O espaço é seu

"Por que Lula não caiu?

Parecia óbvio. Denúncias de corrupção na Veja; escândalo do mensalão na Folha; flagrantes de pagamento de propina, fartamente exibidos ao longo do Jornal Nacional, na TVGlobo.

Era líquido e certo. Com a imagem do governo e do PT arranhadas pelas denúncias do deputado federal Roberto Jefferson, a popularidade do Presidente Lula iria despencar.

Afinal, 'a opinião pública perplexa exigia explicações'.

Perplexa estava, perplexa ficou.

Na avaliação dos principais institutos de pesquisa do país, o presidente Lula mantém sua imagem bastante preservada dos últimos acontecimentos.

Mas será que este povo não está vendo isso???, muitos se perguntam.

Até está, mas com base na realidade de um outro Brasil.

Na era do conhecimento, a chamada opinião pública não se constrói estritamente a partir das informações transmitidas pelos chamados formadores de opinião.

Pesa, e muito, na avaliação do eleitor brasileiro, o que acontece a sua volta: as políticas sociais do governo em áreas carentes e populosas, os resultados na educação e na saúde. Isso tudo ao lado das informações que lhe chegam por um emaranhado de avenidas, onde circulam zilhões de mensagens, num vai-e-vem frenético, todos os dias.

A intensa capilaridade social também permite que grupos organizados, como sindicatos, igrejas e partidos políticos - com ou sem acesso à tecnologia digital - disseminem a informação por caminhos ditos alternativos.

É natural que, diante de tamanho bombardeio, o eleitor defenda-se, passe a filtrar todo este conteúdo e, após reprocessar os dados recebidos forme então sua opinião própria.

Para o eleitor brasileiro, sobretudo, o da base da pirâmide, o que importa são resultados concretos. E é nas áreas da educação, saúde e combate à pobreza que, de uns tempos pra cá, o governo tem garantido um bom desempenho.

Segundo revelam pesquisas qualitativas, o brasileiro passa ao largo das questões éticas e dos desdobramentos dos escândalos incensados pela grande mídia. É pragmático, sem deixar de ser honesto, precisa sobreviver.

Aliás, historicamente, ele passou sempre ao largo de alguns direitos básicos como saúde, educação e emprego. E, agora, vê no poder um representante com quem se identifica, à sua imagem e semelhança.  Em que pese os graves problemas de gestão, a enorme burocracia, a lentidão nas votações da Câmara e do Senado e as denúncias de corrupção, ainda em fase de apuração.

Não raro, é comum se entreouvir no meio do povo comentários do tipo: 'o governo tem problemas, mas pelo menos está fazendo alguma coisa'.

Um dado interessante da pesquisa Sensus/CNT mostra que para 64,7% dos entrevistados a prática do mensalão já foi utilizada por outros governos. E se a esta opinião somarmos o dado de que para 67% das pessoas ouvidas o deputado Roberto Jefferson falou a verdade, fica ainda mais fácil entender a 'blindagem' do presidente Lula.

Os meios de comunicação têm uma enorme capacidade de propor temas, não de formar opinião.

Cada um faz a própria digestão das informações e as retransmite da forma que entender.

Fluxos retransmitidos do mesmo modo por muitos indivíduos acabam contaminando a opinião popular e formando a opinião geral.

Que venha a próxima pesquisa."

Por Carlos Alberto Bruno
carlosalbertobruno@gmail.com

Comentários

AOC - A mídia parece descontrolada diante dos fatos. Sempre procurando furos jornalíticos. Excessivos comentários sobre o assunto com opiniões que nem sempre são aceitas pela maioria. Isto parece mostrar apenas o negativo. Falta ponderação, melhor análise. A notícia correta deve sempre apresentar dois lados. No caso, o que o Presidente tem feito no seu dia-a-dia não foi levado em consideração. Como boa parte dos cidadãos, procuro filtrar as notícias e não aceitá-las sem um questionamento. Portanto, o texto do Carlos Alberto Bruno é muito válido.

armando.caldas@ig.com.br