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+ sobre Young Lions
Este texto é uma mistura de crítica construtiva com desabafo pessoal.
Meu nome é Thiago Cruz, sou brasileiro, diretor de arte, trabalhei alguns anos em grandes agências de São Paulo e, 3 meses atrás, fui convidado a fazer parte da equipe criativa da Leo Burnett de Lisboa.
Participei das três últimas edições desta competição, sendo inclusive finalista em duas delas. E, neste ano, mesmo com a distância, cumpri absolutamente todos os requisitos e prazos para inscrição.
Ou pelo menos foi o que eu pensei, até que recebi um e-mail da organização dizendo que não poderia participar este ano porque não moro no Brasil.
A princípio achei que houvesse algum engano. Afinal, somente no ano passado, três dos integrantes da delegação trabalhavam fora do Brasil, sendo que um deles trabalhava exatamente na mesma agência onde eu trabalho hoje, e os outros dois ainda foram escolhidos (merecidamente) para representar o país
na competição.
Como eu já havia preparado tudo para a inscrição, resolvi proceder
normalmente, e esperar algum esclarecimento por parte da organização. Até que nesta terça-feira, 4 de maio, um dia antes do término das inscrições, eu recebo um telefonema aqui em Portugal, dizendo que a minha inscrição não seria
aceita por não estar de acordo com o "novo regulamento".
Imaginem a minha frustração ao saber que, depois de 15 edições da competição, depois de eu ter me esforçado durante anos de estudo e trabalho em grandes agências do Brasil para chegar a um nível razoavelmente competitivo, depois de 3 meses realizando o sonho de ter uma experiência profissional fora do Brasil, alguém havia criado uma "nova regra", que jogava tudo por água abaixo.
Aliás, não era nem uma regra. Segue abaixo o regulamento deste ano, retirado diretamente do site:
" Os profissionais que desejam participar do programa devem preencher os seguintes requisitos:
* Estar em atividade profissional no mercado há mais de 2 (dois) anos, em qualquer área ou setor.
* Ter 28 anos até a época do Festival, ou seja, ter nascido após 26 de junho de 1981.
* Nunca ter participado do Festival de Cannes (Cannes Lions) em qualquer categoria de delegado (Young Creatives, Young Lions ou delegado normal).
* Proficiência suficiente em inglês para entender e discutir um briefing elaborado pela organização do Festival de Cannes.
* Preencher os parâmetros de desempenho profissional (portfólio, programas, filmes, fotos, jingles, spots, anúncios e outras peças, finalizações, planos publicitários e de mídia, etc.) de acordo com a categoria escolhida, para avaliação de um júri indicado pela organização e outros parceiros.
* Carta pessoal, assinada, declarando que jamais participou do Festival de Cannes (Cannes Lions) como delegado (em qualquer categoria), Young Lions ou Young Creatives, em nenhuma de suas edições; e que nasceu após 26 de junho de 1981. "
Mas havia um pequeno adendo láááá embaixo, uma "observação" (muito confusa e mal escrita) dizendo que no momento da inscrição o candidato deve estar morando no Brasil.
Enfim, decepções pessoais à parte, gostaria de expor algumas dúvidas minhas - e acredito que de muitas outras pessoas, participantes ou não - sobre esta decisão da organização.
Imagine por um segundo que o Dunga, técnico da Seleção, acorda um dia com o pé esquero e resolve que, a partir deste ano, nenhum jogador que atua em times fora do Brasil pode ser convocado para representar o país pela seleção. Assim, sem mais nem menos.
Pensando de uma maneira bem tosca e superficial, ele até poderia fazer isso, se quisesse. Poderia inclusive disfarçar isso de "boa intenção", alegando que o objetivo é valorizar o profissional que trabalha no Brasil. O próprio Evo Morales anunciou planos para fazer algo parecido (leia notícia aqui: http://tinyurl.com/33c8ahr).
Mas por que diabos o Dunga ia querer fazer uma coisa dessas??? Por que ele iria eliminar justamente aquilo que faz a seleção brasileira ser a melhor do mundo: a velha fórmula talento+experiência.
É uma comparação um pouco ridícula, mas de certa forma, é isso que está acontecendo com esta competição.
O ÚNICO critério de julgamento deveria ser o seguinte: vamos selecionar os melhores jovens profissionais brasileiros para representar o país. E ponto final.
Qualquer distorção dessa premissa básica, a meu ver, se torna tendenciosa e autoritária, e o único resultado disso é que o festival perde não só inscrições, como perde a credibilidade.
Onde fica o respeito pela seleção feita pelo excelente júri de ex-Youngs, quando todo o mercado sabe que, na verdade, aquela amostra que foi apresentada a eles não representa a realidade?
Qual é o patrocinador que quer a sua marca vinculada a um festival que promove um julgamento explicitamente parcial?
Quem vai ter vontade de se inscrever em uma competição que claramente prejudica potenciais candidatos?
