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O Espaço é Seu

Tomás me pregou uma peça

14.02.11

Certa vez, quando eu ainda era estudante do curso de Redação Publicitária na Miami Ad School/ESPM, recebemos uma visita ilustre. Só para esclarecer, na Miami Ad School/ESPM existe o hábito de um grande criativo dar uma palestra na aula inaugural, junto com a pizzada. E este criativo, na ocasião, era o Tomás Lorente.


Tomás, como habitual, nos presenteou com uma palestra não apenas focada na propaganda, mas em valores, ética e na honestidade das pessoas, tão escassa em um mundo cão como o nosso.


E eu, como era (e ainda sou) bonachão e até certo ponto escrachado, ao terminar a palestra tentei agradecer a oportunidade e, é claro, dar as boas-vindas (do meu jeito) ao Tomás Lorente, enquanto comia um pedaço de pizza.


Aquela brincadeira de: "Ô Tomás, me dá uma vaga?", "Me dá uma carona na sua Land Rover?" (acho que era uma Land Rover, não me lembro muito bem) ou "Ô Tomás, falta uma cerveja aqui nessa pizzada, hein?". Pregar uma peça, ficar íntimo. Uma dessas práticas comuns de quem começa na profissão, que eu fazia com a maioria dos palestrantes, e os mesmos caíam na gargalhada junto aos outros criativos que assistiam a cena, transformando um momento que normalmente é frio em algo mais íntimo e verdadeiro, como deve ser a propaganda. Isso era no fim de 2005 ou começo de 2006, não lembro.


Porém, Tomás não gargalhou. Tomás sorriu discretamente como era de costume, pegou o celular, ligou pra alguém que não faço ideia, disse "é isso aí, bicho", se despediu da rapaziada e foi embora. Legal, a gente ainda ia se encontrar muitas vezes. Sem problema.


Mas, em 2009, Tomás Lorente foi embora mesmo. E não havia motivo algum para gargalhar, pregar uma peça ou forçar uma falsa situação.


Cerca de um ano e meio após sua partida, estive na maravilhosa exposição em sua homenagem e memória no MuBE. Contendo as lágrimas dentro de meu corpo gordo e bonachão, enquanto observava suas peças, a luz do MuBE simplesmente acabou. Ficamos todos no escuro, tentando imaginar a exposição, seus layouts e quadros.


Definitivamente, num dia em que tudo estava dando errado pra mim em outras atividades, pensei: "Tem alguém aqui me pregando uma peça, não é possível".


E tinha. Quando a luz voltou, três minutos depois, descobri que era coisa do Tomás. Lá de cima, ele devia estar comendo um pedaço de pizza, aquele que normalmente era meu nas festividades da Miami, e queria tirar uma onda com minha cara, igualzinho ao que eu sempre fiz com amigos na propaganda, pra ficar mais íntimo.


Certamente, Tomás me ensinou ali a ser um pouquinho mais 'sarcástico'.


Fica com Deus, seu sacana !


Luís Butti
Redator


 Para saber mais sobre a exposição clique aqui.

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