rival, e o clássico “Popular”, do Elymar Santos, no Canecão, hoje ouço os sambas do Mosquito com o Pretinho da Serrinha, no Beco do Rato.

Continuo frequentando o Azumi, que existe desde 1989, mas, de vez em quando, mesmo odiando shoppings, vou até o Naga no Village Mall, extensão carioca do paulista Nagayama, que chegou ao Rio em 2013 e ficou para sempre.

Curiosamente, o outro grande restaurante japonês do Rio Janeiro é italiano: o Satyricon, que faz magníficos sushis e sashimis. Na verdade, como restaurante, o Satyricon japonês só perde para o Satyricon italiano, que, com seus peixes e massas excepcionais e o comando firme e sereno da minha amiga Sandra Tolpiakow, pode ser considerado um dos melhores restaurantes do Brasil e do mundo.

Falei da Sandra do Satyricon, mas outra mulher poderosa da gastronomia ítalo-carioca é a Conceição, que há anos lidera o Margutta, restaurante criado por seu marido, Paolo Neroni.

Satyricon e Margutta podem ser considerados restaurantes grã-finos, como podem ser considerados grã-finos o Nido, com a comida veneziana do chef Rudy Bovo, o Sud, da Roberta Sudbrack, e o Gajos D’Ouro, com 27 profissionais do antigo Antiquarius.

Gosto muito dos cinco, mas gosto também dos restaurantes mais populares, da comida de botequim do Bracarense e do Jobi, das empadinhas do Salete e do Caranguejo, da barriga de porco do Bar Rainha.

Gosto tanto desse tipo de comida que, nove anos atrás, ofereci para uns gringos importantões que visitavam o Brasil um final de tarde em Ipanema com vista para o Arpoador e o Dois Irmãos, Celso Fonseca cantando bossa nova ao vivo e comidinhas e bebidinhas do Chico & Alaíde. Os gringos falam desse fim de tarde até hoje, e eu só lamento que o Chico e a Alaíde tenham fechado seu bar na Dias Ferreira.

Falei de comida, bebida e música, mas adoro também o Rio dos museus tradicionais, como o MAM, e dos mais novos, como o MAR. Gosto das galerias de arte, como a Gentil Carioca, a Fortes D’Aloia & Gabriel, que gerou o espaço Carpintaria, e da coleção do Luís Paulo Montenegro. Sou fã de espaços culturais, como a Casa de Cultura Laura Alvim, que, no final de 2019, apresentou uma pequena, mas relevante exposição sobre o trabalho dos Dzi Croquettes.

Tenho velhos e queridos amigos no Rio, a maioria gente da música, da literatura, do cinema, das artes plásticas, da arquitetura, do jornalismo, do teatro, da televisão e da publicidade.

Mas, nos últimos anos, acabei conhecendo em Londres e ficando amigo também de alguns cariocas bem-sucedidos do mercado financeiro.

Quando estou no Rio, convivo intensamente com minha turma e, ultimamente, morro de saudades do meu super-herói André Midani, padrinho da minha filha Antônia, que saiu voando no dia 13 de junho de 2019.

Gosto de muitas coisas do Rio de Janeiro, mas também existem coisas de que não gosto: fico triste com o número de pessoas abandonadas nas ruas. Acho um absurdo que calçadas históricas, como as de Copacabana, Arpoador, Ipanema e Leblon, estejam esburacadas, sem que ninguém se preocupe em reparar suas preciosas pedras.

E não suporto o descabido e perigoso tráfego de patinetes elétricos que invadiu as avenidas fechadas para os pedestres aos domingos e feriados.

Acho que estão esperando acontecer um grande acidente para botar ordem nessa bagunça, coisa que a maioria dos lugares civilizados já fez, faz tempo.

Evidentemente, existem ainda outras coisas do Rio de hoje em dia de que não gosto, mas prefiro não falar delas.

Em vez de criticar o que quer que seja, prefiro falar do meu amor pelo Rio. Uma cidade que é bonita, até nos dias feios, e boa, até em tempos ruins como estes que estamos vivendo.

Washington Olivetto
Publicitário

washington@washingtonolivetto.com.br

Texto publicado no jornal O Globo

Leia texto anterior da Coluna do W.O., aqui.

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