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Coluna do W.O.

Faça o teste

15.03.21

Nos anos 1950, a maior parte dos homens brasileiros, não fazia a barba todos os dias.

Não porque eles quisessem ficar parecidos com o Brad Pitt, que nessa época nem tinha nascido. Era por desleixo mesmo, falta de higiene e cuidados pessoais.

Esse comportamento só começou a mudar, depois que a Gilette Company lançou uma grande campanha de publicidade com o tema, “Faça a barba todo dia com Gilette Azul”, inventando assim o brasileiro bem barbeado.

Também nos anos 1950, a maioria dos brasileiros se vestia sempre com um terno cinza ou preto. Isso só ganhou novas cores, quando o jovem José Vasconcelos de Carvalho, antes dos 30 anos de idade, criou a Ducal.

José Vasconcelos percebeu como era sem graça a roupa do homem brasileiro. E percebeu também que na maioria dos ternos, as calças estragavam antes do que os paletós, porque eram usadas um maior número de horas por dia. Os paletós ficavam pendurados nas cadeiras dos escritórios, enquanto as calças circulavam.  Ainda por cima, era um tempo em que muita gente fumava e algumas brasas dos cigarros caiam nas calças que viviam esburacadas.

José Vasconcelos, a partir dessas observações, teve a ideia de lançar a Ducal, que vendia um paletó e duas calças pelo preço de um terno. Sendo que uma das calças era de uma cor diferente do paletó.

Foi assim que muitos brasileiros mudaram o jeito de se vestir, e foi assim que o paletó virou blazer.

Nos anos 1960, os adoçantes artificias tinham fama de serem algo que alterava o sabor dos cafés, sucos e sobremesas. Foi quando a Suita fez um anúncio nas revistas, com uma foto da muito jovem Bruna Lombardi, e o título “Pra onde foi aquela menininha loirinha e bonitinha que você era? Suita não engorda”.

Esse anúncio mudou a percepção do público sobre adoçantes. E aquilo que tinha cara de remédio, acabou virando moda.

Estou contando essas histórias do século passado, porque, independentemente da época, novos hábitos surgem porque as pessoas sabem o que querem, mas também querem o que não sabem.

Nesses tempos da Covid, a informação está ganhando da persuasão. Empresas que se preocupam em informar estão construindo uma reputação melhor do que aquelas que só se preocupam em vender.

Mas mesmo numa época sem grandes campanhas publicitárias, alguns novos hábitos têm surgido.

Aqui em Londres, junto com a vacinação em massa que, ao contrário do Brasil, está acontecendo numa velocidade impressionante, os governantes se preocuparam em montar lugares de testes para as pessoas saberem se estão ou não com Covid.

Os testes são gratuitos e o resultado sai em uma hora. O primeiro desses lugares foi inaugurado na Subprefeitura de Kensington. Mas agora já existem vários outros, em diversos pontos da cidade.

Dias atrás, convidei um amigo para jantar na minha casa. Ele aceitou o convite, mas fez questão de avisar que pouco antes do jantar faria o teste. Esse meu amigo é bastante jovem, extremamente educado, nasceu numa família rica e hoje dirige uma grande empresa.

Mas não são apenas os que nasceram e vivem em condições privilegiadas que estão fazendo o teste antes de visitar quem quer que seja. Gente mais humilde também já aderiu a esse novo hábito.

Muitas das diaristas, aqui chamadas de housekeepers, que cuidam das residências de diferentes famílias, estão fazendo o teste todas as segundas-feiras.

Fazer o teste, virou um novo gesto de boa educação e respeito com a saúde de todos.

Não duvido que esse gesto continue a ser praticado, mesmo depois da maioria da população do Reino Unido estar vacinada, coisa que deve acontecer até 1 de julho de 2021.

Nessa mesma data, do jeito que a coisa vai, o Presidente da República do Brasil e seu Ministro da Saúde, ainda devem estar discutindo se as vacinas imunizam mesmo, quem vai pagar as seringas, qual o motivo de usar máscaras e por que fazer a barba todos os dias.

Washington Olivetto

Publicitário

washington@washingtonolivetto.com.br

Texto publicado no jornal O Globo

 

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