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O McLuhan que nos perdoe
Em 1964, o filósofo da era eletrônica, como era chamado Marshall McLuhan, desenvolveu a teoria de que o meio é a mensagem.
Em seu livro Understanding Media: the extensions of man, MacLuhan discorre sobre os meios de comunicação como extensões do homem e mostra como eles nos levaram a um mundo audiovisual-táctil, tribalizado e cósmico da era eletrônica.
Mas a teoria macluhaniana é datada dos anos 60 e muita coisa aconteceu de lá pra cá.
Apesar de todo o trabalho intelectual espetacularmente visionário e inovador deste autor, acredito que, diante de tantas mudanças que envolvem os meios de comunicação, podemos questionar se o meio ainda é a mensagem.
McLuhan insistia na impossibilidade de separar a mensagem do meio, pois para ele a mensagem é determinada muito mais pelo meio que a veicula do que pelas intenções de seu autor. Portanto, ao invés de serem duas funções separadas, o meio é a mensagem.
Os meios de comunicação impactam na vida das pessoas. Mas o que são os meios? Para entendê-los é necessário visitarmos o processo de comunicação concebido pelo linguista russo Roman Jakobson: um emissor que envia uma mensagem para um receptor utilizando um código por meio de uma canal.
Ao considerarmos que o canal é o meio, podemos dizer que a mensagem é o conteúdo do meio. São os meios, em si, mensagens que modificam o mundo em que vivemos.
O que conta é o modo como estes meios de comunicação são utilizados. Considero que o meio seja apenas um espaço que detém infinitas possibilidades para se transmitir ou se construir uma mensagem.
Hoje, em 2008, contamos com uma quantidade maior de meios do que na década de 60. Além dos tradicionais, como jornais e TV, temos também a internet, smartphones, iPods, TV Interativa, meios analógicos e digitais, todos convivendo juntos.
Mas o veículo, meio ou mídia, é o fator mais superficial do processo no sentido de ser a primeira coisa notada pelo receptor no processo de comunicação.
Os meios são tecnologias esvaziadas de sentido, não fossem pelas mensagens que circulam por elas. O mais importante neste processo é, portanto, a mensagem, aquilo que é criado para ser veículado nos meios.
O meio não é a mensagem. Pois não se trata mais de convivência dos meios analógicos e digitais e sim da convergência deles.
O que fará a tão esperada convergência do meios não serão as novas tecnologias e sim as mensagens criadas por nós, profissionais criativos.
Por Andreia Brazil, diretora de criação digital da Centoeseis
Comentários
Luiz Guilherme Amaral - Concordo em gênero, número e 'degrau'. Até no céu dá pra passar uma mensagem, como faz a Esquadrilha da Fumaça. Temos que ter cuidado, e porque não dizer carinho, é com o que está sendo dito.
Rafael - acho que devemos ter muito cuidado ao comentar McLuhan. A teoria dele parece ser muito fácil de ser destruída. Mas não é. Ter mais 5 meios importantes do que na década de 60 não muda a idéia que ele quis passar. "O meio é a mensagem" não irreleva o conteúdo. Ele só reforça o que hoje todo mundo acha bonito falar: "Cada meio tem uma vocação". A revista tem uma mensagem, a internet tem outra mensagem, a TV tem outra mensagem. Tanto faz o conteúdo, cada meio tem uma mensagem. É isso que McLuhan disse. Qual seria a mensagem da TV, por exemplo? "Acesso massivo à informação de modo audiovisual e de mão única". Essa é a mensagem da TV, não importa o conteúdo. O meio é a mensagem. Ponto.
Daniel da Hora - Discordo diametralmente do ponto de vista do texto. Acredito que, mais do que nunca, o meio é a mensagem, no sentido de que o signo que circula em cada meio é influenciado por este. Em português: fazer uma campanha integrada requer, antes de tudo, adaptações para cada tipo de meio. Sempre, dentro de uma grande campanha, a ativação de rua deve ter um approach, o anúncio de revista outro, a ação mobile outro, devido justamente às peculiaridades de cada meio.
