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A pergunta que não quer calar

Sobre Cervejas e o Conar

31.05.07

"Domingo último, no caderno Cotidiano, da Folha de S.Paulo, havia uma matéria sobre as possíveis (prováveis) restrições à propaganda de bebidas alcóolicas. Vocês leram? 

Achei engraçado que, na opinião de todo mundo, o Conar é conivente com a classe publicitária por ser auto-regulamentado.

Nós que vivemos a relação diária com o Conar sabemos que isso não é verdade, e que comerciais são tirados do ar pelos motivos mais banais do mundo, sejam eles de cerveja ou de qualquer outro segmento, sem que haja nenhum protecionismo de classe. Muito pelo contrário: não tem discussão e a decisão é muitas e muitas vezes contrária a nós.

Aí, na mesma matéria da Folha, a reportagem diz que o Conar informou nada ter a declarar sobre o assunto. Como assim? Não caberia um esclarecimento para a população? 

Esse é só uma desabafo, mesmo, mas se você quiser dizer o que acha sobre essa questão pode ser interessante. Acho que precisamos pensar melhor sobre esse mercadinho onde a gente trabalha". (João)

Se quiser comentar, fique a vontade.


Para ler a matéria da Folha, na íntegra, siga em frente. Não está em forma de link porque aí o acesso seria restrito a assinantes do jornal ou do UOL.

Cervejarias se acusam por consumo abusivo
Empresas trocam denúncias e afirmam que campanha alheia é antiética e incentiva uso exagerado de bebida alcoólica


Para psiquiatra, briga revela que fabricantes consideram que publicidade de cerveja provoca grande impacto sobre volume consumido


DANIEL BERGAMASCO
DA REPORTAGEM LOCAL


Todas são pedra e todas são vidraça na guerra travada pelas grandes cervejarias no balcão de reclamações do Conar (Conselho de Auto-Regulamentação Publicitária).

Na troca de denúncias, fabricantes de marcas como Skol, Nova Schin e Kaiser se acusam por fazer campanhas "antiéticas" que incentivam o "consumo irresponsável" e "exagerado" de cerveja.

As queixas contradizem o Sindicerv (Sindicato Nacional da Indústria da Cerveja), que critica a restrição da publicidade do produto imposta pela Política Nacional sobre Bebidas Alcoólicas, lançada na quarta-feira pelo presidente Lula. O sindicato argumenta que a propaganda de cerveja só define o tamanho das fatias do mercado, sem aumentar o bolo, ou seja, a quantidade de litros vendidos.

A AmBev fez o maior número de denúncias no Conar contra as concorrentes nos últimos meses. Fabricante da Brahma -da campanha "Zeca-feira", que "cria" mais uma sexta-feira na quarta para "happy hour" com o produto-, a empresa considerou que uma peça de propaganda da marca Nova Schin "induz ao consumo abusivo de cerveja".

Suspenso após a denúncia da AmBev, o anúncio veiculado trazia a frase "Nova Schin - Os dermatologistas recomendam não tomar sol entre as 10h e as 16h [Não saia do bar. São ordens médicas]".

Em outra reclamação, a mesma AmBev disse que uma promoção da Kaiser ("Bote no cofrinho do Pânico") tinha "apelo ao consumo, uma vez que incentivava o público a tomar cerveja para juntar tampinhas e participar da promoção". A campanha foi feita em associação com o humorístico "Pânico na TV", exibido pela RedeTV.

Já a Kaiser denunciou a AmBev pela campanha do Boteco Bohemia, festival anual de gastronomia, com shows de música, que elege o melhor quitute de boteco da cidade, "por incentivar o consumo exagerado de bebidas".

Para o psiquiatria João Carlos Dias, do Departamento de Dependência Química da Associação Brasileira de Psiquiatria, "a briga mostra como as cervejarias estão erradas ao dizer que a publicidade aumenta a participação no mercado e não o volume consumido. Ao trocar essas acusações nos bastidores, elas acabam concordando com as nossas alegações de que a publicidade de cerveja tem grande impacto sobre o consumo".