Quem vai sentir orgulho de ser selecionado por um concurso que se preocupa demais com a política, e pouco com o nível de seus competidores?
Se o objetivo dessa nova regra foi evitar "polêmicas" como a do ano passado, onde surgiram boatos quanto à legitimidade da seleção de alguns integrantes da delegação, saibam que essa foi a PIOR manobra possível, e só contribui para que muitas pessoas continuem considerando o Youn Lions um festival
político, parcial, tendecioso.
Lembro-me da declaração pública que meu amigo e ex-Young Guigo Oliva fez aqui no ano passado, quando muitas pessoas questionaram a legitimidade do shortlist.
Ele fez uma defesa sincera dos valores e objetivos que a competição buscava alcançar. Ele deixou claro que todos os nomes daquela lista estavam ali porque tinham o melhor trabalho entre todos os brasileiros com menos de 28 anos. Sem politicagem, sem interesse, sem joguinhos. Só o talento e esforço de cada um. E, pela primeira, vez me fez realmente acreditar no julgamento, e sentir um orgulho brutal de fazer parte daquela lista de finalistas.
Com a decisão da organização de explicitamente privilegiar alguns, e excluir automaticamente outros, aquelas palavras já não fazem o menor sentido.
Eu não sei exatamente como o meu endereço atual pode nfluenciar no resultado da seleção.
Aliás, a meu ver, o fato de não estar no Brasil tende muito mais a me prejudicar do que ajudar. Alêm do mercado aqui ser infinitamente menor do que o brasileiro, além das agências serem muito menores e desorganizadas, ainda temos que nos esforçar o triplo para que nosso trabalho seja digno de apreciação aí, do outro lado do oceano.
Acho que o único fator que deveria ser usado no julgamento é o talento de cada particiante. Acho que o único critério é a qualidade do trabalho. Acho que o único número decisivo é a média das notas, não o número do meu voo, ou o cnpj que assina a minha carteira de trabalho. Acho que a competição tem que ser nivelada por cima, pelo bem da própria competição, de seus antigos e futuros ganhadores.
E que vença sempre o melhor.
O resto é conversa.
No fim das contas, tanto eu como qualquer outro profissional que more fora do Brasil poderia participar do Young do país onde vive. Mas eu não vou. Pra mim, não seria a mesma coisa. Mas essa é só a minha opinião.
E se ainda assim essa decisão da organização for realmente final, a única coisa boa que eu posso esperar do resultado desta competição é o meu dinheiro de volta.
Thiago Cruz
Leia outro texto sobre o assunto aqui.
Comentários
Diego Centelhas - Realmente uma regra ridícula. Imagine o Bob Burnquist não poder o campeonato brasileiro pq na hora da inscrição ele estava morando na california. Ou qualquer outro atleta profissional de qualquer esporte. RIDÍCULO
Gilson - Thiago, não entendi: se o seu sonho era trabalhar fora do Brasil você já está realizado. Bem, e eu acho que o exemplo da seleção do Dunga não deve ser considerado, afinal, são critérios distintos. Como no caso do Deco, que poderia ser o maior jogador do mundo, aionda assim nunca poderia jogar pela seleção brasileira. E ele é brasileiro. Nato! Ridículo? Ora, devemos saber conviver com regras e reveses. Faz parte da vida profissional.
F. P - Não é essa regra a mais que vai deixar uo young sem credibilidade, ja estamos cansados de ver todo ano ganhar 1 young de cada agencia que patrocina a competição. Quando sera que vai deixar de ser uma competicao de influencia e amizade e virar uma competicao de capacidade criativa e potencial?
Brasileiro - Concordo com o Thiago, o critério pra seleção de Youngs deveria ser o melhor trabalho e ponto final. Esse Gilson trata o Young como se fosse um prêmio de consolação pra quem está fora do país e a única chance de quem está dentro dele, e isso é simplesmente imbecil. Não entendo o medo que a galera tem de competir pelo melhor trabalho. Os Youngs ao menos pra mim sempre foram reconhecidos como os caras referência no mercado, porque colocando trabalho lado a lado eles chegaram na frente, e isso que interessa. Vamos começar uma nova fase de Youngs com medo de outros brasileiros só porque eles moram em outro lugar? Será que isso é bom pra propaganda brasileira, ou só é bom pra quem organiza? Será que todos nós não deveríamos se impor e lugar para que o festival não vire esse manda desmanda? Prorrogação para a galera boa brasileira em qqer lugar do mundo se inscrever, essa é solução. Quem estiver com medinho, trabalha mais na pasta ao invés de trabalhar nos bastidores ok?
Gilson - Brasileiro, não sei de onde você tirou o que você chamou de imbecil. Eu só disse que não se trata de uma questão de nacionalidade/nacionalismo. Apenas de mercado, é um critério, e temos de conviver com regras. Se fosse medo, acho que poderia, igualmente, haver medo de brasileiros em competir com profissionais estrangeiros. Penso que isso não representa a verdade para nenhum brasileiro. Aqui no Brasil ou não.