Márcio Shein - Discordo. As pessoas não se relacionam de forma igual com os diversos meios. Os meios não são tecnologias esvaziadas de sentido. Campanhas que têm em toda a sua extensão o mesmo conceito são obrigadas a criar formas diferentes de se comunicar em cada meio. E, na maioria das vezes, para pessoas diferentes. É possivel se passar a mesma ideia em meios diferentes, mas para isso é necessário se adaptar a mensagem. Por isso, o meio é ainda a mensagem. Empresas que pegam um anúncio de revista, animam e jogam num banner não sabem o que estão fazendo. Cada meio tem sua peculiaridade. McLuhan ainda está certo. O fenômeno da "convergência" só vem a reafirmar isso. Se fosse tudo igual, convergência se chamaria redundância.
andrea brazil - Gostaria de esclarecer que quem diz que o meio não é mais a mensagem são inúmeros autores como a Lucia Santaella, por exemplo. Não estou, em hipótese alguma, destruindo a teoria brilhante do Mcluhan, estou apenas discutindo e com total embasamento teórico. Quero agradecer os comentários do leitores pois o texto que escrevi traz questões em que acredito e que devem mesmo ser comentadas e discutidas. :)
luciana elaiuy - Também concordo. Aliás, isso torna a mensagem mais inteligente e criativa. Essa é a condição para que ela funcione em liberdade. Que bom!
Juliana - Eu acho que o texto está claro: com a convergência de mídias e o alto grau de conteúdo a que somos expostos, a mensagem deve ser cada vez mais relevante. Por mensagem entende-se algo maior, o conceito que vai nortear qualquer peça feita para determinada campanha. Criar entretenimento, essa é a maior cobrança que sofremos diariamente, certo? Pra mim fica implicíto - e óbvio - o fato de que a mensagem deve sofrer adaptações para se enquadrar melhor ao meio - e isso passa longe de animar um anúncio num banner. Resumindo: os comentários estão extrapolando o que foi dito no texto. Essa é a minha leitura.
Daniel da Hora - Andrea, não consigo acreditar que a Lúcia tenha dito que o meio não determina a mensagem. A semiótica Peirceana é muito explícita quanto a iquestão do suporte, onde o quali-signo é fundamental na construção do interpretante.
andrea brazil - Oi Daniel, Por favor leia: SANTAELLA, Lucia. Culturas e artes do pós-humano - da cultura das mídias a cibercultura. ed. Paulus, 2003. pg 115-117. Adoraria discutir mais este assunto com vc. Por favor me escreva: andrea.brazil@gmail.com Obrigada.
Ricardo Amaral - Um exemplo claro que confirma a teoria de McLuhan, estamos em um forum de discussão e que esta acontecendo aqui é uma discussão! E quem ganha com isso é?
Diogo Patoilo - - Iphone é a mensagem.
Sandro - Acredito que este texto tem um papel importante na indústria da propaganda. Em primeiro lugar, trazer conhecimento teórico para o dia-a-dia, onde cada vez mais ele é banalizado, tendo seus problemas resolvidos de forma cada vez mais rápida. Outro ponto positivo do texto e que ele aborda um ponto de vista diferenciado sobre o assunto, ocasionando uma grande discussão. Pra mim, essa é a parte mais importante. Só vamos conseguir evoluir se cada um questionar mais ao invés de simplesmente responder aos problemas. Parabéns pelo texto e mais ainda, a todos que se envolveram na discussão.
Dudu Colares - Acho que os planos de campanha a que estamos criando e sendo expostos são suficientes para discordar do ponto de vista do texto. A sociedade mudou e é graças aos meios que a mensagem consegue acompanhar o consumidor. Logo, o meio é a mensagem.
Karla - Concordo plenamente. Sem a mensagem, o MEIO não passa de um espaço vazio, uma forma, um canal sem nenhuma utilidade. Só com uma mensagem bem adequada o meio consegue cumprir sua função; comunicar!