Sérgio Ramos, presidente da Abead (Associação Brasileira de Estudos do Álcool e outras Drogas), também critica as empresas. "Todas as cervejarias têm razão nas denúncias: a propaganda incentiva o consumo abusivo", diz. "Não sei se as louraças que infestam as propagandas não conseguem excitar o público masculino, especialmente os adolescentes. Deixar o Conar, órgão de publicidade, tomando conta disso é deixar a raposa cuidando do galinheiro", afirma Ramos.

Gilberto Leifert, presidente do Conar, não quis comentar o assunto. A assessoria de imprensa do conselho diz apenas que a troca de acusações entre concorrentes faz parte da rotina do órgão e que são mais comuns, por exemplo, na área de telefonia do que na de bebidas alcoólicas.

Criado em 1980, o Conar é financiado pela contribuição de agências de publicidade, veículos de comunicação e anunciantes. O órgão julga denúncias oferecidas por cidadãos, empresas associadas ou por seus técnicos, que monitoram a adequação dos anúncios às regras do mercado.


Apelo sexual
A Schincariol, fabricante da Nova Schin -que exibe comerciais estrelados pela cantora Ivete Sangalo com as pernas de fora-, acusou a Skol (AmBev) por propaganda em que, segundo a queixa relatada pelo Conar, "insinua êxito sexual após o consumo de cerveja e contém elevado grau de erotismo". A peça em questão, intitulada "Bingo", é protagonizada por um grupo de idosos, que, com as latinhas de cerveja na mão, dançam e paqueram.

A Folha procurou as assessorias de imprensa da Kaiser, da AmBev e da Schincariol. Apenas a primeira respondeu. "Não existe troca de acusações, apenas pedidos de ajustes das peças publicitárias", diz a resposta da Kaiser.


Comentários

Galego Ribeiro - Até agora nenhum grande órgão ligado a nossa atividade, a não ser os próprios anunciantes, se pronunciaram quanto a isso, o que, convenhamos, é um absurdo. Nossa classe não se posiciona para nada. Assunto algum parece nos interessar, nos incomodar. E assim vão surgindo os Marcos Valérios da vida e nossos profissionais vão sendo tachados como anti-éticos e imorais. Talvez os grandes órgãos de propaganda e seus líderes devam achar que não é chique, não tem glamour entrar em brigas, fazer valer o seu direito ou se defender de acusações infundadas. Pelo menos não tem o mesmo glamour de ir a um evento como uma entrega de prêmios do CCSP ou da ABP. Aliás, pensando bem, por que vamos reclamar com relação aos problemas dos nossos anunciantes se não nos dignamos nem a resolver os nossos? O mercado todo é uma zorra. Não há direitos trabalhistas, não há respeito entre patrão e empregado, não há proteção aos profissionais que, de fato, são formados e preparados para trabalhar em propaganda. Realmente, se quisermos ser coerentes, temos que ficar parados, sem fazer nada, como agimos diante de todos os problemas. gribeiro@ddb.com


Monica Resende - Concordo com o Galeno e a matéria está ótima. Sou professora de Etica e legislaçao publicitária e garanto que ate os estudantes da área (que estão começando) também acham absurdos e abusivos os comerciais que mostram a mulher como objeto, pra citar um exemplo. Agora há pouco, os alunos buscaram anuncios que desrespeitam o Conar e encontraram pérolas como a da Schin, com a palavra TESAO em letras garrafais e no lugar do A uma mulher de biquini. "Pra bom entendedor, meia palavra basta". Realmente. É estarrecedor que os próprios publicitários nao queiram admitir que as campanhas (quase todas) de bebidas incentivam não só o consumo abusivo, mas também uma visão machista e ultrapassada. "Zeca-feira? me poupem! monica@yellowgroup.com.br


 

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