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Look at the little bird

Um papo cabeça, por Laura Esteves*

11.05.06

Sabe quando você está chegando em casa e o vizinho abrindo a porta? Aquela sensação incontrolável de ver como outra pessoa fez uso do mesmo espaço que você? Pois essa sou eu lendo as colunas dos meus colegas de Passaporte.

Meu Deus, eles levam realmente a sério enquanto eu fico aqui abobrinhando. Resolvi redecorar, feng shuizar minha bagunça. A começar, cheguei cedíssimo na agência, hoje, só pra escrever uma coluna feito gente grande (e tem peso dois chegar cedo porque ontem foi a festa do One Show, aqui).

Mas isso não vem ao caso, vou falar de números, nomes compostos, se conseguir vou até encaixar alguns percentuais e um gráfico pizza sobre qualquer tópico da atualidade.

O hit do momento aqui é o tal do conteúdo. A gente não faz mais propaganda, faz conteúdo. Pois pra mode abrir a cabeça dos criativos enraizados nos 30 segundos, a agência chamou os caras que meio vislumbraram essa moda (que é tão retrô como a saia balonê minha gente, que vai voltar, acreditem ou não) de colocar um produto em um contexto de entretenimento e não o commercial descarado num break, como a gente está acostumado a fazer.

Uma idéia vintage (pra ser elegante) que a gente conhece desde os programas de rádio patrocinados por produtos. Eles são os fundadores da Radical Media, uma das maiores produtoras daqui. Eles que fizeram, tempos atrás, o Seinfield pra American Express e agora estão se achando com a nova campanha de Axe, os Game Killers.

Além de incentivar a gente a criar não comerciais, mas programas, curtas, formatos diferentes de entretenimento pros clients, eles também mostraram como usar novas mídias, por exemplo, veicular esses programetes em celulares, ipods (60G), ipobres (30G) e por aí vai.

A China, por exemplo, já tem tecnologia para veicular esse tipo de idéia. Já são 50 milhões ativos e 5 milhões de novos usuários no próximo ano. (Números!! e não é o meu telefone, tô abafando, vai).

Outra coisa legal que a agência traz pros criativos é uma exposição de fotógrafos bacaninhas. Uma vez por mês mais ou menos, os art buyers convidam um rep (nada mais nada menos que uma empresa que representa alguns fotógrafos, nêgo só fala rep pra complicar minha vida ao invés de falar representante). Enfim, os art buyers chamam esse rep que leva uns 20 portfolios de fotógrafos e expõe pras pessoas da criação.

Geralmente tem um tema, tipo a semana que passou foi só fotógrafos especializados em comida, ou em carro, ou só fotógrafos britânicos e assim vai. Além dos portfolios, eles também montam uma mesa com uns comes e bebes relacionados com o tema. Só comida delivery quando o tema é carro, só comida inglesa pro dia dos britânicos (sususususuceeeesso de público comida inglesa, né?) e por aí vai.

Aqui é o país dos guuuurdinhos, então, o jeito de convencer qualquer pessoa a fazer algo é oferecendo comida em troca. Dia de arrumar os armários? Passe na cozinha e pegue um donut para dar força na hora de você limpar sua gaveta (!!!!!!), venha ver o rolo dos diretores da X produtora e almoçar Thai, e por aí vai.

Dessa vez, tinha uma fotógrafa especializada em fotografia debaixo d'água. Ela tem uma piscina própria toda montada pra esse tipo de trabalho, com microfones embaixo d'água pra que ela possa ir direcionando as modelos, uma densidade diferente da água pra que as roupas e cabelo nao fiquem flutuando, e por aí vai.
www.barbaracole.com  (consegui encaixar um nome e um endereço na internet, tão gostando?)

De veiculando na vida real tem uma coisa que me chamou atenção. Foi um commercial que o cliente é a Igreja Católica. Abre numa igreja, pouco a pouco vão chegando uns fiéis e sentando num banco. Alguns deles são ejetados do banco. E aí entra o voice over:

Se Deus não recusa ninguém, por que  a Igreja deveria? Achei mudeeerno. De verdade, pelo cliente, pelo tom, é bem feitinho.

Aqui tem desses clientes que a gente não espera ver anunciar. Outro dia, uma recruiter de uma outra agência me ligou perguntando se eu gostaria de ir trabalhar lá numa conta nova, (todo mundo sentado?). O Exército. Isso, "tiveram o transplante" (adoro essa frase da empregada da Isa, uma redatora brilhante, daí), pois tiveram o transplante de me pedir pra escrever um comercial falando: “Ei, você adolescente americano, tá fazendo nada? Venha lutar aqui no Iraque, a gente paga sua faculdade!!!!!!!!".

Essa hora eu tenho meio vergoinha de morar aqui. Esse mês mesmo eu fui pro Egito, fugida, depois de apresentar uma campanha em Amsterdã. Tava tão felizinha, entrei numa agência de turismo e pumba, vamos pro Cairo.

Bom, o tratamento de brasileiro, fora no Brasil, é ótimo em qualquer lugar. Mas só de saber que eu morava aqui eles já me trataram com uma rispidez e me incluiram no pacote “Porque vocês na América…” e eu “Ei ei ei ô, do turbante, eu estou em NY mas sou brasileira”. E pode fazer preço de América do Sul, porque eu não vou pagar tudo isso por esse camelo, não.

