arrow_backVoltar

As pessoas precisam de bons motivos para assistir comerciais

Kevin Frech - diretor de cena da produtora norte-americana Logical Chaos

17.11.05

Conversamos com o diretor de cena norte-americano Kevin Frech, em São Paulo, durante visita que fez ao Brasil para acompanhar a exibição de seu longa-metragem na Mostra Internacional de Cinema de São Paulo. Acompanhe o bate-papo:


Clubeonline: Como começou sua carreira?

Kevin Frech: Eu comecei minha carreira estudando pintura. Mas assim que ingressei na escola de artes, em Los Angeles, percebi que a pintura era uma maneira muito difícil de se ganhar a vida e que eu deveria achar um outro jeito, mais viável, de continuar ligado às imagens. Pensei em fazer design gráfico, mas como eu gostava de ver minhas pinturas se mexerem, naturalmente, me deixei levar pelo cinema. Mas na verdade, eu nunca tive uma grande vontade de ser um cineasta.

 Clubeonline: Onde estudou cinema?

 Kevin: Estudei cinema na Universidade de Nova York (NYU). É uma escola muito tradicional. Foi bom eu ter começado com pintura, uma atividade extremamente experimental, para depois ir para uma escola mais tradicional. Tive a oportunidade de não ter que necessariamente contar histórias, ser literal.

Clubeonline: Como foi sua primeira experiência filmando?

Kevin: A minha primeira experiência com filme foi durante a faculdade, em 1992, e foi muito interessante e engraçada. Eu trabalhava internamente na universidade, em uma companhia de cinema maluca que havia lá. Ninguém sabia o que acontecia e estávamos com muito trabalho para pouca equipe. Eu fui escalado para coordenar as filmagens de um comercial. Era algo bem pequeno, com pouca verba e as pessoas gritavam muito comigo, dizendo que eu não estava fazendo as coisas certas, mas continuei trabalhando. Quando íamos começar as filmagens, eu percebi que, deliberadamente, não havia contratado um diretor. Aí ou eu dirigiria aquele comercial ou seria despedido. Felizmente, eles me deixaram dirigir e no final das contas foi muito bom.

Clubeonline: E após a faculdade?

Kevin: Trabalhei brevemente com alguns diretores independentes, em  Nova York, para aprender edição. Trabalhei até com Robert De Niro, quando ele dirigiu um filme. Fiz diversos filmes para teatro, daqueles que interagem com os atores no palco. Uma coisa bem visual.

Clubeonline: Qual é a sua especialidade, se é que você tem uma?

Kevin: Em Nova York você não pode ser especialista em apenas um tipo de filme. Eu faço publicidade, que paga muito bem, e documentários, que não rendem muito dinheiro. A publicidade é um meio de conseguir fazer outras coisas.Gosto muito de publicidade, mas são os documentários que realmente me fazem continuar filmando.

Clubeonline: Qual o trabalho em publicidade que você mais gostou de fazer?

 Kevin: Fiz um comercial, bastante visual, para um grupo de teatro chamado Bluemen Group, que parece algo como o Cirque du Soleil. Eles estavam em uma temporada, em Las Vegas, e esse foi um dos trabalhos em publicidade que eu mais gostei.

 Clubeonline: Você acompanha as novidades da publicidade?

 Kevin: Eu presto muita atenção em publicidade. Acho que de uns tempos para cá os trabalhos estão melhorando. Aquela fórmula de colocar uma pessoa gritando e mostrando um produto está se esgotando, o que me deixa feliz. As pessoas perceberam que têm que prender a atenção dos telespectadores, já que eles podem pular os comerciais, usando recursos como o TiVo. Nós temos que dar uma razão para as pessoas ficarem na frente da televisão, seja por meio de uma grande história ou um recurso visual. Na verdade, estamos tomando o tempo das pessoas e, por isso, temos que dar algo em troca. Existem muito mais coisas interessantes e sofisticadas acontecendo por conta dessa nova realidade.

Clubeonline: Você teve algum contato com a publicidade brasileira? Qual a sua impressão?

Kevin: Em todos os lugares que vou costumo ligar a TV para ver o que está acontecendo com relação à publicidade. Gostei muito de um filme de um carro que vi, não me lembro a marca, infelizmente, no qual um rapaz liga um som do carro e um monte de automóveis se juntam a ele (filme da campanha de lançamento do Fiat Idea, criado pela Leo Burnett e produzido pela Republika). Achei muito engraçado, muito visual e de bom entendimento, já que não é preciso saber português. Eu veria esse filme na TV, nos EUA, e não me surpreenderia.

Clubeonline: Qual a principal diferença entre os filmes que viu no Brasil e os que assiste nos EUA?

Kevin: Nos EUA, os filmes têm muito mais pontos de edição do que os que eu vi aqui no Brasil. As seqüências aqui são mais longas, fato que eu gosto. Visualmente, acho que as imagens são muito boas aqui e fortes, embora eu não entenda os diálogos.

Clubeonline: Qual filme você apresentou na Mostra Internacional de Cinema de São Paulo?

Kevin: Meu documentário, "Bowery Dish", foi filmado em quatro anos e mostra as transformações no bairro de Bowery, que fica a dois quarteirões da Broadway, em Manhattan. Antes, era um lugar horrível, pobre, as pessoas desviavam seu caminho para não passar por lá. Esse reduto foi "descoberto" pelos ricos, que compraram, reformaram e mudaram para apartamentos do bairro. Era interessante ver que uma pessoa milionária, que comprou um loft caríssimo, morava ao lado, parede com parede, de um pobre que pagava 50 dólares por semana para morar. Era isso que o filme queria captar. Nossa idéia foi mostrar os dois lados da história dessas mudanças em Bowery. Tanto o lado horrível de ver os ricos tirando o lugar dos pobres, quando o lado bom de ver a recuperação de um bairro que era violento, transformando-o em um bom lugar. Hoje o Bowery quase não tem gente pobre morando.

Clubeonline: Quais são seus planos para o futuro?

Kevin: Meu primeiro plano é me recuperar financeiramente (risos) e dormir (mais risos). Quero fazer um documentário sobre pessoas que se casam com outras sem conhecê-las direito. Aquelas que se apaixonam e uma semana depois se casam. Espero que essa idéia funcione. Estou desenvolvendo a idéia e buscando patrocínio, o que é muito difícil e toma muito tempo. Nós não temos a sorte de ter empresas estatais apoiando esse tipo de projeto, como vocês têm aqui. Nos EUA, um documentário tem que render dinheiro, o que é muito difícil. A não ser que você seja o Michael Moore (risos).

Para assistir um comercial de Budweiser, criado pela DDB de Nova York, dirigido por Kevin Frech e já exibido no Clubeonline, clique aqui.

As pessoas precisam de bons motivos para assistir comerciais

/