Será que vai chover?

Quando eu saí do Brasil pra fazer mestrado em Barcelona, pesquisei bastante sobre o clima. Já tinha morado na Espanha, mas a cidade era outra. Além do mais, confiar na minha memória é tão certo quanto aquela moça de vestidinho no calçadão de Copa estar apaixonada pelo seu incrível carisma.

Na verdade, eu estava era me achando um pouco neurótico com essa história de tempo. Estava.

Sabe quando toca a musiquinha do plantão da Globo e todo mundo sai correndo pra frente da televisão, com a certeza de que começou a 3ª Guerra Mundial ou que o papa morreu? Pois é, os espanhóis têm algo equivalente. Só que o assunto é, única e exclusivamente, a previsão do tempo.

Quer saber se vai dar sol agora à tarde? Liga a TV. Se chove amanhã ou depois? Liga a TV. Direção do vento, chance de precipitação, relação entre pressão atmosférica e raios UV, altura das nuvens e porcentagem de visibilidade às 17h32 do próximo sábado? Liga a TV.

Eu não estou exagerando (muito). Parece que a televisão é pensada a partir da previsão do tempo, e que toda emissora produz um boletim que vai ao ar a cada dez minutos. É como acompanhar partidas em tempo real pela Internet. Seguramente, parte da economia daqui é baseada na indústria do tempo (a outra parte é em cigarros). É o equivalente à novela, aí no Brasil. Ou à bunda.

Não sei qual o problema - ou tesão - com o clima. Só sei que é estranho. Inclusive, desconfio que as faculdades de jornalismo ofereçam matérias como "sociologia do tempo", "matemática pluviométrica I" e "dor no calo e a força das chuvas". Essa última, como optativa.

Outra coisa. Aquela história de mulher-bonita-que-apresenta-a-previsão-do-tempo-e-casa-com-chefão não existe. Se quiser, o diretor vai ter que se contentar com uma chica muito mais ou menos. Quase menos. Fora que tem muito homem no ramo. Quase a metade, talvez.

A verdade é que um jornalista espanhol dificilmente ficará desempregado ao se formar. Enquanto houver TV, vai existir um boletim do tempo precisando de apresentador.

E enquanto houver um redator brasileiro ainda sem aulas ou emprego, vai existir um telespectador fiel querendo planejar suas próximas horas.

Alexandre Bonfim é redator carioca e faz mestrado em Barcelona