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Kofi Annan diz que desafios têm de ser resolvidos em conjunto
O ex-secretário geral da ONU, Kofi Annan, abriu nesta segunda-feira (14) o IV Congresso Brasileiro de Publicidade afirmando que desafios da atualidade têm de ser resolvidos em conjunto entre governos, entidades e setor privado.
Precisamos dar um rosto humano à globalização, para que um maior número possível de pessoas possa desfrutar de seus benefícios, afirmou.
Na cerimônia de abertura, falando para um público de quase 1.500 pessoas, Annan deu ênfase à necessidade de justiça social, aos riscos do aquecimento global e à necessidade de parcerias. No mundo de hoje, os desafios e problemas são tão complexos que os governos, sozinhos, não conseguem resolvê-los, e o setor privado tem um papel importante a desempenhar, disse.
Para dimensionar o alcance dos meios de comunicação, contou que recentemente estava num lugar remoto, meio perdido, até que chegou a uma cidade e percebeu, lisonjeado, que havia sido reconhecido. Porem, a primeira pessoa que lhe pediu um autógrafo chamou-o de 'mr. Morgan Freeman'. 'Assinei K. Freeman, e ficamos ambos felizes', brincou.
Daí em diante, o homem que nasceu em Gana e dirigiu a ONU por 10 anos, de janeiro de 1997 a dezembro de 2006, abordou questões que considera cruciais para a paz mundial. Deu destaque à "Global Compact", iniciativa da ONU destinada a mobilizar a comunidade empresarial internacional na luta pela promoção dos direitos humanos, do trabalho justo e da preservação do meio ambiente.
A globalização avançou muito nos últimos anos, mas bilhões de pessoas foram deixadas de lado, afirmou. Por isso convidamos as grandes empresas a assinar o pacto global, e muitas o fizeram, porque queriam ser vistas fazendo a coisa certa.
Disse que os publicitários brasileiros contavam com a Abap, que estabeleceu seu próprio código de ética e de conduta, e pregou a união das organizações em torno de objetivos comuns: As organizações podem aprender umas com as outras e se beneficiar das parcerias, tão essenciais nos dias de hoje, quando somos confrontados com problemas e desafios que ninguém pode resolver sozinho. Isso exige um trabalho em conjunto, de maneira a unir nossos recursos para obter o maior impacto possível.
Annan também discutiu os novos desafios da comunidade internacional e comentou a possibilidade de uma reforma do Conselho de Segurança da ONU, onde o Brasil reivindica uma cadeira permanente.
"O Brasil é um candidato natural à uma cadeira permanente no Conselho de Segurança", disse Annan, que defendeu uma reforma no órgão que atualmente tem entre seus membros permanentes China, França, Estados Unidos, Reino Unidos e Rússia.
Para ele, o Conselho precisa de uma reestruturação democrática, com a inclusão de membros permanentes da América Latina, África, Ásia e Europa. Entre os possíveis candidatos, ele citou nominalmente o Japão e a Alemanha. Annan afirmou ainda que a inclusão do Brasil entre os membros com direito à veto deve ser tratada com os países vizinhos. O conselho precisa ser reformado, disse, lamentando que não tenha conseguido fazê-lo quando era o secretário-geral.
O ganês comentou que certa vez um diplomata russo lhe disse que ele teve mais tempo para reformar o CS do que Deus para a Criação. Tem razão, mas Deus teve uma vantagem: trabalhou sozinho, respondeu Annan na ocasião, em relação à difícil tarefa de mediar os interesses das potências globais.
Durante sua fala, Annan defendeu que países como Brasil, África do Sul, Índia, China e Indonésia precisam participar das decisões globais econômicas. Os países ricos não podem decidir tudo sozinhos, observou
O ex-secretário-geral da ONU afirmou que o maior desafio da comunidade internacional no momento é lidar com as conseqüências das mudanças climáticas. "Não podemos utilizar os recursos naturais como se não houvesse amanhã", disse. Ele explicou que as mudanças climáticas no planeta são uma ameaça à economia e à segurança mundial e ressaltou o aumentou mundial nos preços dos alimentos como uma das principais conseqüências do fenômeno.
"Uma das conseqüências das mudanças climáticas que o mundo terá que administrar é a possibilidade de migrações em massa. Essas mudanças climáticas são a força mais destrutiva que a humanidade terá que enfrentar". E defendeu que os países mais poluidores devem ser taxadas por suas emissões de CO2. Este dinheiro seria usado no desenvolvimento de tecnologias verdes.
O prêmio Nobel criticou ainda o uso de grãos para a produção de biocombustíveis, dizendo ela é parte do problema da fome no mundo. "Quando você usa milho para produzir combustível, uma pessoa morre de fome no mundo". Afirmou ainda que mesmo no caso do uso da cana-de-açúcar para a produção de álcool, os países devem prestar atenção para não utilizarem suas terras mais férteis para a cultura.
Para o ex-secretário-geral, a situação política na América Latina é mais estável hoje do que quando exercia o cargo nas Nações Unidas, entre 1997 e 2006. "Fiquei feliz com o encontro entre Hugo Chávez (presidente da Venezuela) e Álvaro Uribe (presidente da Colômbia), na última sexta-feira (14), e brincou ao dizer que Chávez é um Fidel Castro mais jovem e com um monte de dinheiro. Segundo Annan, os impasses que vive a América Latina neste momento "são parte do jogo político. Mas é preciso estar atendo à situação da Bolívia", disse. A Bolívia realiza um referendo que pode revogar o mandato do presidente Evo Morales no próximo dia 10 de agosto.
Annan também citou o indiciamento do presidente do Sudão, Omar Bashir, pelo Tribunal Penal Internacional nesta segunda-feira e disse que a comunidade internacional deve manter os esforços para resolver a crise no país.
Ele comentou ainda a situação no Zimbábue, onde o presidente Robert Mugabe foi reeleito por um processo eleitoral 'viciado', segundo a oposição e a comunidade internacional. Para ele, o país deve seguir o exemplo do Quênia, onde uma crise institucional após as eleições em dezembro do ano passado foi solucionada com um governo de coalizão liderado pelo primeiro-ministro oposicionista Raila Odinga.
Em seu discurso na abertura, Dalton Pastore, presidente do IV Congresso, citou e agradeceu as 31 entidades e instituições parceiras, patrocinadoras e apoiadoras, e saudou os 1426 inscritos. Vocês devem se sentir orgulhosos.
Para Pastore, todos os participantes devem aproveitar essa oportunidade histórica entregando seu melhor. "Que tornemos a indústria de publicidade cada vez mais eficiente. Que a comunicação se livre dos filtros ideológicos e da hipocrisia de seus críticos. A grandeza desse Congresso não se revela na estrutura em que ocorre, mas na atitude libertária que ele quer promover."
O congresso continua nesta terça-feira com os trabalhos de mais 10 comissões, em que serão discutidos assuntos como a liberdade do setor publicitário e o futuro da comunicação no Brasil.
Às 16h haverá palestra de João Roberto Marinho, vice-presidente das Organizações Globo. Às 19h será a vez da jornalista norte-americana Judith Miller falar sobre liberdade de imprensa.
Para mais informações sobre o congresso acesse: www.congressodepublicidade.com.br