arrow_backVoltar

Dá um morxanblue aí

Laura Esteves*

13.04.05

Eu tinha duas opções: ser redatora ou Bolete.


O Bolinha (aquele que concorria com o Chacrinha) passou dessa pra melhor, então eu tive que vir pra propaganda mesmo.


Mas nunca pensei em ser diretora de arte. Fiz aqueles cursos de Corel Draw que equivalem a aqueles cursos de violão por correspondência que tinha há muitos anos nas revistinhas da Mônica e do Cascão. Mas nunca gostei de ficar remexendo imagem, cortando, limpando, dando os cropie e outros nomes dificílimos que eu via os assistentes falando.


As vezes eu dava um palpite numa referência, mas nada além do “dá ou não dá pra entender”.


Nunca fui redator que segura na mão do diretor de arte enquanto ele layouta e fica palpitando, fazendo junto mesmo.


Até vir pra cá e descobrir que eu era feliz e não sabia.


Pra começar que aqui não é tão separado isso de redator e diretor de arte.
Tem muitos que fazem os dois.


Pra ter uma idéia, depois de muitos meses aqui, ainda tem muita gente que eu não sei se é redator ou diretor de arte. Eu tento descobrir pelo tamanho do monitor: diretor de arte tem aquele grandão transparente e redator tem laptop. As duplas são fixas mas mudam de job por job. Quem define isso é a recruiter, uma espécie de tráfego/RH (falei dela no texto anterior), porque é ela quem vê as pastas, contrata, negocia salário, enfim é a pessoa pra quem depois de uma noite na gandaia você liga pra falar que está um pouco gripado.


Agora eu tenho um dupla fixo, mas no começo eu trabalhei um pouco sozinha. Aí quando eu precisava explicar mais uma idéia, eu que sempre fui terror até pra Imagem e Ação ia lá fazendo minhas casinhas e bonecos de palito.


E não tem desculpa, vou falar o quê? Que não sei desenhar em inglês?
Aí eu descobri um desses sites de imagem de arquivo, tipo stock photos, keystone. Agora eu vou lá, dou busca na imagem e colo nos roteiros. Porque aqui tem disso, key frame. Quando você apresenta o roteiro de TV pro cliente, vai num layout com uma imagem que representa a idéia principal do roteiro. E o diretor de criação tem que aprovar, tipo um layout mesmo.
Mas o que eu acho engraçado é que os diretores de arte não têm a rapidez e nem a manha, mesmo, de montar as imagens como acontece aí.
Pra começar que aqui não tem assistente, então é um faça você mesmo, moreno. Eles não mexem muito bem nos programas, então fica uma coisa meio bizarre aquelas montagens, que parece que o redator que fez.
Quando é uma montagem mais difícil, eles mandam a imagem pro estúdio e um cara lá em cima faz melhorzinho. Ah, também não tem catálogo da keystone pra achar referência e aquela novela de post it marcando as melhores. Eles acham essas imagens em sites mesmo e copiam.
Fica tudo meio reticulado, eu acho estranhíssimo, mas sorrio e falo “so nice”…que, aliás, virou meu apelido: “Laura so nice”.
Tem até um jingle que meu diretor de criação fez. Ah é, aqui muita gente tem violão e até piano nas salinhas.


Domingo a gente veio trabalhar e tinha uns caras tocando.


Eu acho legal, mas desculpa aí, domingão de sol, sinceramente eu queria mais tocar era pra West Broadway com a Grand no Soho, que é onde pega domingo de tarde.  


*Laura So Nice Esteves, é redatora da DDB NY e colunista da seção Passaporte

laura.esteves@ny.ddb.com


Comentários

Vanessa Andrade - Todos os textos da Laura Esteves são ÓTIMOS. Eu me acabo de rir e, como redatora, me imagino nas situações. Pelamordedeus. Não percam essa menina de vista. Beijos e parabéns Laura. Very nice. andrade_vanessa@hotmail.com


 

Dá um morxanblue aí

/