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A festa da democracia nas redes sociais
Peço licença de uso da expressão, mas pode se dizer que nunca na história desse país opiniões políticas individuais estiveram tanto em evidência. Há quem diga que as redes sociais ampliaram o acesso à informação consequentemente trazendo maior lucidez e incentivando o debate de ideias. Mas observando em um âmbito geral, a impressão que fica é o surgimento de mais um novo espaço para se amontoar frases muitas dela de mau gosto - repetidas incansavelmente, para reafirmar esse suposto engajamento político até então adormecido. De repente o que não se discutia, assim como religião e futebol, virou o assunto preferido do aglomerado de pessoas da rede. Muito dos debates políticos na internet me lembram aquele cara chato da balada que não fala nada com nada mas quer convencer na paquera.
A onda de usar as redes sociais com finalidades políticas ganhou força depois da chamada Primavera Árabe. Jovens do Oriente Médio organizaram pela rede uma série de protestos contra governos da região e, ao contrário das apostas das autoridades, eles saíram das telas e ganharam as ruas. Essa ação desencadeou eventos parecidos no mundo todo e abriu os olhos de grandes lideranças políticas e, principalmente, da juventude para o poder de mobilização virtual, até então subestimada no mundo real.
O resultado também foi sentido no Brasil, com as manifestações de junho de 2013. A mobilização online levou milhões de pessoas a abandonar o conforto dos seus computadores e sair às ruas, ainda que muitos sem um foco definido. Cartazes com dizeres como "Saí do Facebook" pipocavam na multidão, assim como outras diversas frases que mostravam nitidamente a fusão do mundo digital e do real. Daquele momento em diante ficou cada vez mais comum ver a repercussão de assuntos políticos nas redes sociais.
Com a Copa do Mundo no Brasil, vieram mais memes, mais críticas e mais protestos. Centenas de matérias em blogs, revistas, e jornais, compartilhadas como verdade absoluta, se tornaram cada vez mais comuns. E aí veio a derrota no futebol e a corrida eleitoral: mais memes, mais críticas e mais protestos. Páginas de candidatos investiram pesado nesse universo, principalmente em dois âmbitos: agressão e humor. A zoeira realmente provou-se sem limites e perfis como Marina Ecóloga e Dilma Bolada aproximaram os candidatos aos eleitores de maneira cômica.
Memes foram criados em velocidade recorde a partir de cada frase extraída de discursos dos elegíveis durante debates e entrevistas. E assim, com os internautas posicionados na linha de fogo dessa metralhadora de informações e opiniões alheias, ficou cada vez mais difícil discernir o que era verdade, o que era estratégia de marketing, o que era brincadeira, o que era liberdade de expressão e o que era incitação de ódio. Nem o inventor do botão compartilhar imaginava as enormes proporções que isso poderia tomar.
Positivo ou não, não há como negar que a internet foi um fator de peso na corrida eleitoral e exerceu influência irrefutável nos rumos políticos. Resta agora saber, passada a tão esperada festa da democracia se isso foi apenas mais um fenômeno viral como a Luiza que foi para o Canadá e nunca mais ouviu-se falar - ou se realmente estamos presenciando uma mudança na forma de se conversar assuntos universais. Se assim for, teremos muito o que aprender.
Por hora o que sinto é o gosto amargo da bebida da festa, que parece não ter sido das melhores. A agressão gratuita pós apuração traz uma ressaca que machuca. Tentativas de deslegitimar a democracia com preconceito desagradam qualquer pessoa mais razoável. A potencialização da sensação de impunidade oferecida pela tela do computador me colocou em uma festa estranha com gente esquisita que eu as vezes me arrependo de ter confirmado presença. Definitivamente temos muito o que aprender.
Por Felipe Ferreira, diretor de atendimento da be_air