arrow_backVoltar

Lions Festivals 2018

Com a 'reestruturação', Cannes melhorou ou piorou?

22.06.18

Primeiro ano em novo formato, o Cannes Lions enxugou o calendário de 2018, de 7 para 5 dias. Oficialmente, o evento começaria na segunda-feira 18 e iria até sexta, 22. Mas, como noticiado pelo Clubeonline (aqui), no domingo (17) as portas do Palais já estavam abertas e algumas atividades oficiais aconteciam, como divulgação de shortlists.


E, circulando pela cidade, não demorou para começarmos a ouvir reclamações e questionamentos sobre alguns efeitos que as mudanças trouxeram. As cerimônias de premiação, por exemplo, acabaram ficando mais apertadas, com várias entregas (5 categorias) acontecendo na mesma noite. E, por conta deste alto número de categorias, tiveram que ser bastante encurtadas. Com exceção de Health & Welness e de Pharma (categorias do Lions Health), as Pratas e os Bronzes não são mais exibidos no palais durante a entrega dos GPs, Ouros e prêmios especiais. Alguns publicitários questionam se faz sentido deixar de exibir prêmios em um festival que existe para reconhecer e valorizar trabalhos. "Você pode ter ganhado um Leão naquela noite de premiação e só vai saber e poder comemorar no dia seguinte, quando é publicado o resultado oficial. Que graça tem isso?", disse uma criativa que prefere não se identificar.


Outra questão que ronda as ruas de Cannes é sobre a pré-seleção (pré-julgamento) de trabalhos que acontece online, individualmente e antes do festival. Segundo alguns jurados ouvidos pelo Clubeonline, muitas (mas muitas mesmo) das peças brasileiras inscritas nem chegaram a ser mostradas ao júri presencial, nas salas do Palais. Elas teriam sido eliminadas na votação online. Contudo, segundo um deles, haveria um algorítmo capaz de cruzar dados para evitar que peças caiam injustamente. A questão é que cada grupo de jurados pensa de forma diferente, cria processos próprios para o julgamento - mesmo seguindo o guide do evento. E isso tem a ver com o perfil profissional e individual de cada membro do júri e a soma dessas características e experiências, dos caminhos escolhidos, e dos argumentos discutidos em conjunto. Algo mais humano e menos numérico. Afinal, seria pra isso o júri presencial, certo?


Independentemente desse algorítmo, jurados confirmam que, no Brasil, avaliaram uma fatia de apenas 25% a 30% dos trabalhos, quando não menos. E algumas categorias, segundo um deles, teriam chegado em Cannes com tão somente de 10% a 20% de peças sobreviventes, o que chocou os jurados. "Como eu posso entender peculiaridades de um trabalho do Sri Lanka lá no Brasil, por mais que eu viva e respire propaganda, e como um jurado de lá pode entender sobre a nossa cultura local, em campanhas que de fato fizeram a diferença no Brasil?", disse um deles.


Um exemplo é o case da Colômbia que recriava o jogo da Chapecoense que não aconteceu: "The Game that Never Was". O valor da discussão in loco, segundo diz a grande maioria dos jurados, é fundamental. Só assim é possível contextualizar situações como a da Chapecoense. Em rádio, por exemplo, alguns jurados não tinham ideia da tragédia que isso representou na região e no Brasil. Mal tinham lido sobre. E quando o jurado brasileiro, Álvaro Rodrigues, contextualizou, o júri deu outro peso para o trabalho.

Somando o fato de que cada peça agora (na maioria das categorias) passa por um pré-julgamento individual, de apenas 25% a 30% do total de trabalhos inscritos, e de que, finalizada esta fase, chega a Cannes uma fatia que, em muito casos, vai de 10% a 20% do total de inscrições originais - que aí sim serão avaliadas pelo corpo de jurados, presencialmente - restam muitas perguntas em relação a se pagar valores bastante altos, em Euro, por trabalhos que não irão sequer colocar a ponta do nariz na Riviera.


"Não é justo pagar o preço que se paga pelas inscrições de Cannes se você não tem mais certeza de que seu trabalho vai passar pelo crivo do grupo de jurados divulgado, ou se vai ser cortado por cair nas mãos de jurados que não conhecem o seu contexto e não têm com quem discutir", disse um dos delegados com peças inscritas. Aliás, essa tem sido uma reclamação constante na Riviera Francesa, este ano.


Com os corredores bem mais vazios em 2018, os delegados estão aproveitando a possibilidade de aproveitar melhor o conteúdo do festival. As filas não estão tão grandes e a sensação chega a ser a de que não há tanta coisa acontecendo "tudo ao mesmo tempo agora".


Dentre as promessas para 2018, não conseguimos encontrar ninguém que tenha obtido descontos nos restaurantes de Cannes, ainda que existam alguns com o adesivo "Hungry Lions". Também não funcionou a internet na Croisette, como o esperado e prometido. Quanto às hospedagens mais baratas, não encontramos ninguém que tenha constatado valores menores do que antes. Quanto ao valor das inscrições e do passe de delegado, fizemos matéria específica sobre isso, no começo do festival (leia aqui).


#ClubeLivre

Leia todas sobre Cannes aqui.

Lions Festivals 2018

/