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Festival do Clube 2019

Tendências e Mudanças Urbanas no palco da Cinemateca

03.10.19

Sustentabilidade é um assunto urgente e tanto o marketing quanto a publicidade precisam se engajar e passar a olhar com mais atenção para o conceito com o fim de comunicar ao grande público, de maneira mais clara, as questões sobre preservação do meio ambiente. Essa foi a conclusão do debate “Tendências e Mudanças Urbanas”, realizado durante o Festival do Clube de Criação 2019.

Para o mediador e sócio-diretor de estratégia da agência ForAll, Raphael Barreto, o marketing e a publicidade ainda encaram o tema de modo oportunista. “Há um cacoete muito grande na maneira de olhar e perdem-se oportunidades de amplificar os pontos essenciais, colocando luz no assunto para se consumir melhor. É preciso justificar para o ‘big money’ que vale a pena colocar dinheiro nessa causa”, afirmou.

Chiara Gadaleta, apresentadora do programa Menos é Demais (Discovery Channel) e fundadora do Movimento EcoEra, afirmou que isso ocorre porque tudo ainda é novo e há um longo caminho para se comunicar melhor os desafios de sustentabilidade. “Estamos aprendendo a falar sobre esse assunto e precisamos de um novo padrão para tratar as informações, sem maquiar dados, como se fazia antes, colocando mais propósito no que se diz”, declarou.

A ex-modelo viu na mudança da moda um ponto de partida para conscientização da sociedade. “A indústria da moda teve de se repensar. Os grandes magazines estão sendo obrigados a rever seus processos de compras e tudo mais porque não se falava em trabalho escravo nas confecções ou excesso de uso de água na fabricação dos tecidos”, exemplificou. Chiara disse que o consumo consciente vem ganhando corpo agora porque as pessoas estão obtendo mais informações. E alertou que o mundo não vai aguentar manter o nível atual das coisas.

A opinião é compartilhada por Livia Humaire, geógrafa e fundadora do Mapeei - Uma vida sem plástico, que propõe o conceito “zero waste”. “Em 13 anos consumimos mais plásticos que do que no período de 1950 até 2005. Estamos perturbando todo o meio ambiente com o sistema atual. Uma grande cidade como São Paulo só recicla 3% de seu lixo. Isso precisa mudar. As pessoas até querem ser sustentáveis, mas ainda há muito ruído na comunicação”, salientou Livia.

Mas a mudança é lenta, segundo Carol Bueno, sócia da Triptyque Architecture. Especializada em construções sustentáveis, ela contou que há 20 anos tenta conscientizar os clientes dos benefícios desse tipo de construção. Formada na França, ela disse que desde os tempos de estudante já tinha informações sobre o impacto da construção civil no meio ambiente.

De volta ao Brasil, teve bastante dificuldade para mostrar aos clientes que um projeto deve levar certos aspectos ambientais em consideração. “Fizemos um trabalho de formiguinha nesse sentido, o que incluiu a formação de novos profissionais. Hoje temos 110 arquitetos trabalhando conosco.”

E a questão precisa evoluir, porque, de acordo com ela, 54% das pessoas no mundo vivem hoje em áreas urbanas e isso deve subir para 66% até 2050. “No Brasil, o déficit de habitação era de 5,6 milhões de casas em 2007, atingindo 7,78 milhões em 2017. Conceitos precisam ser revistos”, acrescentou. A arquiteta está tocando um projeto pioneiro de coliving completamente sustentável, com um prédio feito de madeira que será construído na Vila Madalena, em São Paulo.

O avanço das cidades também preocupa Geraldo Maia, CEO da Pink Farms, uma startup que se propõe a produzir hortifrutis de maneira hidropônica em prédios urbanos. “Criamos uma fazenda vertical urbana em 2016 porque é preciso ser mais produtivo, economizando mais água e sem utilizar grandes espaços de terra agriculturável”, esclareceu.

Essas mudanças nas grandes cidades têm de passar também pela mobilidade, de acordo com o vice-presidente global de comunidades da Grow Mobility, Marcelo Loureiro. A empresa, que uniu os patinetes da Green com as bikes da Yellow, diz que a demanda por mobilidade mais sustentável é grande. “O Uber levou três anos para contabilizar dez milhões de viagens. Nós só levamos 10 meses para chegar a isso, o que demonstra que há uma grande mudança na sociedade como um todo que quer se mover de uma forma diferenciada”, explicou.

É nessa mudança do mindset dos usuários que a Grow aposta. “Mas isso não pode vir de maneira isolada, é preciso mudar não apenas a mobilidade urbana como também a mobilidade humana. Por isso, trabalhamos também com as pessoas envolvidas em toda a cadeia movimentada pela Grow”, revelou Loureiro.

Segundo ele, a empresa gerou um impacto importante na mobilidade das grandes cidades, o que exigiu pessoas na execução das atividades. Por isso, eles passaram a contratar pessoas em situação de risco social, como ex-detentos, menores infratores, entre outros, para ajudar na operação e, assim conseguir mudar histórias, capacitando essas pessoas para atuar em vários setores.

É uma batalha grande mudar a forma de pensar de uma sociedade, mas é preciso que isso se espalhe. E a informação será essencial nesse processo”, completou Chiara Gadaleta.

 

Anna Lúcia França

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