Renato Frigo - Desde que ele lançou a teoria...muitos tentam derruba-la...ou subverte-la...nao discordo de algumas coisas que voce apontou...mas acredito muito que o meio é a mensagem. A convergência sera feita pela massa consumidora e nao pelos profissionais de comunicação. Voce fala que o que importa é o conteudo, que a midia que representa esse conteudo é secundaria. Eu concordo que o conteudo é o mais importante...ele é a alma da mensagem...mas o meio é o corpo. Concorda que um quadro é um meio para passar uma mensagem? Veja a Monalisa original lá no Louvre, depois procura uma foto do quadro na internet. A diferença é brutal. abracos Renato
João Paulo - Sem mensagem, o meio não é meio. Fácil rebater a teoria quando citamos o surgimento de novos meios que, não por acaso, são todos classificados como "mídia digital" ou "interativa", o que, ainda assim, não escapa a McLuhan e sua "audio-tactibilidade". Até aí, argumentamos. Mas e se pensarmos em um outdoor? Mobiliário urbano? Um muro? Ou, conforme ilustrou o próprio McLuhan, um filamento de tungstênio de uma lâmpada elétrica? Nesses casos, só a existência desses meios já diz uma mensagem!
Luana - Quem nasceu 1º, o ovo ou a galinha? hahaha
Gustavo Mini - "O meio é a mensagem" não é uma frase que se encerra nela mesma, é a porta de entrada pra um raciocínio. Meio e mensagem, quando acessados, são indissociáveis. Se formos mais longe ainda, meio e mensagem também dependem totalmente do repertório do receptor (e do emissor e assim por diante). É loucura querer isolar esses fatores, tratá-los como unidades isoladas. Mais do que nunca, hoje é preciso entender muito bem o todo, talvez mais do que as partes. Dizer que o meio não é a mensagem é querer extrair cirurgicamente um pedaço vital de um organismo. Ele morre em pouco tempo. Podemos ainda ir mais adiante e evocar a idéia da historiadora Lisa Gitelman (que eu não conheço, mas foi citada no livro do Henry Jenkins). Ela oferece um modelo de meio (media) que funciona em dois níveis. No primeiro, estamos falando da tecnologia que permite a comunicação, que entrega a mensagem. No outro nível, numa série de protocolos sociais e culturais que cresceram junto com a tecnologia. Esse segundo nível do meio, indissociável da sua tecnologia, também é parte fundamental da mensagem. Querer separar isso tudo é como dizer que as obras mais "disruptivas" do Picasso não foram, de certa forma, condicionada pelos meio e pelos protocolos da "pintura".
Guilherme - Vejo o meio como o corpo e a mensagem como a vida. Um corpo sem vida é morto, assim como o meio sem a mensagem também se torna inútil. O fato é o que estamos fazendo com o corpo reflete diretamente na mensagem. Pessoas que querem apenas se comunicar usam e abusam do seu corpo até que ele se torne obsoleto e morra. Pessoas que procuram vida cuidam bem do corpo apenas para que aquilo que está dentro dele apareça, porque entedem a mensagem como o objetivo a ser cumprido. Se os dois fossem a mesma coisa, seria inútil existir intelectualidade. A TV não precisaria investir em pessoas que escrevem roteiros, bastaria colocar o logo da emissora para o público assistir. Os anunciantes não precisariam de idéias, colocariam seu produto e o logo na revista contigo e pronto, os leitores dessa revista já estariam informados sobre o mesmo. Para que o meio continue a existir é fundamental cuidarmos da mensagem. Para ilustrar o que eu falo, vou usar um exemplo publicitário. Vejo a Philips usando e abusando do meio pra tentar se manter. Enquanto o "se liga cabeção" da semp toshiba explorou muito bem a mensagem. Vejo a semp toshiba sendo lembrada e incorporada a cultura popular. Ou seja ela sobreviveu mesmo fora daquele meio no qual foi veiculada.
