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'Dona Esmeralda, mãe do gordinho'
"Quando morei em Nova York, há alguns anos, conheci uma senhora muito simpática, Dona Esmeralda, no curso de inglês e cultura geral que eu frequentava lá na 23, entre 5ª e 6ª Avenidas. Me lembro que eu segurava um convite para uma exposição de campanhas pró e anti-tabaco, promovida pelo The One Club, ali pertinho, na 21. Claro que estava todo empolgado e ela acabou sabendo que eu era estudante de Comunicação, que queria ser publicitário, que a profissão tão íntima daquela cidade me fascinava, que eu queria entrar numa agência de propaganda. Foi quando ela me disse que o filho dela também era do ramo. Ele era redator. Era inteligente. E, principalmente, 'um ótimo profissional, mas está muito gordo. Já falei isso pra ele'.
No começo achei engraçado e até um pouco estranho ouvir sobre excesso de peso no meio daquele papo, mas depois vi que era tudo normal. Normalíssimo: era mãe falando de filho. E isso me fez parar para pensar em uma coisa que é óbvia, todo mundo sabe e alguns colocam em prática muito bem, como as próprias bandas promovidas pelo Umbigos de Fora: existe vida além da propaganda. Acho isso complicado na teoria. E mais ainda na prática. Afinal, quanto mais referências, melhor a pessoa e o profissional. Isso minimiza vícios na carreira e muitas chatices que vão se grudando no corpo e na alma de quem não se renova.
Economista que só fala de números é chato. Quem só fala de dieta é chato. Gente que só fala de religião é chata. Que só fala de política também. Cara de 19 anos que enche o saco de uma senhora simpática e só fala de publicidade é chato. Futebol, roupa, dinheiro. Tudo isso, quando é assunto único, fica chato.
É claro que a Dona Esmeralda nem tinha intenção de me fazer pensar nisso tudo. Ela simplesmente estava falando da vida. E a vida, pelo menos a que eu imagino ideal, é sempre muito mais do que um único assunto. Ler os jornais todo dia, as revistas semanais e livros com temas diversos são três dicas que todo mundo ouve até na faculdade e já viraram clichês. Mas são um começo excelente. Depois, é claro, tem as viagens, o consumo musical, gastronômico e o insubstituível consumo visual, de graça.
Tem o oficial, nas lojas, revistas e galerias de arte. Tem o oficioso, nas ruas, nas pessoas e nos 'Basquiats'. É só ajustar o olhar e saber curtir. Um amigo meu, por exemplo, que acabou de voltar da Europa, para onde foi a trabalho, adorou o 'roteiro de pobre' que fez, lotado de novidades, que não consegue fazer quando viaja com a mulher e com a filha. Dá sempre para extrair muita coisa legal de quase todas as situações. E isso, digo mais uma vez, enriquece.
Reconheço: imaginar Dona Esmeralda dizendo que o filho publicitário era muito bom, mas que estava gordo, tudo na mesma frase, dá até pra supor que o cara não tinha lá muito o que mostrar além da barriga. Mas não é isso que está em questão. Apenas acredito que essa teoria meio batida e totalmente despretensiosa, de multiplicar temas e vivências, serve de incentivo para encontrar realização de forma ampla. Dá pra ser feliz no trabalho e fora dele. Dá pra falar de trabalho e não só dele. E, vamos respeitar, Dona Esmeralda é mãe do Nizan".
Bruno Israel, redator da WE - Parcerias Estratégicas em Comunicação