arrow_backVoltar

Festival do Clube 2022

Saúde mental: assédio, excesso de trabalho e medo do desemprego

25.10.22

O painel "Saúde Mental: do 'Quiet Quitting' à Economia do Cuidado", na edição de 2022 do Festival do Clube de Criação, trouxe a questão da saúde mental nas empresas, abordando o tema sob diferentes pontos de vista. A pandemia foi destaque nas falas dos participantes, graças ao impacto e às inúmeras e profundas mudanças que provocou tanto na vida das empresas quanto na dos seus colaboradores. A mediadora, a jornalista Cilene Pereira, deu a palavra a Camila Valverde, COO do Pacto Global da ONU no Brasil e do Movimento Mente em Foco, que faz parte do Pacto.

O Pacto Global da ONU é um braço das Nações Unidas para sustentabilidade empresarial. Por meio do Movimento Mente em Foco, tem a ambição de ter mil empresas com programas estruturantes de saúde mental e impactar 10 milhões de trabalhadores no Brasil. Segundo Camila, a saúde mental já era um tema crítico antes da Covid-19. "A pandemia só agravou esse tema", disse.

Camila exibiu uma apresentação, mostrando pontos importantes sobre o assunto. Entre eles, estão dados da OMS  (Organização Mundial da Saúde) que asseguram que o Brasil é o país mais ansioso do mundo e que depressão e ansiedade custam US$ 1 trilhão por ano à economia global em perda de produtividade. Outra informação relevante trazida por ela é que alguns dos principais fatores de risco para a saúde mental dos trabalhadores são assédio e bullying, além de excesso de trabalho, jornadas inflexíveis e medo do desemprego.

De acordo com Camila, em função disso, as empresas precisam promover ambientes de trabalho seguros. O Pacto Global convida as organizações a assumirem compromissos públicos relacionados ao tema. "Um passo importante é treinar e preparar os líderes. Afinal, o chefe representa 80% do status psicológico do colaborador", disse Camila.

Aproveitando este dado a respeito do impacto que os chefes têm na saúde emocional dos colaboradores (que causou burburinho na plateia), Cilene perguntou a todos o que as empresas estariam fazendo para mudar este cenário. "Uma coisa que percebo é que sempre houve um discurso de que a empresa se preocupa com o funcionário, mas na vida real ainda existe muito conflito. A evidência mais clara de que as empresas ainda resistem muito a se engajar de verdade na melhora da qualidade de vida mental do seu funcionário é que a gente continua vendo as organizações em conflito com os funcionários que não querem voltar ao regime de trabalho anterior à pandemia", avaliou. "No mundo, as pessoas mostram que não querem mais trabalhar naquele esquema anterior, no entanto muitas empresas insistem que o trabalho tem que ser retomado daquela forma, com horário. O que eu percebo é que existe um gap ainda entre o discurso e a realidade. E não só no discurso oficial das empresas, mas também nas relações interpessoais. Há assédio moral do chefe, o funcionário tem medo de se expor e perder o trabalho. Então gostaria que vocês trouxessem isso mais para este nível da realidade. Há essa resistência e como superá-la?", questionou.

Para Mafoane Odara, líder de RH da Meta América Latina, este é o grande tema. A executiva confirmou a impressão da mediadora, afirmando que esse problema é real. "As empresas têm uma dificuldade muito grande de ajustar essa discussão de saúde mental da forma correta", disse. Segundo ela, a saúde mental nas empresas deve estar na estratégia da companhia. É uma questão complexa, que exige uma solução complexa, com três pilares: pessoa (cuidado e prevenção), relações (estabelecer relações saudáveis, ser reconhecido) e estrutura (que envolve, inclusive, avaliação)."Muitas empresas delegam este assunto para o RH, mas dessa forma a equação não fecha. É preciso trazer a liderança para este processo, ela também precisa ser cuidada", afirmou.

Mafoane afirmou que a pandemia exigiu um nível de autonomia que as pessoas não estavam preparadas para gerenciar. E autonomia não é o mesmo que independência. Isso se tornou um dos grandes fatores causadores de burnout e, ao mesmo tempo, fez com que as pessoas aprendessem a importância da colaboração. "A questão tem um componente da empresa e um individual. É uma co-responsabilidade".

Lorena Soares, psicóloga e COO da Amar.elo Saúde Mental, explicou que não existe uma receita para cuidar da saúde mental, cada empresa vai fazer isso de acordo com a sua cultura. Mas também ressaltou a importância de o tema ser tratado de forma estrutural dentro da empresa. "Se o olhar for um estratégico, todos os setores vão permear essa temática. Ainda temos muito a crescer nesse sentido e a maturidade das empresas para isso é muito pequena", disse. "Trabalhar as lideranças é primordial. Eles estão em uma situação delicada, são o recheio do sanduíche, são apertados por todos os lados: de um lado a própria chefia e do outro os seus colaboradores", completou. Além disso, Lorena colocou que cada colaborador pode se colocar como uma rede de apoio. "Se um ajudar o outro, a gente consegue força até que a empresa consiga trabalhar a questão".

João Consorte, presidente da IPG Health Brasil e CEO da McCann Health, falou sobre a importância de o gestor entender o colaborador pelo que ele é e compreender o seu momento. Segundo ele, o grande desafio é lidar com as pessoas e perceber o que ela precisa para evoluir como pessoa e como profissional. "Antes da pandemia, tínhamos a terapia do bar, que era onde todos se encontravam de forma informal e falavam sobre suas dores. Hoje isso não acontece mais e precisamos buscar caminhos estruturais dentro da organização para ouvir e ajudar cada um", disse.

Maíra Liguori, diretora da Think Olga, trouxe o olhar do comunicador para o problema da saúde mental. Segundo ela, o mercado da comunicação é mais ágil, tem um turnover diferente dos outros mercados. Maíra contextualizou a questão, lembrando que estamos saindo de uma pandemia, às vésperas de uma eleição conturbada, muitos em home office (o que geralmente implica em mais trabalho) e, no caso das mulheres, ainda existe a sobrecarga dos filhos, da casa e outras questões, como o medo de perder o trabalho. "É uma dinâmica que não é favorável à saúde mental e acaba provocando o burnout", disse.

Segundo Maíra, 45% das mulheres com filhos tiveram pré-burnout ou burnout durante a pandemia. "Ninguém consegue performar com uma carga como essa. Não tem como criar com a saúde mental neste estado", afirmou. "É preciso cuidar, superar o problema de forma coletiva, como mercado, para sair deste ciclo onde todos perdem".

Confira a programação do Festival aqui.

Leia todas sobre o Festival do Clube aqui.

Serviço:

10º Festival do Clube de Criação

Patrocínio master (ordem alfabética): Globo, Google, Santeria e Tik Tok.

Patrocínio/apoio (ordem alfabética): Africa, Alice Filmes, Apro + Som, Barry Company, Broders, Cerveja Avós, Draftline, Clube da Voz, Grupo de Atendimento e Negócios, Jamute, KraftHeinz. Landscape, Modernista, Mugshot, MyMama, Nescafé Dolce Gusto ,Not So Impossible, O2, Paranoid, Piloto, Publicis, S de Samba, Sentimental Filme, Shutterstock, TBWA Media Arts Lab, Untitled, Uol, Vetor Zero, WMcCann e Zohar.

Dúvidas ou desejo de se associar? clubedecriacao@clubedecriacao.com.br ou Whatsapp do Clube: 11 - 93704-2881

Facebook Clube de Criação 

@CCSPOficial no Twitter

@ClubedeCriacao no Insta

#festidaldoclubedecriacao

Festival do Clube 2022

/