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por: Laura Esteves*
As questões que intrigam o ser americano: "por que você largou um país onde faz sol o ano inteiro"? "Todo mundo faz Brazilian wax no Brasil"? E a top: "Mas como é que você escreve em inglês"?
Minha resposta pras três é: "Não sei".
Para falar a verdade, se eu tivesse pensado muito, e eles também, eu teria tido mais medo de vir. Eu vim com meu inglês "sank (língua no meio do dente) you" e até agora tá dando certo.
A começar que aqui é basicamente TV. É impressionante como todo mundo anuncia na TV: produtos farmacêuticos, todas as pizzarias e até Carmel, o taxi que te leva pro aeroporto. Tudo na TV.
E roteiro de TV é mais visual. É mais a idéia do que o texto. Descrever uma cena é mais simples do que fazer um spot, por exemplo, cujas palavras precisam ter uma fluência agradável. Ou títulos, onde a forma conta muito. Você fica ali num jogo de xadrez, mexe pra cá, pra lá, estuda a melhor forma de falar. Pois pra minha alegria, e do revisor também, a maioria dos jobs é pra TV.
Textão, mesmo, foram poucos.
Alias, o nonononono é universal e os diretores de arte daqui também usam.
Óbvio que eu faço erros do tipo esse "opens in a woman or opens on a woman". Mas o Lee, meu diretor de criação, é sensacional. Ele fala: "Preocupa não, Laura. Eu também não falo inglês, sou do Bronx".
Ainda me pergunta como é que se pronuncia meu nome no Brasil, e se eu preferia que ele me chamasse de Laura ou Lóra, que é como meu nome é aqui.
Ou seja, eu não falo sua língua, nego me aceita e ainda se oferece pra falar do meu jeito? Eu disse pra ele me chamar do que quiser, ô coisinha, meu lôro.
Isso me faz uma falta danada, a rapidez pra traduzir uma brincadeira. Nos mails então, nem me fale. Assim como quem cozinha bem pega marido pelo estômago, redator sabe que suas letrinhas podem levar a muuuuuuita coisa.
Mas eu tento. Tem um diretor banbanban de RTV, aqui, que veio me contar que foi ao Brasil, muitos anos atrás, nos anos 70, e que teve um caso com uma atriz, tal de Norma Blum. Ele contou que foi um caso passageiro e que ele voltou pra cá e nunca mais soube dela.
Eu virei pra ele e falei: "Meu Deus, Bob, ela é minha mãe. Ela sempre me falou que meu pai era um Americano que tinha ido lá e sumido". E abraçando, falei: "Papppaaaai".
O homem quase teve um enfarte. E eu, com medo deles me processarem, porque tudo aqui nego processa, desmenti rapidinho.
Mas já foi um avanço.
Meu próximo desafio é tentar ser irônica e ser compreendida.
Tenho que pedir tantas desculpas, ou explicar dez vezes o que eu realmente tava querendo dizer, que, na verdade, é melhor nem tentar.
Mas essas coisas de cultura pegam mais no dia-a-dia do que no trabalho mesmo. Se você pensar, ninguém faz tanta coisa com gíria. As empresas, as "agencies" e até os prêmios são globais. Então, o melhor mesmo é um texto que funcione em todas as línguas.
E pra quase tudo deles aqui tem um nosso aí: o DodgeBall, nome do novo filme besteirol do Adam Sandler, por exemplo, eu vim a descobrir que é um esporte entre a nossa queimada e o "pari-bola".
*Laura ou Lóra Esteves é redatora, vei do Brasil para a DDB/NY e estréia como colunista da seção Passaporte
laura.esteves@ny.ddb.com