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Twitter tem no Brasil um dos mercados + ativos em conversas

21.08.19

Em recente visita a Porto Alegre, o engenheiro Orkut Büyükkökten, fundador do Orkut, rede social que praticamente se tornou brasileira antes de ser extinta pelo Google em 2014, decidiu usar o Twitter para fazer um apelo pessoal. Tinha sido bloqueado no Tinder por imaginarem que se tratasse de perfil falso. Alguém poderia ajudá-lo a entrar em contato com a empresa no país? Bastou para que um mundo de mensagens se espalhasse pela mídia social... e pela imprensa. Orkut recebeu 1,7 mil respostas a seu tweet. E foram dados 7 mil retweets.

O exemplo mostra um padrão de comportamento do brasileiro no Twitter que tem chamado atenção da rede. Respostas, réplicas, tréplicas são atitudes que acontecem em vários países, mas em alguns muito mais do que em outros. Na Alemanha, tweets têm volumes de respostas bem inferiores aos do Brasil. Embora não tenha revelado números, o Twitter informou que o país é um dos mercados mais ativos em conversas. Por isso, é um dos lugares onde fazem pesquisas para avaliar mudanças de layout e funcionalidades e testar novos produtos. Nesta semana, o escritório brasileiro recebeu uma equipe de São Francisco que acompanhou esses estudos.

Um dos focos das áreas de inovação do Twitter é exatamente melhorar a conversação. Há testes em cursos para implementar recursos na interface que organizam as informações no meio de tantas respostas numa sequência de tweets - as famosas threads. Não há data prevista para lançamento dessas funcionalidades, mas elas serão aplicadas globalmente, afirmou Sara Haider, diretora de gestão de produtos.

As conversas no Twitter são únicas. Outras plataformas se referem mais ao ‘o que estou fazendo’. No Twitter é ‘olhe isto’. É conversa em tempo real em torno de um assunto”, disse Sara, em encontro com jornalistas na terça-feira (20). Para amplificar ainda mais isso, a rede está trabalhando para resolver quatro problemas mais comuns entre os usuários: como encontrar conversas que interessam, como se inserir nelas e participar, como entender o que estão discutindo e como acompanhar o que se passou após os primeiros tweets e as primeiras respostas (no caso de Orkut, se ficou a curiosidade, o desbloqueio foi feito 18 horas depois).

Segundo Sara, o desenvolvimento de produtos está mais ágil e transparente. “Estamos fazendo muito mais lançamentos. E queremos aprender com feedbacks. As mudanças incluem o que aprendemos com os usuários”, explicou. Para isso, funcionalidades têm sido testadas em um aplicativo, o twttr (por enquanto, apenas disponível para iOS). São selecionados usuários para que façam experimentos e as respostas são analisadas antes de os produtos chegarem efetivamente à plataforma.

Dentre as novidades em testes estão a identificação do autor do tweet original e de quem é seguido pelo usuário. Isso facilita a visualização das respostas em seu contexto. Outro produto do layout é a introdução de um ícone de sino para que a pessoa possa receber notificações sobre a continuação das conversas pelas quais se interessou. Em breve, usuários poderão reordenar fotos publicadas em um tweet. E também será possível postar fotos animadas (live photos), como se fossem gifs.

Topics e listas

Gerente de produto, Wally Gurzynski apresentou a organização de assuntos em tópicos, outra novidade a ser lançada nos próximos meses. A proposta é criar um feed mais customizável para que o usuário busque tweets mais voltados a temas que lhe agradam. Isso quer dizer que ele poderá selecionar Topics e passar a ver o que está se falando a respeito desse assunto a partir de diferentes contas e não exclusivamente por meio de uma personalidade que segue.

Pelo projeto, o Twitter fará a curadoria desse conteúdo. E, por enquanto, apenas um assunto será ofertado: esportes. Era preciso selecionar algum tema que não gerasse muita polarização para que o produto fosse testado. A ideia é que seguir Topics seja tão simples quanto seguir uma conta.

Nem tudo se trata de experimentar features novos. O Twitter está procurando valorizar as listas, um serviço que já existia. Agora a rede quer torná-las mais visíveis na timeline. Isso também permitirá um feed mais personalizado. Para acessar o recurso, bastará deslizar a tela no celular. “Estamos reinvestindo em listas”, afirmou Gurzynski.

Outra mostra de como a intensa atividade dos brasileiros tem contribuído para melhorias da plataforma é o uso de tradução. Quem detalha os investimentos feitos na ferramenta é Patrick Traughber, gerente sênior de produto do Twitter, que tem atuação mais voltada a mercados internacionais, como o latino-americano. “Para muitos brasileiros, o Twitter é o meio mais rápido de buscar informações. O país é um dos mercados de utilização mais forte da tradução”, observou, reforçando que para os usuários daqui não importa que o tweet esteja em inglês. Ou mesmo em coreano. O fenômeno do k-pop é global, mas aqui tem bastante adesão.

Em alguns mercados, as pessoas usam mais de uma língua, como no Brasil”, acrescentou Traughber. Em razão disso, a empresa fez melhorias para elevar a qualidade da tradução. Há uma ampla variedade de idiomas e dialetos na plataforma. E isso permite que alguém possa curtir um tweet em coreano.

Pelo fato de oferecer conversas tão ricas, o Brasil poderia ter uma equipe de desenvolvimento de produtos. Isso não existe no momento. Mas o time que veio de São Francisco disse que a oportunidade foi aventada a partir dessa atual visita. “Há tanto engajamento e tantas conversas que, sim, poderemos ter no futuro”, esclareceu Traughber. Enquanto isso não acontece, o país é palco de mais estudos sobre o uso da rede. “Temos feito diversas sessões de pesquisa para aprender o que funciona melhor”, contou. Um dos insights é continuar a aprimorar formas de o aplicativo ser mais leve (existe o Twitter Lite, hoje disponível em 75 países) para que os usuários não sejam constantemente obrigados a apagar outros apps ou dados. E pesquisar meios de fazer com que ele consuma menos bateria.

 

Lena Castellón

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