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"Petit se definia pelo ódio: ódio à mediocridade, à burrice, à feiura"
Passei 14 anos da minha vida ao lado do Petit. E, em respeito à sua memória, não vou dizer que ele era bonzinho. Na verdade, ele era uma porção de coisas, como todas as pessoas complexas e geniais sempre são. Quando o conheci, ele já tinha 65 anos e eu sempre pensei nele como o velho gênio catalão. Manhoso, extremamente caprichoso, singular e surpreendente em tempo integral. Era um sujeito de opiniões extremadas sobre qualquer coisa. Tudo era preto ou branco, lindo ou horrível, gênio ou imbecil. Em particular tinha horror a tudo o que era feio: coisas, imagens. Tinha ojeriza a pessoas mal vestidas e a lendária história de que demitiu um sujeito no elevador que nem trabalhava na DPZ é provavelmente verdade. Mas era de uma generosidade enorme com as pessoas que amava e admirava. E em especial com jovens talentos. Ele tinha uma ideia renascentista do mundo e a DPZ era o atelier onde o mestre trabalhava com seus aprendizes. Mas, mais do que pelo amor, o Petit se definia pelo ódio: ódio à mediocridade, à burrice, à feiura do mundo e a tudo o que se metesse entre ele e as coisas que ele queria fazer. E isso dava a ele uma fúria de fazer coisas que não se intimidava diante de nada. Mandava ideias para o prefeito, para o governador e para o presidente. Dava palpites no mundo inteiro. Dizia o que pensava para quem quer que fosse e estava certo com uma frequência impressionante. Não cansou nunca de ser publicitário e amou a profissão até o fim. Já velhinho, longe do dia-a-dia do negócio, volta e meia ainda tinha insights certeiros. Podia não ter mais a musculatura mas ainda conhecia o caminho do gol. Petit foi meu pai nessa profissão. Não que tenha sido fácil, por que não foi. Me levou à loucura em várias ocasiões. Mas foi honesto de ponta-a-ponta e era um gênio. Considero uma honra enorme ter podido conviver com ele todos estes anos. A propaganda brasileira e em particular as empresas para quem ele criou apaixonadamente durante uma vida inteira, devem muito a esse catalão que era pequeno até no nome mas que se achava enorme. E era mesmo.
Fernando Rodrigues, ex-vp de Criação da DPZ, atual diretor de Criação da DM9
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