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Dia mundial da preguiça
Dia feíssimo em São Paulo. Chuva, frio, tudo escuro. Acordo às 7h, atrasado para levar as crianças à escola. Consigo chegar na hora.
Na volta, aproveito para me refugiar um bocadinho mais no calor da cama. Me aninho em minha mulher, que assiste à Gilmore Girls na TV, com som baixinho e a luz azul da tela se derramando pelo quarto escuro, quase num mantra televisivo que fica entre acordar devagarinho e dormir mais um pouquinho, que fica entre deixar o feriado para trás para começar a semana de vez e segurá-lo pelo rabo, não querendo encarar o dia útil. Me abrigo ali, naquele torpor gostoso, "não sei se preguiçoso ou se covarde, debaixo do meu cobertor de lã", como canta o Chico, sem ligar para o mundo que acelera lá fora.
Ainda não são 9 horas, argumento comigo. Não preciso ser o primeiro cara de São Paulo a ligar o notebook para me sentir bem. Com isso afasto a culpa e ganho mais uns minutos de lerdeza.
Em seguida o dia começa. O quarto fica claro, o café já está tomado, é hora de responder e-mails (opa, vou fechar um negócio hoje!), de atualizar o perfil no Twitter e no Facebook, de construir meu post do dia aqui no Manual do Executivo Ingênuo. Lembrei de quando trabalhava em fábrica - meu primeiro emprego corporativo - e batia o cartão às 8h. Se atrasava 10 minutos, me descontavam.
Sempre que eu saía depois das 18h, no entanto, ninguém anotava, ninguém controlava, era por minha conta. Como era difícil acordar às 6h30. Acordar antes do sol, quando ainda está escuro, é uma experiência indigna. E pensei que todos deveríamos instituir intimamente o dia mensal da preguiça. Um dia para você fazer as coisas no seu tempo e não no tempo dos outros.
Um dia para você dormir mais, acelerar menos, procrastinar um pouco, enfim, adular-se. Não dá para fazer sempre. Mas um dia por mês dá. E faz bem.
No mínimo, para reatar junto a si mesmo a certeza de que você é importante para você, de que você conta, de que você, afinal, não se trata no piloto automático, como se fosse um punhado de favas contadas.
Esse texto, escrito na manhã desta terça-feira embaçada, é do blog Manual do Executivo Ingênuo, de Adriano Silva, publisher do Gizmodo Brasil. Visite aqui.
O texto foi destacado também no Twitter do Rui Branquinho.