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Festival do Clube 2021

Povos da floresta e a construção de um pensamento plural

23.09.21

O painel "Povos da Floresta: Lacuna Histórica na Indústria da Comunicação", na 9ª edição do Festival do Clube de Criação, mostrou que é fundamental constituir uma rede de comunicação capaz de romper com os estereótipos associados à cultura dos povos originários. “É preciso entender a diversidade dos parentes que estão em florestas, aldeias, mas também nos ambientes urbanos, como as favelas e periferias”, ressaltou a jornalista Renata Machado Tupinambá, poeta, produtora e cofundadora da Rádio Yandê, que foi a mediadora do debate.

O primeiro depoimento foi da ativista Alessandra Korap, do povo Munduruku, empenhada na luta em defesa dos direitos de seu povo e também na preservação do meio ambiente. De acordo com ela, o novo padrão de comunicação precisa mostrar que as causas indígenas contemplam as demandas de todo os habitantes do planeta. “Vemos o desmatamento, as ações do garimpo e do agronegócio, e também percebemos a mudança nos ventos, nos rios, nas estações de plantio”, advertiu. “Essa luta por conservação não deve ser somente dos nossos povos, mas de toda a humanidade”.

Em sua fala, Alessandra denunciou ataques frequentes às aldeias e a complacência do governo com aqueles que destroem os recursos naturais. “Precisamos mostrar que está acontecendo, em cânticos, em danças, em histórias contadas, mas também em vídeos, em material que esteja à disposição na internet”, afirmou. “A floresta pede socorro e temos, portanto, que divulgar o que está ocorrendo em nossos territórios”.

O ilustrador, designer e artista plástico Denilson Baniwa, nascido na aldeia Darí, no Rio Negro, no Amazonas, corroborou a fala de Alessandra. Segundo ele, os povos originários precisam se apropriar das linguagens ocidentais para divulgar uma mensagem decolonial. “Meu trabalho está focado na construção de um pensamento plural indígena de viés político, dedicado a comunicar aos não-indígenas que a Amazônia não está desligada do Cerrado e da Mata Atlântica”, afirmou. “Todos esses territórios estão intimamente associados e uma queimada no Mato Grosso pode escurecer o dia na cidade de São Paulo”.

A jornalista Elaíze Farias, do povo Sateré-Mawé, tratou especialmente da missão da agência jornalística Amazônia Real, focada em assuntos dos povos indígenas e em temas de cunho socioambiental. Segundo ela, é preciso fortalecer esse contraponto à grande imprensa tradicional, de matriz eurocêntrica e sempre interessada em reproduzir a lógica do mercado. “Trata-se de uma visão, de natureza racista, que sempre coloca os indígenas como inimigos do progresso”, criticou.

Elaíze explicou que a agência transformou procedimentos no fazer jornalístico. “Precisamos respeitar como cada indígena quer ser identificado, por qual nome e com qual pronúncia”, disse. “Também precisamos mudar o modo de perguntar, porque o entrevistado não tem obrigação de responder”. Segundo ela, é preciso respeitar padrões próprios de comunicação, ganhar a confiança do interlocutor e compreender seus interesses no diálogo. “É fundamental verificar se ele nos autoriza a fotografá-lo e a publicar essa imagem”, salientou.

Sioduhi, do povo Piratapuya, identifica-se como “indígena criativo”, termo que cunhou para quebrar o padrão de autoridade do termo “diretor criativo”. Ele lidera um estúdio de moda e cofundou o Coletivo Indígenas Moda BR. Segundo ele, é fundamental apresentar-se uma alternativa à moda eurocêntrica, que valorize os povos originários e constitua uma conscientização sobre o uso sustentável de materiais de confecção. “A moda pode contribuir muito para divulgar nossa cosmovisão e mostrar a enorme diversidade das culturas indígenas”, afirmou. “Nosso trabalho rompe com estereótipos, valoriza a resistência de nossos povos e salienta a importância da produção ambientalmente limpa”.

O painel contou também com um depoimento gravado de Niotxaru Pataxó, ativista LGBTQIA+, educador, comunicador, um dos criadores do canal Papo de Índio. Segundo ele, esse veículo digital, associado a outros, como o Mídia Ìndia, são referências de uma nova forma de luta de resistência decolonial. “É fundamental que comuniquemos nosso jeito de ser e que discutamos questões atuais de nossas comunidades, como sexualidade e gênero, sempre desconstruindo a narrativa do colonizador”, resumiu.

Walter Falceta

Serviço
Festival do Clube de Criação
Quando22 e 23 de Setembro de 2021
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