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Digital Favela

Pesquisa mostra o papel da influência e dos apps e o consumo via web

12.08.22

Empreender, em muitos casos, é questão de sobrevivência. Quem diz isso é Celso Athayde, coCEO da Digital Favela. A frase pode ser aplicada aos resultados apresentados por uma pesquisa encomendada pela empresa e realizada pelo Data Favela com moradores de favelas de todo o Brasil. O trabalho aponta que 41% dos entrevistados têm um negócio próprio. Dos que têm um empreendimento, 57% declaram ter investido nesse meio de obter renda para driblar a ausência de oportunidades com carteira assinada no mercado formal.

Os negócios são muito diversificados, mas os tipos mais comuns são restaurantes, lanchonetes ou outros ligados à alimentação, com 10% das respostas. Em seguida, estão revenda de produtos cosméticos (8%), comércio ou serviço de manutenção de eletrônicos (6%), serviços domiciliares e de limpeza, comércio ou serviços de manutenção de roupas e de acessórios, serviços de estética e cabeleireiro (todos com 5%) e motorista de aplicativo (4%), entre outros. De todos os negócios, 67% não têm CNPJ.

Sem emprego, as pessoas se veem obrigadas a procurar alternativas e optam por investir em habilidades que podem virar serviços, como alimentação, estética e manutenção de eletrônicos, por exemplo”, diz Athayde, que também é CEO da Favela Holding.

Parte desses negócios está dirigida ao atendimento da comunidade, com a oferta de serviços locais. Para crescer, a principal dificuldade é o acesso à capital para investimento, de acordo com 40% dos entrevistados – no caso das mulheres empreendedoras, esse índice é de 43%.

Na sequência, entre os obstáculos, estão falta de equipamentos adequados (25%) e a dificuldade de fazer a gestão financeira do empreendimento (14%). “Ao empreender por necessidade, as pessoas têm poucos recursos formais para embasar os negócios. Elas criam e crescem na raça, apesar das dificuldades. Porém, se tivessem acesso a mais estrutura, certamente, prosperariam ainda mais”, afirma Athayde.

Outro ponto da pesquisa destaca a importância da internet nas favelas brasileiras, sobretudo entre os empreendedores. Dos que têm um negócio, 58% usam a rede como fonte de informação sobre a atividade que exercem. E 76% recorrem à web e às redes sociais para divulgar seus serviços.

Influência

O dado mostra como a favela está conectada, engajada e sendo uma grande fonte de influência de dentro para dentro. Mais do que ninguém, os próprios moradores sabem qual é a linguagem ideal para atrair seus clientes e o tipo de conteúdo que aquele determinado assunto precisa. Por isso, acabam se transformando em influenciadores digitais e que, muitas vezes, podem representar diversas marcas que desejam essa mesma conexão com as favelas”, analisa Guilherme Pierri, coCEO da Digital Favela.

O reconhecimento dos demais moradores sobre o negócio, o famoso “boca a boca”, aparece como fonte de divulgação para 56% dos proprietários. Ao mesmo tempo, 88% de quem vive nas favelas afirmam confiar mais nas indicações de um influenciador da própria comunidade do que nas de pessoas famosas (resposta de 12% dos entrevistados).

O senso de comunidade e pertencimento é muito latente. Assim como acontece com grandes empresas, a indicação é o reconhecimento de qualidade e aumenta a reputação de um produto ou serviço dentro daquela comunidade. Por isso, a representatividade e legitimidade acabam sendo os grandes fatores de sucesso nessa comunicação”, acrescenta Pierri.

Já sobre influência para compras, mais da metade dos entrevistados (52%) confia nas informações que veem na TV, 47% confiam nas informações da internet e um em cada três confia em propagandas com pessoas famosas.

Consumo

A pesquisa indica que 41% dos entrevistados nunca compraram diretamente pela internet. E 25% compraram há mais de três meses. Com relação à entrega dos itens comprados online, 61% declararam que eles chegaram na porta da casa. Das pessoas consultadas, 23% disseram que a loja não consegue entregar as compras em seus endereços.

Nos próximos 12 meses, 29% têm intenção de adquirir eletrodomésticos; 28%, roupas; móveis, 21%; calçados, 20%; e TV (19%).

Aplicativos

O trabalho do Data Favela revelou que cerca de metade dos entrevistados usou algum aplicativo para trabalhar ou obter renda. No topo da lista, estão as ferramentas de mensagens instantâneas. Ou seja, WhatsApp e Telegram, com 31% das menções. O WhatsApp, por sinal, é o app mais baixado nos celulares dos moradores das comunidades, que, em média, têm 3 no aparelho.

Em seguida, entre as aplicações escolhidas para garantir o sustento estão as redes sociais, como Instagram e Facebook (22%). Em terceiro, estão os de transporte: Uber, 99 e Easy Táxi (11%). Os apps de venda online como Mercado Livre, OLX e Enjoei foram citados por 7% dos moradores. E os aplicativos de delivery ou entrega como Uber Eats, iFood e Rappi, por 6%.

Outro dado da pesquisa se refere à importância dos aplicativos para garantir o sustento nas favelas. Entre quem usou apps, eles foram responsáveis por metade da renda para 23% dos entrevistados enquanto ele foi a única fonte para 20%. Para 10%, os aplicativos foram a maior fonte. E para 43% eles representaram a menor parte.

De acordo com o estudo, 83% dos internautas nas favelas concordam que a internet é muito importante e é sua principal fonte de informação. E para 62% a web é sua principal ferramenta de trabalho.

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