“A grande revolução social vem de dentro de cada cidadão”

Clubeonline: Como diretor de arte, você já atuou no mundo da propaganda?

Gringo Cardia: Não sou muito do mundo da propaganda. Nunca me dei bem neste meio, apesar de já ter sido convidado diversas vezes. Eu venho de cenografia e direção de arte para teatro e shows, onde tenho a maior liberdade. Nunca encontrei uma chance assim na publicidade. Acho que só vou conseguir trabalhar nesse mercado no dia em que me derem liberdade de fazer o que eu quero, sem tanta interferência. Falta correr mais riscos criativos no universo da propaganda.

Clube: Quais os trabalhos que realizou e mais te deram prazer?

GC: É dificil dizer quais os melhores trabalhos, pois adoro vários.
Em disco, gosto muito dos projetos gráficos que fiz com Carlinhos Brown. Em teatro, dos cenários que fiz com a Intrépida Trupe (Mauro Rasi, Miguel Falabella, etc) e com a Bia Lessa. Em vídeo, adoro os trabalhos que desenvolvi com o Chico Science, Cassia Eller e com o sertanejo Leonardo. Já em shows, os mais interessantes foram os que realizei com a Marina Lima, Planet Hemp, Elza Soares, Maria Bethânia, e outros tantos.

Clube: Tem algum trabalho que você fez e se arrependeu?

GC: Não. Acho que todo trabalho é sempre bom. É muito importante dizer que não se pode ter preconceito com artista nenhum. Não sendo mau caráter, ou mal intencionado politicamente, a gente aprende muito com todos os “under” e
todos os “bregas” da vida, também.

Clube: Quando foi inaugurada a sua escola-oficina, a Spectaculu? Me conte quais atividades vocês desenvolve

GC: A Spectaculu é uma ONG, uma escola-fábrica que foi criada em 2000. Ela tem como principal meta formar mão-de-obra nas áreas técnicas para o mercado de espetáculos. A escola é direcionada para jovens de baixa renda e atua principalmente como um pólo formador de cidadãos críticos e cientes de seus direitos. A gente ensina carpintaria teatral, iluminação e adereços. Mas, metade do tempo gasto na escola é para conversar e fazer com que aqueles seres assustados se tornem pessoas mais seguras e orgulhosas de si, sem medo e vergonha de sua condição social.

Clube: Quem são os responsáveis pelo projeto?

GC: Eu , Marisa Orth, Lúcia Coelho (diretora teatral) e Paulo Cesar Gama Filho (vice-presidente da Universidades Gama Filho) resolvemos fazer isso pois achamos que dar um pouco de nosso tempo para ajudar os outros é mais que a nossa obrigação. Dessa forma, compartilhamos todas as nossas sortes profissionais. Como o trabalho realizado é dentro da nossa área, o projeto torna-se mais enriquecedor e fácil de se fazer. A grande revolução social vem de dentro de cada cidadão para o coletivo.

Clube: Os alunos saem do projeto prontos para o mercado de trabalho?

GC: Estou nesse momento fazendo o cenário da nova peça da Luana Piovani, “Alice no País das Maravilhas”, que vem cheia de efeitos visuais e estréia em janeiro de 2003. Estou fazendo também cenários para a Ópera de Berlim, junto com a coreógrafa Deborah Colker. Outro projeto em que estou envolvido, é o DVD da Daniela Mercury, que sai no início do próximo ano, na Bahia. E também faço a programação gráfica e visual do Festival JB de Cinema Digital. Depois, férias e Índia para descansar.

gringocardia@uol.com.br