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O Espaço é Seu

Space Interface Experience (Ricardo Figueira)

10.05.21

A corrida espacial está novamente a todo vapor desde que a NASA resolveu criar parcerias com o setor privado para ir além.
A contribuição do design na operacionalização e viabilização das missões espaciais, na nossa visão, é considerada importante benchmark de user experience, porque além de ter que viabilizar operações extremamente complexas, os instrumentos precisam ser operados em todas as condições de pressão física e psicológica.
Para se ter uma ideia, numa decolagem astronautas são geralmente submetidos a uma força média de 4,5G, enquanto a chamada “reentrada balística” na atmosfera pode ocorrer sob uma força de 8G, ou seja, 8 vezes a força gravitacional.Imagine passar por tudo isso, pensando em tudo o que é preciso para manter a nave sob controle, lembrando que a sua família está esperando você para tomar café da manhã em casa?
Ao compararmos os três cockpits icônicos (veja imagem) das naves Apollo 4, lançada em 1967, Space Shuttle, em 2002, e Crew Dragon, da Space X, lançada em 2020, vemos uma nítida transformação, apesar das três naves terem sido criadas para o mesmo propósito.
A progressiva desmaterialização de botões e joysticks, ao longo do tempo, faz parte da humanização da interface. Isso não significa menos tecnologia, significa tecnologia mais inteligente, mais avançada, significa uma transformação cognitiva.E isso acontece com tudo. Lembra do celular Blackberry? Mais da metade do aparelho era ocupado com um teclado que parecia aquelas bolhinhas de plástico que estouram. É claro que na época essa imagem representava uma evolução. Ver um teclado com caracteres em um aparelho que só funcionava com teclas de números foi uma revolução.
Lembra dos controles remotos caóticos das TVs a cabo? Esses só agregavam medo mesmo.Interfaces cada vez mais transparentes, menos aparentes, significam contextos automatizados, desenhados preditivamente. Com isso, decisões humanas se tornam mais focadas no que é fim e não no que é meio. Esse é o norte do futuro.Assim, em vez de você ter botões de ligar para cada parte do motor de uma nave, e por consequência executar uma decolagem, você terá um único ícone de decolar, que ao ser pressionado executará inúmeras atividades que viabilizam a decolagem, como se fosse um ícone no seu celular. E o melhor, se a nave está decolando, o ícone de aterrisar nem existe no seu painel, dando à tela apenas as funções que são protagonistas daquele momento. Desta forma, a gente percebe que o conceito JUST IN TIME, em vez de JUST IN CASE (old technology) passa a ser um processo evolutivo de gestão preditiva de uma interface. Em outras palavras, em vez de você exibir todos os botões de todas as funções, você só exibe aquilo que é pertinente no momento.Não é à toa que o cockpit da Crew Dragon só possui três telas para controle de tudo. E pode ter certeza que essa nave tem 100 vezes mais controles do que a Shuttle de 2002, mas eles só aparecem na tela se preciso for.

Este mesmo conceito de JUST IN TIME, em vez de JUST IN CASE, é a alma da interface, principalmente por voz ou diálogo, onde a interface gráfica é 100% transparente e o nível de contexto não tem linearidade, necessariamente.

JUST IN TIME desmaterializa completamente a construção de tudo, baseado em agrupamento de similaridades e árvores de decisão. Porque ela segue uma lógica não baseada em exibição de estímulo, mas prediz possibilidades e intenções.

Muito em breve, comandar uma decolagem vai ser tão fácil como dizer “Vamos nessa”, e para adentrar na atmosfera vai bastar dizer “pra casa”, e se estiver mais rápido do que deveria, bastará dizer, “estou receoso, mais cuidado nisso aí, hein”.

Aos poucos a gente sente o futuro tomando conta do presente. Por exemplo, hoje muito se fala em impressão 3D, apesar de se explorar pouco o conceito do JUST IN TIME. Você poder construir coisas físicas só no momento e no lugar em que elas forem necessárias, evitando transporte, logística ou ocupação de espaço desnecessário. O impacto é algo realmente gigantesco.

Do mesmo jeito, no ano passado nasceu a tecnologia GPT 3, uma capacidade exponencial da Inteligência Artificial criar música, imagem, narrativas e até software sob o comando de diálogo como por exemplo: - criar um app que transforme informação x em y e exiba apenas as que fazem sentido entre si. Ou seja, até o uso da lógica computacional para atender necessidades se tornou JUST IN TIME.

Daqui a pouco, já estou até vendo, a máxima será ir pro espaço com uma impressora 3D, uma Inteligência Artificial baseada em GPT-3 e uma pastilha Valda, pra não perder a voz.

Afinal, o que não pode faltar é comando de voz pra se criar um novo mundo, do jeito que a pessoa quiser imaginar.

Ricardo Figueira - Fundador e CCO da Figtree & Co





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