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Um D.A. e um redator em textos que envolvem Cannes
A tal da life changing idea
Há exatos quatro anos, durante uma das intermináveis palestras no Palais, aquele sujeito que ninguém sabia direito quem era falava sobre algo que eu também não sabia direito o que era. Segundo ele, o futuro de Cannes já estava escrito. Em inglês, em bold e sublinhado, com três palavrinhas. Enfático, ele repetia a tal da life changing idea.
Até então, no auge da minha ignorância egocêntrica, a única life que eu realmente queria que change através das minhas ideas era a minha. Saí dali confiante de que estava no caminho. Continuei criando para meus clientes e para mim. E estava dando tudo certo.
Um ano se passou e, na madrugada do dia 8 de junho de 2010, passando muito mal, cheguei a um hospital da zona Sul de São Paulo. Ali, uma frase também com três palavrinhas mudaria a minha vida. Um médico alto e ranzinza, como um general frio e calculista, cuspiu a seguinte sentença: Rapazinho é diabético?
Respondi que não. E, com a risada do Coringa (na atuação magistral de Heath Ledger), ele retrucou: Com uma glicose em 500, o senhor não só está diabético como está quase entrando em coma glicêmico.
Lido bem com a minha nova condição de lá pra cá. Melhorei meus hábitos alimentares, fui obrigado a fazer mais esportes e beber menos cerveja. Resumindo, comecei a jogar tênis e tomar vinho (espero que meus amigos tijucanos não leiam este texto).
Acontece que viver com diabetes, até em uma cidade como São Paulo, ainda é um desafio. Não é fácil fazer coisas comuns, como jantar fora. Os restaurantes, em sua esmagadora maioria, não têm opções integrais. Quando têm, contam apenas com uma, e sou obrigado a escolher sem escolha.
Tirando alguns poucos mercados, a seção diet mais parece a sessão da tarde. Aqueles produtos que você já viu incontáveis vezes e não aguenta mais ver de novo. Fora que, como ninguém é obrigado a saber que sou diabético, frequentemente vou a festinhas em que a sobremesa está divina. Divinamente distante da minha condição de comê-la.
Aí, num desses dias em que a Nutella está me dando mole e me vejo obrigado a dar um toco nela, foi que me lembrei daquele sujeito de que falei no início do texto.
Na hora eu gritei bem alto dentro da minha própria cabeça: A tal da life changing idea! Se meus amigos e eu estamos nessa profissão para ter ideias, por que não ter ideias para melhorar a minha própria vida?
Levei meu dupla da época, e amigo de longa data, para uma salinha e passei um job para gente, baseado na minha experiência como diabético. Tivemos várias ideias bacanas. Uma delas, inclusive, já está aprovada por uma grande rede farmacêutica e, se realmente for colocada em prática, poderá facilitar o dia a dia de milhares de diabéticos, incluindo o meu.
De tempos em tempos, Cannes muda seu foco, sua maneira de enxergar as grandes ideias. Neste ano, confirmou a previsão de que seu futuro seria das life changing ideas. Meu Sangue É Rubro-Negro salvou e mudou centenas de vidas, assim como a campanha de doação de órgãos para torcedores de um time de futebol e os vídeos de Dove, que mudaram a vida de milhares de mulheres ao constatarem que são mais bonitas do que realmente imaginam. Vinte Leões com uma só ideia. Sensacional.
Vou continuar fazendo campanhas impressas, afinal, me formei em Design, adoro ilustração e cresci acompanhando meu pai, que é fotógrafo, em suas longas jornadas no estúdio. Farei meus filmes, spots e o que mais for preciso. Mas quero investir a maior parte do meu tempo nessas ideias que mudam a vida das pessoas. Digo de todas as pessoas, não só a dos diabéticos. Ideias que não são só uma fuga do trabalho diário maçante. Porque, no final das contas, o que esse último festival apontou é que são elas que, provavelmente, também vão mudar a nossa vida profissional.
Só espero que nunca mais demore quatro anos para aprender qualquer coisa.
Bernardo Romero, diretor de arte da LewLaraTBWA
O SMS NÃO FOI ENVIADO
Obrigado. Muito Obrigado.
É nestas horas que as pessoas que mais te ajudaram na vida têm a oportunidade de receber uma resposta. O famoso feedback que você tanto recebeu, muda de lado por alguns momentos. Só que é exatamente nessa hora que o champanhe fala mais alto e as novas oportunidades aparecem, distanciando ainda mais pessoas que já estão distantes do seu novo mundo.
Elas não foram esquecidas. Não totalmente. Elas tão alí, naquele limbo: Sei lá, vou esperar mandar uma mensagem e respondo. Quando encontrar com ele, dou um abraço. Ah, esse prêmios nem são lá essas coisas. Tá, vamos marcar?.
O ponto é: é muito difícil lembrar de todas as pessoas que, de fato, te ajudaram. Às vezes, você nem lembra quem são. Às vezes, elas não estão nem na lista do seu novo iPhone. Se Cannes é um marco, é também a melhor oportunidade de agradecer pelo aprendizado, pela paciência de reponder perguntas idiotas, pelos jobs tortos que foram consertados, pelas críticas, elogios, cervejas, dinheiro investido, ouvidos alugados por reclamações, tudo isso.
É uma boa hora. Vai lá, agora você tem metal. Mas se ele vem com um sorriso verdadeiro daqueles que contribuíram pra isso é bem mais legal.
Na verdade, este é um singelo e humilde agradecimento a todos os Mestres que passaram pela minha vida. Nada muito elaborado, mas sincero pra cacete. Muito obrigado a você, você, você e você aí do canto, também, que mesmo sem saber fizeram parte dessa grande conquista.
Erick Mendonça - redator da JWT