No quesito literatura, quem é o ó do borogodó pra mim agora é Augusten Burroughs, Magical Thinking. Eu sei que o nome sugere algo meio Paulo Coelho mas acreditem, eu sou a pessoa mais cética, odeio qualquer coisa sobrenatural, cósmica, especial, de planeta ou gosma. Ele é um redator de agência que foi tão, mas tão longe que chegou lá. Fora da propaganda. Engraçado né? Você quer ir e ir e ser o melhor, na maior, no Ceo Galatic Chairman Worlwide Plus Vita Mega Plat Zum pra atingir sua meta final de escrever “O que se Usa” na edição Caras Mato Grosso. Porque seu sonho sempre foi escrever e não propaganda.

Mas, enfim, leiam, é um humor maravilhoso. Ele conseguiu o improvável. Me deixar na cama o final de semana inteiro, sem querer sair e nem atender o telefone. E detalhe, o moço é gay.

Ahá, agora já é hora decente de gente chegar na agência, aê o pessoal que bebeu ontem na festa do One Show chegando, olha o resto de maquiagem. Chefinho, eu cheguei cedo, chefinhooooo olha eu digitando minha coluna do Passaporte e você achando que é trabalho. Enganei o bobo na casca do ovo. 

Ontem, foi um grande encontro dos brasileiros no One Show. (o filme It’s a Big Ad é ridiculamente bom). Foi a primeira festinha de propaganda em que eu me senti em casa.

Mas eu tenho que aproveitar enquanto a Fefa não ensina português pra todo mundo. 10% da festa ontem sabia falar Poa de kexo (pão de queijo) e Do grande cararro.  Eu não ensino nada, quero mais é que todos os interessantes continuem não me entendendo e que eu possa continuar aplicando o meu truque baixo de me apresentar pros desconhecidos interessantes quebrando o pescoço de lado e enrolando a ponta do cabelo: “You look very familiar….” O que no dicionário inglês-laurês significa “Considero constituir família com você”.


Laura Esteves de 9 as 7 redatora brasileira na DDB/NY e de 7PM as 9AM  play the terror in NY.  

Comentários

Felipe - divertidíssimo, acho que li do mesmo jeito que a Laura escreveu: de um só fôlego. queria ver passaportes desses com mais freqüência. lipeSP@yahoo.com.br


 Rivelino Coelho - Não tem como não ler esse texto sem dar umas boas risadas. Um luxo! Um dia eu chego aí...rsrsr river.coelho@gmail.com


eliane peres - tudo de boooooooooom. que delícia ler os textos da laura. pode mandar mais!! bjbjbjb pra vc laurinha. eliane.peres@age.com.br


Isaac - mandou bem, como sempre. Mas desencana dessa história de comprometer-se com números, estatísticas e desmitificar "alice nos país das maravilhas". Que se dane a alice e os que adorariam ser alice. Cá entre nós. Com números ou sem, com realismo ou sem, cheio de bobagens ou sem...seu texto continua sendo óooooooooooooootimo. uberisaac@uol.com.br


André Balaban - Os textos desta menina são tão bons que se eu já não fosse casado, 2 filhos, criador de agência do interior, eu correria atrás dessa mulher! andre@grupodecriacao.com.br


Renato - Laura, seus textos são SEMPRE os melhores. Além de divertidos, são sim, super informativos. Vc não tem idéia disso.
renatofc85@yahoo.com.br


Emmanuel - De todas as reveleções dos 12 anos do youngcreatives, nada mais gostoso do que a Laura, com todo o respeito. Estou impressionado com a quantidade de brasileiros na DDBNY e en todo os estaites. Subdesenvolvido é uma merda: depois dos jogadores de futebol, agora, são os criadores. epubliodias@youngcreatives.com.br

Mauricio - Sem dúvida. Passaportes como esses da Laurinha deveriam estar aqui com mais frequência. Mas coitada. Assim ela vai ter que ficar chegando cedo todos os dias!!! Manda ver, menina!
mauricio@mauriciocriativo.com


Priscila Dagnesi - Com uma espontaneidade ímpar, é uma delícia ler seu bom humor matinal, Laurinha!!!!!! pdagnesi@gmail.com


Gady Laniado - Me diverti muito com esse Passaporte. Adorei o dicionário inglês-laurês hahaha. Muito bom. Nada como começar o dia dando umas boas risadas...não costumo acompanhar a coluna, mas se for sempre assim vou virar fã. pdagnesi@gmail.com 
 
Danilo - POA - Nossa, mto divertida essa coluna. :) Parabéns Laura! Você foi mto longe, estudo pp (OBVIO) espero um dia chegar a Ny como vc. :) Sucesso menina! BJS! odanilo85@hotmail.com


 taise - Sensacional como sempre Laura! Mas to morrendo de curiosidade ha horas quem sao as pessoa junto contigo na fotita?
taise@dezpropaganda.com.br


Bruna - Precisa comentar laurinha?? Acordou isnpiradissima hein!!! Muito boa a sua coluna. A sua irreverencia mostra o pq vc fez merecer seu lugar ai. Um grande beijo rm.bruna@gmail.com


 Vanessa Munhoz - Laura você está de parabéns!! Este texto é "gostoso" de ler, não é cansativo, cheio de linguiças, ele é direto e escrito informalmente, agradável, parecendo que estamos conversando com você msm, muuuuuuuito bom!!! lulusete@hotmail.com


 Deny Zatariano - Muito bom, como é a primeira vez que estou lendo Passaporte digo que é um diário criativo. Parabens Laura e muito sucesso, ou seja, mais do que você já tem. Um dia me organizo a acordar cedo e escrevo algo, hehehe. zatariano.d@contrapunto.bcn.bbdo.es


 

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