Bianca Agnelli - Eu acho que o relevante desse texto não é a tentativa de combater a teoria do McLuhan (se é que tentou-se combatê-la, para começar), mas sim mostrar que, apesar das crescentes possibilidades que os novos meios nos oferecem, é a mensagem que vai fazer uma criação publicitária ser boa ou não. Acho que esse ponto foi ofuscado pela polêmica de se citar um teórico da comunicação de tamanha grandeza logo de cara.
Andrei Polessi - Andréia,...pra mim o meio tanto é a mensagem, que este receptor que vos fala recebeu sua mensagem toda truncada, quebrada,...graças a todas as quebras de parágrafo que vc fez no seu texto,.... suas frases vieram como que soluçando até meu cérebro que por julgar esse discuido, ou capricho intencional um sacrilégio comunicativo.
Daniel da Hora - - Oi Andréa, não quis colocar seu arcabouço em xeque, mas apenas discutir a partir de um entre vários pontos de vista e acho realmente que você entendeu o que eu quis dizer. Bem, em meu livro (que tem apresentação da Lúcia), uma discussão que fica clara é como as mensagens "devem" ser adaptadas e como o primeiro momento de entendimento de qualquer fenômeno (a grosso modo: primeiridade) é influenciado por uma série de fatores, inclusive o meio. Neste trabalho meu, especificamente o foco é a mídia impressa e como a propaganda utiliza referências que só podem ser utilizadas pelo fato mesmo de ser mídia impressa. Bem, entrarei em contato como você pediu e lhe enviarei meu livro com prazer. É sempre bom discutir com gente inteligente. Abcs.
Marta - o texto subiu de forma a se tornar mais agradavel a leitura, como todos os textos deste site, que trazem espaços duplos entre as frases. ô gente que implica com tudo. que exagero falar que a mensagem está truncada, com soluço, pelamordeDeus. Vamos manter o foco no que interessa. Se nao fossem esses espaços seria um porre ler tudo isso.
Fernando Sá - - Nem tanto mar, nem tanta terra. As palavras de McLuhan ainda são lúcidas e fazem todo o sentido. Elas estão intrínsecas na natureza da comunicação. O meio não é a mensagem completa, mas parte dela. Dizer que o meio "é ou não é" a mensagem é subestimar o poder que a Comunicação tem. Além de muito que já foi dito em todos os comentários, da importância de cada meio no composto e na convergência, podemos ir a níveis mais simples e perceber que o o meio compõe também a mensagem. Um discurso emitido pela Globo é percebido pela massa (pensando ou não) de uma maneira diferente daquele proveniente da Record. E assim desenrolamos com outras emissoras e até mesmo com outros meios. Fazendo uma alusão bem boba ao que o Guilherme disse acima (Um corpo sem vida é morto, assim como o meio sem a mensagem também se torna inúti), a Mulher Melância consiste no quê? Apenas peito e bunda? Ali está uma mensagem, aquilo é um canal. A comunicação está em tudo, em cada gesto. Por isso seu estudo é tão amplo e complexo, interdisciplinar e atemporal. Não perdendo McLuhan, "if it works, its obsolete". Por isso precisamos nos reinventar sempre.
marcos - Minha opinião vem do ponto de vista prático: se o meio altera a forma como a mensagem é interpretada, de fato McLuhan está certo. E invariavelmente, o método pelo qual a pessoa recebe a mensagem altera sim o formato, podendo transformar a forma como a mensagem será recebida e logo interpretada. Quando você lê uma notícia no jornal, e em seguida vê na TV, você capta de diferentes formas. É diferente, por exemplo , você acompanhar pelo folha online e pela televisão o caso de uma menina que foi sequestrada durante 100 horas pelo ex-namorado. Você receber apenas em texto no celular a mensagem de que a polícia invadiu o local e você ver pela TV são coisas diferentes, as sensações são diferentes e até mesmo a opinião sobre o assunto pode mudar. Foi isso que McLuhan quis passar em sua teoria.
Marcos - Acho que cada autor defende seu ponto de vista justamente para gerar discussão, e cada pessoa tira sua própria conclusão para nortear sua metodologia ou filosofia de trabalho e atingir as metas e objetivos traçados para cada campanha e cada ação dentro dela.