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O espaço é seu

'O cliente tem sempre a culpa...'

14.04.04

"Como publicitário, acho que me encaixo no quadro dos criativos idealistas.
Sou daqueles que piram e vão até outro planeta buscar a melhor idéia para o cliente.
Muitas vezes tive idéias reprovadas, algumas por serem realmente alienígenas, mas outras por puro gosto e capricho do cliente.
Isso me revolta, e em várias revoluções de mesas de bar, participei de projetos terroristas contra os clientes que querem ser publicitários por um dia, ou por uma campanha inteira. Mas será que os atentados fariam efeito? Acredito que não, pois o problema está além do cliente, mas não é nada de outro mundo, Freud explicaria.
Quando vamos a um médico, ele não puxa uma maleta de trás de sua mesa e a coloca à nossa disposição para escolhermos qual remédio queremos. Imagine o diálogo:
- Eu tenho para você comprimidos amarelos, azuis e rosas. Qual prefere tomar?
- Putz doutor, não gosto de amarelo...
- Então fique com o rosa, eles são pequenos e fáceis de engolir.
- Pô, rosinha doutor?
- Ok. Você toma remédios no trabalho, em restaurantes, realmente comprimidos cor de rosa seriam uma afronta à sua posição na sociedade. Fique com o azul, eles combinam com a sua gravata e, afinal, azul é cor de homem.
Para não dizer que essa fórmula de comparação com médico já é manjada e não tem nada a ver, pensei em outra.
Imagine um momento um pouco menos racional, o casamento.
O padre chega para os noivos e diz:
- Declaro-os marido e mulher. Pode beijar a noiva. Mas temos também a opção de bater no sogro, ou ainda, se preferir, pode beijar a irmã da noiva, que por sinal é muito bonita.
Essas atitudes estragam o mercado. Gritamos para todo mundo escutar que somos profissionais de comunicação e, por isso, somos nós, e não o cliente, quem entende de comunicação.
Porém, mesmo parecendo radical, não acho uma atitude profissional deixar uma campanha depender do gosto, do capricho e até mesmo do humor do cliente.
Parece um absurdo, mas muitos profissionais de atendimento e de criação acabam fazendo isso. Levam cinco opções para o cliente, sendo que ele sempre preferirá aquilo que já está em sua mente, o comum a ele.
Até o dia em que uma nova agência o surpreenda, abra seus horizontes e ele nos chute para outro planeta. Aí, além de publicitários revoltados, nos transformaremos também em pobrecitários".
Luiz Henrique
luiz.h@ig.com.br

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