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O espaço é seu

Primeiras impressões de um brasileiro na Espanha

13.03.09

Quando me perguntarm por que ia sair do Brasil, respondi: e por que não?

Meus primeiros 100 dias na Espanha  dão a impressão de que foi uma idéia bacana.

A primeira coisa que senti ao mudar de país foi me obrigar a ver as coisas do ponto de vista prático. Me parece uma época legal para jogar fora e me livrar de tudo o que é inútil. Tudo o que é lixão.

No momento em que você começa a fazer suas malas, por exemplo. Sabe aquelas camisas lindas que a sua sogra te deu de presente no Natal? O porteiro do seu prédio vai adorar.

E o que dizer dos seus CDS? O que já está no seu HD ou no seu iPod, viaja contigo. O resto, que você sempre deixava para passar para mp3 um dia, você logo pensa: não devem ser bons mesmo. Então: desencana.

Os livros que o Bill Gates dizia que eram imprescindíveis em 2005? Bom, você já sabe o que fazer.

Fazendo isso, primeiro você sente pena. Mas logo, aparece uma sensação de liberdade. Em uma época em que todos têm medo de que nos tirem coisas, por que não ver a vida só com o essencial? Só com as melhores ideias. Só o melhor do melhor.

Quantos sapatos você tem? Quantos você usa? A perfeição não é ter mais o que acrescentar e sim não ter nada que eliminar, dizia Saint-Exupéry.

Menos é mais. Quanto menos tens, de menos dependes.

Me lembro de quando saí da DM9 depois de 7 anos. TInha 2 caixas de uns 30kg cada com livros, papéis, ideias etc. Levei pra minha casa e até hoje não abri. E também não me faz falta.

Já outras coisas sim, me dão saudade. Por exemplo: perder o Carnaval. Este artigo escrevo numa terça-feira de Carnaval, em Madrid. Dia de alegria no Brasil. E dia de nada mais que uma terça-feira, na Espanha.

Mas se perco o Carnaval do Brasil, ao menos ganho todas as sextas da Espanha.

Me explico. É impressionante como os espanhóis têm amor pelas sextas-feiras. Às sextas, as reuniões são mais rápidas. A galera não perde tempo e tenta ser o mais produtiva possível pela manhã,  porque vai sair as 3 da tarde. Sim, as 3 da tarde. E isso é maravilhoso.
 
Isso me deu uma ideia: E se trabalhássemos todos como se trabalha numa sexta-feira na Espanha? Ou seja: com a produtividade de quem tem vontade de sair cedo da agência. Mas com a alegria de quem sabe que amanhã é sábado de descanso. Dia de ver os amigos. A família. O Atlético de Madrid perder mais uma vez (é o Corinthians daqui).
 
Se fizéssemos esse esforço, trabalharíamos menos e produziríamos mais. Porque ser eficaz não é o mesmo que ser eficiente.

Peraí: fazer menos não é vagabundagem. É fazer menos trabalho inútil. É concentrar-se no que é mais importante. Em ser produtivo. Não em estar ocupado.

Como dizia Bruce Lee: Não é uma questão de acumular, mas eliminar.

Não se trata de aumentar a cada dia, mas diminuir a cada dia.
 
Por exemplo: se o mercado publicitário começasse a se concentrar no que realmente é importante, não perderíamos  tempo com as reuniões intermináveis e seus power-points impagáveis.
 
Não perderíamos tempo falando mal dos nossos colegas nos sites especializados (com exceção daquele artigo do publicitário mais humilde do mundo, claro).

Também não perderíamos tempo com os festivais malas, que só nos pedem dinheiro e não dão notoriedade. Ao contrário, só nos tiram a autoridade na frente dos nossos clientes, cada vez mais desconfiados.

Se só nos concentrássemos no que é realmente importante, poderíamos até voltar aos anos dos poucos e bons festivais.

Não perderíamos tempo falando da crise (enquanto você fala dela, Juan Cabral deve estar falando com outro Gorila).

Assim, sendo ainda mais otimista, poderíamos voltar quem sabe à época onde o dono da marca aprovava a campanha porque, porque, porque ele gosta da campanha e pronto.

Que tal voltar à época do feeling? Da gente objetiva. Que tem culhão. Como o dono da Diesel que diz que colocou o nome Diesel porque achava que era universal, tinha a ver com ele, era um nome curto e também, claro, porque ele queria e pronto. Sem pesquisa. Sem pré-teste. E deu no que deu.

Podem ser idéias tontas de um brasileiro chegando a Espanha?
Perdoname. Hoy es Carnaval todavia.


Miguel Bemfica - diretor geral de criação - Delvico - Madrid


Comentários

You can call me Jay - Parabéns pela decisão de ir, meu amigo. O medo pode ser tanto um freio de segurança, como também o combustível para acelerar mais e mais... Vai fundo ! Mostra para nossos hermanos o que é que o brasileiro tem ! Abraço, J


Duque -  Miguel, que belo texto. Você disse tudo e mais um pouco. A salvação criatividade na propaganda depende muitíssimo da manifestação de pessoas como você. Porque, porque, porque está cada dia mais difícil aguentar esses "porquês". Abraços.


Bruno - Bom texto e boa sorte aí na Espanha.


Kairós - Downsize to perfection.


Marcio - Chega de blablabla mesmo. Isso deveria ser publicado como manifesto em todos os jornais. Exemplo a ser seguido não só na publicidade mas na vida. Abraços


William Samuel de Mattos - Sucesso pra você Miguel!! Pra mim o Sábado também é o dia de descanso.


Fernando Cabral - Porra, como é bom ver isso de um profissional premiado e reconhecido como você. Porque quando é um peixe pequeno que expressa uma opinião parecida logo é taxado de vagabundo, contra-producente, malandro e daí pra baixo. Eu também acho que podemos ser mais produtivos, usando melhor o tempo ao invés de usar todo o tempo. Tudo de bom para você, cara! E parabéns!


Jackeline Fernandez Monte Santo - Mestre é sempre mestre!!! Ótimo texto!!! Abraço! Jackie


Fernando Lima - Queria viver essa msma terça de carnaval aqui, Miguel. É que na terça de carnaval no Brasil a gente já tá pensando no power point da quinta de cinzas. Uma pena. Sucesso.


Evandro Lima -  tem Todinho aí Miguel. Sou amigo do paulo e ainda tô com essa encomenda pra te entregar hehehe suerte...



 

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