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Inspiração e intercâmbio

Japan House SP: da arte do bambu ao Studio Ghibli

02.05.17

Projeto bancado em grande parte pelo governo japonês, a Japan House São Paulo abre suas portas oficialmente neste sábado, 06, com uma exposição sobre a ligação do bambu e a história do país e com uma apresentação especial e gratuita de Ryuichi Sakamoto, junto com o músico Jun Miyake, no domingo 07, no auditório Ibirapuera. Mas há mais de um ano ela vem investindo em comunicação para que a proposta despertasse a atenção do público mesmo quando ainda não havia casa, teto ou mesmo nome.

Instituição dedicada a mostrar o Japão contemporâneo, o projeto é uma iniciativa global do Ministério dos Negócios Estrangeiros do país (ou MUFG, na sigla adotada pelos japoneses). Além de São Paulo, Londres e Los Angeles terão uma Japan House, todas criadas para inspirar, ampliar o conhecimento sobre a região e promover intercâmbios de ideias e negócios. Mas a estrutura brasileira – que atenderá também a América Latina – é a primeira a ser entregue. Pelo lado de business, uma das novidades será a abertura de pop-up stores da Muji e da Beams Japan ainda este ano.

É importante ressaltar que a Dentsu Inc é a responsável pela administração do empreendimento no Brasil, direito que conquistou após vencer uma licitação no Japão. O governo japonês está investindo US$ 30 milhões no projeto, verba que será aplicada até 2019. “Estamos inaugurando um modelo de instituição, de intercâmbio cultural. Ele é colaborativo. O objetivo é que seja uma plataforma para japoneses se expressarem e trocarem ideias”, reforça Ângela Hirata, presidente da Japan House São Paulo.

A casa, instalada em um espaço anteriormente ocupado pelo Bradesco, na avenida Paulista, terá uma programação intensa de mostras, palestras, workshops. A atividade que abre essa grade é a exposição Bambu – Histórias de Um Japão, que tem apoio do Ministério da Cultura brasileiro e patrocínio do Bradesco, da Mitsubishi Electric e do MUFG. “Conhecer essa ligação é uma oportunidade de ver a identidade e a história japonesas. O bambu está presente da gastronomia às artes visuais, das artes marciais à tecnologia”, conta o diretor de programação Marcello Dantas, que já foi diretor artístico do Museu da Língua Portuguesa.

Uma parte da exposição reproduz uma floresta de bambu para remeter à instropecção. Nessa sala, o visitante poderá contemplar, deitado, uma edição do filme O Conto da Princesa Kaguya, de Isao Takahata, do Studio Ghibli. O trabalho do lendário estúdio, que tem obras como Meu Vizinho Totoro, Viagem de Chihiro e O Castelo Animado, poderá ser apreciado em vitrines que mostram uma seleção imagens usadas para a animação e uma sequência do filme.

Economia criativa

Dentre as áreas que ganharão espaço na programação da nova estrutura estão tecnologia, design, arquitetura e mobilidade. “Não se trata de um projeto para um segmento, mas para a sociedade. Nosso assunto é a vida. Teremos soluções e pensamentos filosóficos para melhorar a vida”, explica Dantas.

O Studio Ghibli terá mais uma participação na Japan House. No início de junho o espaço organizará uma palestra do diretor de arte Takanori Aoki, indicado pelo próprio Takahata, para falar sobre o estúdio de animação. Na área de design, a casa terá uma exposição em julho que abordará a história do papel e sua utilização nas artes. E outra que tratará da arte da prototipagem, com projetos surgindo do uso de impressoras 3D.

Outro trabalho que promete chamar atenção é o Architecture For Dogs, um projeto de casas de cachorro feitas por nomes consagrados do Japão. A coordenação é do japonês Kenya Hara, produtor geral da Japan House, que é dog friendly (confira um vídeo sobre o Architecture For Dogs mais abaixo). Esse trabalho faz parte das peças da campanha de mídia out of home que a Dentsu Brasil criou para a Japan House.

Hara faz questão de esclarecer que o objetivo da instituição não é levar o que os brasileiros já conhecem do Japão. “Antes os eventos ficavam focados em workshops de origami, roupas tradicionais. Ninguém no Japão faz origami todo dia. Aquelas luminárias famosas só se usam em barracas. Nós precisamos rever o Japão e mostrar que somos criadores. Vamos levar para o mundo esse lado e, para isso, estamos fazendo uma seleção rigorosa do que apresentar”.

Dantas, por sinal, aponta que foi Hara quem deu a “senha” para a equipe da Japan House criar experiências para o público. “Temos de sair do ‘wow’ e buscar a curva do conhecimento que faz com que as pessoas digam ‘I see’. Buscamos a vivência não por um splash, mas por um processo construtivo”, acrescenta o brasileiro.

Estratégias de comunicação

Fora a campanha que já começou em São Paulo, a Dentsu Brasil tem feito outros trabalhos, como ações digitais.  Nos últimos anos a Dentsu Inc, de Tóquio, acompanhou de perto o planejamento da equipe brasileira que tocou o projeto, com conferências por telefone constantes. Nely Caixeta, diretora de comunicação, conta que muito da estratégia foi discutido com a Dentsu, como a criação de pré-eventos para chamar atenção. Apesar disso, ela diz que a direção da Japan House SP sempre teve liberdade para elaborar as ações para despertar o interesse pelo novo espaço.

Em janeiro de 2016, foi feito um pré-lançamento em que se comunicou a ideia do que seria a casa. Mas o fato é que ainda não havia o espaço. “Uma das primeiras discussões que tivemos foi se o nome seria em português ou em outra língua. No final, decidiu-se por Japan House porque a proposta é global”, detalha. A marca foi criada por Hara. Como ainda não havia muita coisa para ser mostrada, a ideia foi destacar as pessoas que faziam parte da construção do projeto. Entre elas, Hara e o arquiteto Kengo Kuma, que projetou a Japan House SP e está se dedicando ao Estádio Nacional do Japão, escolhido para ser o palco central dos Jogos Olímpicos de Tóquio, em 2020.

A Japan House foi apresentada em outros eventos da cidade de São Paulo, como um Festival do Japão e na SP-Arte. Mas ações também foram programadas, como a distribuição de flores de Makoto Azuma, artista que montou buquês que são carregados por 30 ciclistas que percorrem pontos importantes de São Paulo. Criou-se, assim, um jardim efêmero. A ação Flower Messenger (veja em vídeo mais abaixo) se encerra no domingo 07, dia em que Ryuichi Sakamoto se apresentará no Ibirapuera em um concerto em homenagem a Tom Jobim, que terá ainda Jaques Morelenbaum e Paula Morelenbaum.

Sakamoto faz sua segunda apresentação desde um longo processo de tratamento contra um câncer - seu primeiro show depois disso foi no Japão. Autor da famosa trilha do filme Furyo - Em Nome da Honra (Merry Christmas, Mr. Lawrence), em que atuou com David Bowie (confira o vídeo), o músico não gosta de viagens de longa distância, porém Dantas conseguiu convencê-lo. Sakamoto é um grande apreciador da Bossa Nova. Fazer o vínculo entre Brasil e Japão por meio de Tom Jobim o levou a aceitar a proposta.

 

Lena Castellón

Inspiração e intercâmbio

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