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O espaço é seu

"Brüno": o terrorista da tolerância

21.08.09

Incômodo e apelativo, "Brüno" é também o terrorista da tolerância

Desde que o mundo é o mundo, a homossexualidade é motivo de piada. Dos recreios escolares aos programas de TV, o sujeito nem sequer precisa sentir atração pelo seu próprio sexo, basta aparentar sentir, e ele se torna o alvo permitido para toda sorte de gozação.

"Brüno" inverte esta equação. A caça se torna o caçador.

E, talvez pela primeira vez na história do humor, a vítima da gargalhada é o homofóbico, não o homossexual. É por isto que o filme vem causando tanto desconforto. "Brüno" expõe a homofobia latente que persiste até nas pessoas mais liberais.

O personagem é um catálogo de clichês gays elevados à enésima potência. Mas também tem a autoestima nas alturas, passando a léguas da culpa e da sensação de marginalidade que se costuma associar aos gays. É um super-herói para os que ainda estão no armário.

Brüno atropela com glamour todas as barreiras culturais. Sobra para todo mundo: negros, árabes, judeus. Mesmo a canhestra tentativa de "corrigir" sua orientação sexual é motivada por sua sede de fama, não por qualquer sentimento religioso ou de inadequação moral.

Brüno apanha e volta com ainda mais força a ser o que já era. Sim, o filme é extraordinariamente apelativo. Há uma cena em que um pênis aparece em close, "dançando" e "falando", e tudo indica que o dito cujo pertence mesmo ao ator Sacha Baron Cohen.

Também é leviano e superficial: Brüno tem uma tendência a transformar as questões mais sérias em simples dilemas fashion, tipo isto-não-combina-com-aquilo, "hellooo"?

É difícil crer que, após "Borat", as pessoas "reais" que aparecem em cena não desconfiem que estão sendo feitas de bobas. Mas, no meio de tanta provocação há, por incrível que pareça, uma mensagem subliminar de paz e amor.

Lá pelas tantas, Brüno vai ao Oriente Médio e tenta convencer palestinos e israelenses a esquecer a cafonérrima disputa por terras.

Estúpido. Mas o mundo seria um lugar melhor se eles seguissem sua sugestão e trocassem receitas de húmus. Brüno é o terrorista da tolerância.

Por Tony Goes, diretor de criação da Publicis


Este artigo foi escrito para a Folha de S.Paulo

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