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O Espaço é Seu – 1

Fazer um álbum dá um trabalho (André Faria)

14.03.19

Fazer um álbum dá um trabalho

Primeiro, você faz as demos. No caso do Jeremaia, fiz mais de 70, tudo ainda cru e frágil. E, na hora das demos, vale tudo: gravador de celular, estúdio, violão, assobio e madrugadas a dentro, aqui na Evil.

O próximo passo é a escolha. Quais são as demos mais legais? “Kill the weak sister”, como diz um amigo meu. É como na Roma antiga… “a irmã mais fraca pode comprometer a família toda”. E tudo isso sem falar em um outro desafio: sacar se as demos escolhidas conversam entre si. Se são capazes de juntas darem a cara de um único álbum, um único artista. Por mais que estejamos na era do single, um artista que lança uma música eletrônica cantada em inglês e outra folk acústica cantada em português acaba não se comunicando com ninguém. E essa é a hora que eu mais gosto. Bora escolher as demos.

Aprendi que a melhor coisa é ouvir as demos fora do estúdio. Fazê-las existir em outras caixas de som, outros ouvidos, outros contextos. Ajudar as composições a verem a luz do dia. Muitas vezes o oxigênio dentro do estúdio (e dentro da sua cachola) fica viciado. Não sei se acontece com você, nas agências. Você entra numas. Se apega, se perde, se fecha, E, principalmente, se engana. Esquece o potencial dos acidentes, dos erros. O timbre de bateria de "In The Air Tonight", do Phil Collins, uma das levadas mais famosas do mundo, só saiu porque o assistente do engenheiro de som esqueceu um microfone “errado” ligado (talk-back), totalmente sem querer. Quando ouviram aquele take, um tempo depois, aquilo soava genial.

Uma alternativa bem legal é escutar as demos dentro do carro, dirigindo por qualquer estrada. É impressionante como você saca rapidinho se aquela música faz sentido no mundo real. Nessa hora, você não é produtor, músico ou roadie. Você é só uma pessoa dirigindo e ouvindo música. E é surpreendente como coisas que você achava o máximo viram um nada. E coisas que você achava um nada, de alguma maneira, te tocam. É nessa hora que você sente que a música também não é mais sua. Ela é do mundo, com vida própria. E vai se transformando a cada dia, seja na gravação, na mixagem, na masterização. E o mundo não liga para o equipamento que você usou, para a marca da sua guitarra, para a história por trás de tudo. O mundo, antes de mais nada, ouve e julga.

Tão desafiador quanto criar uma música, é materializar todo esse conceito em imagem. Infelizmente, não existem demos de clipe. Existem clipes demos, apenas. Mas de qualquer jeito, ao abrir uma câmera você tem apenas uma chance. Você escolhe uma música, um diretor, uma ideia. No caso do Jeremaia, mobilizamos uma equipe de 17 pessoas, duas diárias de 18 horas por dia, 100% com dinheiro do bolso. E cerca de três meses discutindo com os diretores como (e aonde, quanto e quando) seria a vibe disso tudo, qual ideia veria a luz do dia, até chegarmos no clipe de No Que Vai Dar”.

Agora o clipe já não é mais nosso. Nem meu, nem dos diretores, nem do fotógrafo. É do mundo aí fora, com vida própria. E cabe a você, que vive nele, dizer se curtiu ou não.

O álbum inteiro sai em abril. Enquanto isso, siga o @_jeremaia no Instagram.

André Faria, sócio da Evil Twin Music, multi-instrumentista da Aldo, the Band e autor do projeto solo Jeremaia.

Assista abaixo ao videoclipe de "No Que Vai Dar", primeiro single de Jeremaia.

Ficha Técnica:

DIREÇÃO: Cristina Streciwik e Rodrigo de Carvalho

DIREÇÃO DE FOTOGRAFIA: André Dip

DIREÇÃO DE ARTE: Ana Achcar

PRODUÇÃO EXECUTIVA: Ricardo Franco

STYLING: George Krakowiak

BELEZA: Suy Abreu

ASSISTENTE DE DIREÇÃO: Joana Leonzini

IDENTIDADE VISUAL: Marcelo Almeida e Fabiano Higashi

COREÓGRAFA: Ana Carolina Bacchereti

FOTÓGRAFO STILL: Vitor Bossa

1o ASSIST DE FOTOGRAFIA: Rafael Giacondino

2o ASSIST DE FOTOGRAFIA/ELETRICISTA: Giovani Gasparetto

ASSISTENTE DE FIGURINO: Beatriz Amaral

MONTAGEM: Giovanna Zambianchi

CATERING E PRODUCAO LOCAL: Elza Santos e Brenda Silva

O Espaço é Seu – 1

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