O Espaço é Seu

Lembra de quando todo mundo usava a internet?

Todo mundo era mais feliz, não era? As amizades eram feitas em horário de trabalho, via redes sociais. Ninguém tinha o trabalho de conhecer ninguém cara a cara. O mundo estava nas mãos de qualquer um que sentasse diante de uma tela de computador.

Nas agências, por exemplo, a internet era a salvação dos que precisavam saber de algo sobre determinado segmento de mercado e não tinham tempo de procurar a informação em campo.

Os diretores de arte não precisavam ficar horas e horas pesquisando imagens naqueles livros super coloridos, cheios de fotos 'clichês', que havia no século XX.

Os profissionais de atendimento resolviam tudo sem se levantar para ir ao cliente. Os clientes, por sua vez, não precisavam mais sair dos seus escritórios confortáveis. Os redatores passavam horas se alimentando de informações super acessíveis e fugazes.
O trabalho era mais fácil para todos.

Bom, se eu fosse relatar agora todas as facilidades que este invento trouxe para a humanidade, não iria terminar este texto nunca. Tudo ficou tão fácil, mais tão fácil, que certas profissões até deixaram de existir. Os filósofos não tinham mais sentido neste mundo, eles foram os primeiros a desaparecer. Depois vieram os psicólogos, psicanalistas, sociólogos, antropólogos, toda a classe intelectual que dependia de um pouco mais de profundidade erudita deixou de habitar o planeta Terra. 

Mais adiante, até mesmo os redatores sumiram do mapa. Não era mais preciso pensar e, na verdade, ninguém mais sabia como fazer isso. Tudo era muito descartável, rápido, instantâneo e igual. Não havia mais como existir alguém que quisesse sobreviver se aprofundando em questões dialéticas da existência.

Foram anos e anos, décadas e décadas, e o mundo ficou menor. As distâncias encurtaram. Foi uma verdadeira revolução social da era moderna. Suplantando, e muito, a velha televisão. Bons tempos. Até que um dia reinventaram uma coisa que acabou com tudo isso. Ressurgiu algo que ninguém pensava que era possível voltar a existir. Algo tão avançado que nem mesmo as mentes mais brilhantes da internet da época poderiam imaginar que voltasse um dia.

E assim, ressurgiu o pensamento. Ressurgiu a ideia. Ressurgiu a inovação (algo muito comum até a primeira metade do século XX).

A internet começou a ser esquecida pelas novas gerações. Ninguém mais queria ficar olhando para um computador. As agência que haviam fechado por falta de pensamento criativo, voltavam a funcionar. O ser humano voltou a raciocinar e ter ideias.

Hoje, fica a lembrança de um tempo que não volta mais. Que chata é a vida sem as redes sociais, divertindo os nossos criativos no horário de trabalho nas agências. Que chato é hoje as pessoas terem de se conhecer pessoalmente. Que saco voltar a ler jornal e livros de papel. Que saco voltar a pensar. Que saco voltar a ser inovador. Volta internet, volta por favor.

Amândio Cardoso, diretor de Criação da MMS Comunicação, de Pernambuco
amandio@mms.com.br