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O espaço é seu

Redatores, diretores de arte ou o que mesmo?

14.08.07

"Estou completando felizes cinco anos nessa minha nova terra, uma terra que me recebeu tão bem e de onde não pretendo sair.

Para comemorar esse lustro, gostaria de falar um pouco sobre o meu ofício e sobre como ele está sendo tratado, não só por aqui, como em diversas outras importantes cidades do Brasil.

Nesses cinco anos de Ribeirão, atuando como redator, diretor de criação e sócio fundador da Alta Comunicazione, uma coisa que vem me impressionando muito é a quantidade de currículos que chegam até mim trazendo no campo do objetivo profissional a seguinte inscrição: 'Atuar na área de criação e marketing de vossa renomada e conceituada empresa'.

Sabe o que eu faço quando vejo um currículo assim? Deleto. Isso mesmo. Não consigo aceitar que um candidato, seja ele um profissional com alguma experiência ou um estagiário sem experiência, saia da faculdade sem saber se sua vocação está mais para os desenhos, para as letrinhas, ou qualquer outra coisa dentro do universo dos sei lá quantos 'pês' do marketing.

Concordo que alguém poderia dizer que esse candidato só vai tomar ciência de seus dotes na prática, mas aí eu lembro que a maioria das agências de propaganda, assim como outros segmentos do mercado, não tem mais tanto tempo disponível para observar esse desenvolvimento.

Infelizmente, a capacidade do estagiário ou colaborador de qualquer nível, hoje em dia, tem que ser percebida desde o primeiro dia de trabalho, ou melhor, desde o envio do currículo, ou melhor ainda, desde bem antes da escolha do seu curso universitário.

Não sei se estou celebrando a data de uma forma apropriada, mas alguém precisava falar sobre esse assunto, ou melhor, escrever, e estou me arriscando porque tenho comprovado que as faculdades não estão ensinando artimanhas básicas, como por exemplo, enviar um currículo bem redigido, eficaz, provocante e que se destaque de fato.

Artifícios simples como instruir os alunos para que desde a hora de redigir um currículo incorporem o espírito de um marqueteiro experiente e busquem alternativas diferenciadas, capazes de tocar o frio e estressado coração do avaliador que está do lado de lá, se é que ele tem coração.

Um dado curioso é que recentemente contratei uma redatora, ainda com pouca experiência, simplesmente porque  me chamou a atenção o que estava escrito em seu currículo, em letras vistosas e negritadas: "Atuar na área de criação, especificamente redação'!

Conclui se tratar de uma autodidata e conseqüentemente uma grande promessa para nossa área, pois foi uma das poucas pessoas que se tocou que a faculdade é muito importante mas não é tudo.

Ela percebeu que entregar a responsabilidade do sucesso a uma faculdade é colocar a carreira em risco. Uma faculdade não inventa o profissional de redação ou de direção de arte. Acreditar que ela possa fazer isso é acreditar que uma faculdade poderia ensinar ao Ronaldinho jogar futebol, a Chet Baker destilar My Funny Valentine no trompete, a Picasso pintar Guernica, Machado de Assis a escrever Memórias Póstumas de Brás Cubas, e até mesmo ao Chico Xavier, psicografar.

Certa vez, ainda quando tinha paciência e tempo de vasculhar num mundo de currículos homogêneos, chamei uns três candidatos daqueles com objetivos não identificados. Durante a entrevista perguntei propositalmente a cada um deles se o objetivo era atuar na área de criação ou na área de redação. Nenhum respondeu redação! Todos queriam criar!

Ora, acho que muito desses candidatos se esquecem que Nizan Guanaes, Neil Ferreira, Washington Olivetto, Eugenio Mohallem, entre muitos outros bem sucedidos publicitários são redatores. Até mesmo eu sou redator, e posso dizer que muito bem sucedido, também, simplesmente por ter o privilégio de trabalhar com bons amigos; por trabalhar com uma equipe e uma agência que vêm se destacando cada vez mais, uma agência que em apenas 3 anos já é considerada uma das mais criativas e eficientes de todo o interior; por não precisar pegar mais o trânsito infernal da Marginal Pinheiros; por ter uma família sensacional e uma qualidade de vida insuperável.

Por isso, mais do que diretor de criação e empresário, sou redator desde criancinha, e cada vez mais apaixonado por esse ofício que me conduziu, depois de trabalhar com alguns daqueles redatores citados ali em cima, a uma vida muito feliz aqui nessa cidade.

Redação é criação, redação é a transformação de letras em imagens, é a transformação de palavras soltas em conceitos e conceitos em vendas para o cliente. Feliz da agência que tem um diretor de arte que pense letras, e um redator que pense imagens, e que depois os dois misturem tudo e façam nascer a sacada capaz de solucionar o problema do cliente e, conseqüentemente, trazer prêmios e reconhecimento para a agência. 

É essa a verdadeira química que constrói a história da propaganda, os cases de sucesso.

Então, gostaria de deixar uma dica para aqueles que, por algum motivo, não receberam a informação ou faltaram na aula dessa matéria: na hora de enviar currículo, preste muita atenção no preenchimento do objetivo profissional. Falando nisso, os interessados para a vaga de redator podem enviar currículo para o email: trabalhecomagente@altacomunicazione.com


Por Zeppa Tudisco

Ribeirão Preto


Comentários

Maurício Filho - Meu caro num país onde as pessoas não entram numa livraria sequer pra se proteger da chuva significa dizer que tem coisa muito pior ainda nessa sociedade. Se as faculdades são ruins as gerações de estudantes são piores, perdem o tempo cultuando o "carpe diem" nos botecos falando mierda...e o pior, tem muita gente assim se tornando Profissional e ganhando muito bem por isso; ou seja, pra fazer a mesmice burocrática.

Robson - Uma ótima crônica, que corresponde muito a realidade, infelizmente. Já trabalhei com estagiários que não tinham a menor noção do que gostariam de fazer na área, que entraram praticamente outro dia na faculdade e estavam na agência "só pra ver como era". Resultado: não faziam e nem aprendiam nada, pois como foi muito bem citado, a correria e o estresse não ajudam muito na hora de passar o abc. Meses depois, o estagiário em questão era dispensado da agência ou saía por conta própria acusando a empresa "de não ter lhe ensinado nada". Que a sua mensagem chegue a todos os estudantes, para garantir a nossa sanidade mental, hehe


 

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