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Previsões de Martin Sorrell

Conta atrasada da transformação digital vai chegar

16.04.20

Chairman da S4 Capital, Martin Sorrell testemunhou muitas mudanças na indústria da comunicação. Mas as mais recentes, surgidas por causa da crise do novo coronavírus, não o entusiasmaram tanto quanto as vistas no passado. A rapidez na adaptação de agências para o trabalho remoto não arrancou dele muitos elogios. Talvez porque a prática não lhe seja estranha.

Em participação em evento virtual do The Drum sobre transformação digital, o ex-todo poderoso do WPP, grupo que fundou, comentou que as 2.500 pessoas que trabalham nas empresas que constituem o S4 já estavam plenamente sintonizadas com o home office, medida adotada pelo mercado assim que quarentenas foram decretadas pelo mundo. “Elas estão acostumadas a trabalhar em casa, em ritmo 24/7 e sendo ágeis”, afirmou.

Apesar disso, Sorrell observou que isso não é novidade na indústria. “Esse setor está cheio de pessoas que se adaptaram a horários flexíveis de trabalho por muitos meses, senão anos. Essa crise irá acelerar a tecnologia e tornar as pessoas muito mais confortáveis em usá-la".

A transformação digital está no centro de suas previsões para os próximos meses. Mais do que isso: ele será crucial para os negócios. “O segundo trimestre será um banho de sangue”, afirmou. Na visão dele, as empresas que estavam apenas flertando com a disrupção digital irão enfrentar dias muito duros.

Em entrevistas anteriores, Sorrell já dizia que, com o isolamento social, as pessoas tiveram seu cotidiano alterado e se viram obrigadas a incorporar mais tecnologia em suas rotinas. Quem conseguiu fazer home office igualmente experimenta mudanças na maneira como utiliza ferramentas interativas. E a mídia também passará por questionamentos a respeito do digital - em alguns casos, edições impressas poderão ser encerradas.

“Negócios da mídia acelerarão suas comunicações digitais. Líderes de empresas que, antes da covid-19, estavam se sentindo relativamente à vontade em não perturbar o status quo da companhia agora estão perturbados”, disse.

Na visão de Sorrell, embora aquisições e novos negócios sejam afetados, é possível fazer acordos por meios virtuais. Ele acredita que a economia mundial se recuperará no quarto trimestre – em encontro com analistas do banco de investimentos Jefferies ele avaliou que o terceiro trimestre será menos difícil do que o segundo e que virá uma recuperação nos últimos três meses do ano.

Dona de companhias como MediaMonks, Circus Marketing e MightyHive – operações baseadas no digital –, a S4 mesmo estará atenta a pequenas aquisições, com atenção em negócios focados em dados e analytics. Sobre as agências, ele afirmou que haverá mudanças estruturais significativas na indústria. O setor de private equity poderá dar uma boa olhada no mercado.

Sorrell falou ainda que está repensando seriamente seus padrões de viagens e sugeriu que a Ascential, organizadora do Cannes Lions, também faça suas reflexões, colocando na balança a natureza do festival (que não acontecerá mais este ano). “É necessário reunir tantas pessoas com grandes despesas no sul da França naquela época do ano? Pode ser que, depois de refletirem, eles decidam continuar fazendo isso, o que seria um erro. Eles deveriam repensar radicalmente".

Em uma mesa redonda do site Techonomy, o chairman da S4 Capital analisou outros períodos de dificuldades enfrentados pela indústria. Segundo ele, o que estamos vivendo com esta pandemia não se pode comparar a qualquer outra coisa. “Isso não é como 2008. Isso não é como o 11 de setembro. Não é como o estouro da bolha pontocom. Isso não é como 1991-1992 ou a crise de preços do petróleo que vivemos nos anos 70. A analogia mais próxima é o tempo de guerra.”

Ele deixou claro que estamos vendo mudanças épicas e nem todas serão fáceis de digerir. Sorrell reforçou que haverá um acerto de contas atrasado com o digital. De acordo com ele, o movimento da publicidade global – uma indústria de US$ 1,7 trilhão – para o digital ficará sobrecarregado. Os investimentos em digital já estavam crescendo a uma taxa de cerca de 20% antes da crise. No pós-pandemia, o ritmo deverá se acelerar.

Previsões de Martin Sorrell

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