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Para o Miro, com carinho
Vou falar por mim, mesmo sabendo que compartilho a mesma opinião com outros membros da equipe que também participaram de todo o processo (campanha de Prisma, da Chevrolet).
Conheço o trabalho desse monstro da fotografia desde quando era aspirante a assistente-de-arte, nos meus primeiros anos de estágio. A admiração vem de longa data, mas não é por isso que me tornarei suspeito ao escrever.
Campanha criada, aprovada, agora é hora de produzir. Quem vai fotografar essa insanidade que não dava pra layoutar e por isso ilustramos do jeito que deu? Só poderia ser ele, o monstro, o irretocável, o preciosista, o incansável Miro. A notícia veio meio que de sopetão. O Miro vai fotografar a campanha de Prisma. Quase gozei.
Chegou o dia da reunião de pré. Estou atrasado, que merda, o cara deve estar espumando de raiva de cima do seu altar de mármore Carrara.
Abri a porta, entrei e foi do alto dos meus 1,70m de altura que finalmente conheci o monstro sagrado da fotografia olhando pra cima. Sussurrando algo que não consegui entender. Que merda, o cara tá gripado, não consigo ouvir uma palavra. Mas ele sorriu, acho que isso é um bom sinal. Achei estranho, esperava encontrá-lo em cima de um pedestal grego iluminado por holofotes com luz contra para formar uma silhueta imponente e prepotente. Enganei-me.
Viajamos para o Rio de Janeiro para fotografar, achei que antes do trabalho daria para correr na praia encolhendo a barriga e vendo umas gostosas, enganei-me novamente, ficamos enfurnados no estúdio por intermináveis 3 dias. O bronzeado ficou por conta do canhão de luz de infinitos milhões de watts. E lá estava ele novamente, o monstro da fotografia. Porra, mas cadê o pedestal grego? E ao cumprimentá-lo pensei em oferecer meu tablete de pastilhas Vick para a garganta, já que ainda não dava para ouvi-lo.
E o trabalho começou, prelight com 70 figurantes, e não é que têm umas gostosinhas aí no meio. E a zona começou, que pena que não com a mulherada. Era muita gente pra coordenar, quase que sem pensar começei a pôr ordem naquele mundo de pessoas. Você abaixa, você levanta, você aí, no fundo, dá pra parar de falar? Loirinha, vira de costas, não pra mim, pra ele, eu sei que ele tá te encochando mas fazer o quê? Antes você do que eu.
Mas que merda, acho que tô fudend
o set de fotografia, vou lá pedir desculpas. Miro, desculpas mas foi quase que por impulso, ele disse alguma coisa que confesso não ter ouvido mas ele novamente sorriu. Pelo jeito não se ofendeu. Pelo jeito esse cara é diferente.
Nos dias seguintes a coisa ficou mais complicada. Além dos figurantes, aquele exército de personagens. Tudo estava muito interessante até o momento em que encontrei no banheiro o padre com a batina levantada ao lado do saci com o shorts arriado. Voltei para o set desnorteado, mas vamos lá, ainda tem muito trabalho pela frente. Miro, será que eu posso posicionar essa galera? Obrigado.
Padre, você empurra a mãe que empurra a chata da noiva. Mas é chata mesmo. Você aí, segurando a bola, vai empurrar esse seu amiguinho, o quê? Mas tá doendo muito? Então abaixa mais um pouco e me avisa quando a perna começar a formigar. Mosqueteiro, acorda aí, segura o Papai Noel pra ele não cair.
Crianças, a fome é psicológica, olhem para a frente. Coelhinha, vira de costas pra cá, isso, mais um pouquinho, mais, mais, mais, mais
obrigado, Senhor. Japonês, já falei pra tirar as mãos do peito dela. O resto olha pra frente e empurra. Palhaço, dá pra parar de olhar pra câmera? Tá bom, faz o que você quiser.
E a sessão de fotos começou. Polaroids pulavam como folhas de Xerox, o cheiro da química daquelas fotografias me dava um barato maneiro. Parecia sonho. Registrado no papel ainda melado estavam os personagens milimetricamente posicionados, iluminados divinamente como se tivessem sido pintados à mão por um artista do surrealismo. Peraí, eu tenho de achar um defeito, entre tantos personagens algum tem de estar mal iluminado, mas que merda não tem.
Droga, deixa eu olhar de novo. Achei, tem um figurante aqui no fundo que está piscando. O quê? Ele não está piscando, é uma sujeira no Polaroid. Bom, então pra mim está perfeito. Como não está? Você ainda quer fazer mais uns ajustes e tirar mais uns polas, bom, pra mim tudo bem, quantos mais? Uma, duas, três dúzias, caramba esse cara deve ter cobrado uma fortuna... vi meu salário gasto em Polaroids.
Ufa, chegou a hora de fazer os cromos 5x6, certo? Entendi, não vamos fotografar em 20x25 porque não tem disponível no mercado. Não precisa pedir desculpas, pra mim 10x15 está mais do que ótimo. Agora eu tinha entendido por que tanto Polaroid, vamos economizar nos cromos que são mais caros. Os flashs disparavam como metralhadoras. Será que estou sob o efeito alucinógeno da química ou estou ficando surdo? Só consiguia ouvir o click da máquina que disparava harmonicamente como um tic-tac de um relógio suíço.
O momento era divino, pelo menos o silêncio era de uma capela. Ao fundo ouvia-se uma voz não ouvida antes. Porra, mas quem é que está sussurrando?
Miro, é você? O que eu estou achando? Estou achando tudo muito lindo. Claro, você tem razão, vamos mudar de lugar. Ótima idéia. Muda aqui e ali e mais uma centena de clicks foram disparados. Agora eu via meu salário anual nas caixas de cromo.
O quê, Miro? Que é isso, cara. Somos nós que temos de lhe agradecer.
Pára! Agora chegou minha vez. Obrigado, mil vezes obrigado pela dedicação, pelo companheirismo, pelo profissionalismo, pelo talento e principalmente pela humildade e respeito, seus e de toda a sua equipe.
Caramba, estou cansado. Vou tomar uma água. Com licença, pirata, você pode me passar um copo? O quê? Quem é o fotógrafo? É o Miro, o monstro sagrado da fotografia. Se ele é o nosso Miró? Pra falar a verdade, ele me pareceu bem surreal.
Adriano Alarcon - diretor de arte da McCann
Leia mais sobre a campanha de Prisma (incluindo making of) aqui e aqui.
Comentários
Raphael Quatrocci - Esse Alemão é uma figura. Parabéns pela campanha cara, abraço. rquatrocci@neogamabbh.com.br
marcelo nunes - putz que campanha massa, tudo lindo...parabéns atodos bandits@terra.com.br